quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Notas soltas sobre os abrigos pastoris do Prado do Vidoal

 


Um dos objectivos do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), na sua génese, é a preservação na História do território onde se implementa. Infelizmente, desde o princípio, muitos dos objectivos do PNPG ficaram por se cumprir e a preservação - ou estudo da História - é um deles.

De facto, o PNPG apenas preserva aquilo que está à vista! Não é que espere ver um Indiana Jones com o seu típico chapéu e chicote a calcorrear as serranias geresianas ou do Parque Nacional, mas quando o financiamento do PNPG é medíocre, não se pode esperar muito.

Desta forma, muito do património histórico edificado vai-se perdendo ou esquecendo, pois mesmo a memória dos mais idosos vai-se esvanecendo e com ela a História do território.

E a História está em todo o lado, apenas precisamos de estar atentos. Em muitos currais podemos observar os velhos abrigos pastoris, memória secular da presença do Homem nestas serranias. Refúgios para as frescas noites de Verão, estas construções podem ser vistas, juntamente com os seus currais (se for o caso) como o testemunho mais antigo da milenar relação entre o Homem e as montanhas do Parque Nacional.

Estes abrigos podem também ser os últimos vestígios das velhas tribos nómadas que há milhares de anos deambulavam por estas serras. Os abrigos que agora conhecemos são antigos e alguns terão o testemunho da sua construção. Porém, existem vestígios em alguns lugares que nos mostram que a ocupação de alguns currais é, de facto, muito anterior há existência dos actuais abrigos pastoris.

Um destes exemplos é o Prado do Vidoal, na Serra do Gerês, onde podemos facilmente assinalar três fases de ocupação do prado. A imagem seguinte mostra a localização do que penso ser os restos de velhos abrigos (A, B e C) e o conhecido abrigo pastoril do Vidoal (D).


Os restos dos abrigos A e B são típicos dos fornos pastoris da Serra do Gerês, isto é, uma base circular que mostra ter havido ali uma estrutura em forma de falsa cúpula. O abrigo B encontra-se mesmo numa elevação e tira partido de uma rocha na sua parte Poente. A abertura do abrigo A estaria voltada para Nascente.


Restos do abrigo A


Restos do abrigo B


Restos dos abrigos A e B

Por seu lado, o abrigo C tira partido de uma grande rocha a Nascente e a colocação das pedras mostra perfeitamente a sua entrada. Este abrigo deverá representar uma segunda fase de ocupação do local.


Restos do abrigo C

O abrigo D é o mais actual e representa uma fase mais recente da ocupação do prado. Este abrigo foi construído em 1953 e poderá tirar partido de uma construção anterior, talvez edificada pelos Serviços Florestais.



O actual abrigo pastoril do Prado do Vidoal. Na fotografia nota-se a presença de um alinhamento de pedras que poderão ter pertencido a uma edificação anterior e que serviu de base para o actual abrigo.


A gravação '1953' em baixo relevo indica o ano de construção / aproveitamento do abrigo pastoril. De notar a presença de símbolos (ómega, cruz templária? e outros)


Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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