Este mapa mostra os perímetros florestais da Serra do Gerês e de Terras de Bouro em 1939 e da sua análise tiram-se interessantes conclusões sobre o que na altura se pensava que seriam os planos de expansão dos Serviços Florestais neste território.
O perímetro assinalado no mapa expande-se muito para lá do perímetro estabelecido pelos Serviços Florestais em 1888 naquilo que se chamaria a "Mata Nacional do Gerês", abrangendo já territórios da Ermida e da Vezeira de Fafião (inseridos no concelho de Terras de Bouro).
Observação interessante relaciona-se com as Casa Florestais já construídas (Pedra Bela, Vidoeiro, Pereira, Assureira, Ermida, Lamas, Leonte, Albergaria, Palheiros, Bouça da Mó e Junceda) e com as Casas Florestais que estavam previstas para construção (Água da Pala, Ovos, Malhadoura, Pássara e Escuredo).
Existem ainda três construções assinaladas (Prados da Messe, Abrótegas e Cidadelhe) que são muito interessantes.
Nos Prados da Messe é sabido que esta construção chegou a concretizar-se, sendo finalizada em Setembro de 1908, tal como Tude de Sousa refere no seu livro "Mata do Gerês": "Não havendo nenhuma casa, ou abrigo, para o pessoal florestal na extensa zona da serra alta, desde a Pedra Bela aos Prados, havia sido solicitada a construção de uma pequena casa no curral dos Prados, que foi feita neste ano (1908). Sendo certo que nenhuns trabalhos haviam sido ainda por ali realizados, não era menos certo que aquela parte da serra era de elevada importância, por ser um dos mais aproveitados centros de pastoreação dos gados vizinhos e ainda por ter a curtas distâncias bons núcleos de arborização espontânea.
Ao mesmo tempo, aproveita-se a oportunidade de prestar um bom serviço aos vezeiros de Vilar da Veiga, a quem o usufruto do curral pertence e cujas boas relações de vizinhança convém absolutamente manter, proporcionando-se lhes melhor acolhida do que a que o seu forno lhes dá, o que se fez, destinando-se-lhes metade da referida casa, que em Setembro ficou já concluída."
A existência de um edifício na Água da Pala também pode ser demonstrada. De facto, junto à ruína do que terá sido o edifício de apoio aos cantoneiros que cuidavam da estrada mineira, existem os restos de uma edificação que poderá ter sido erguida anteriormente pelos Serviços Florestais. Aliás, em tempos chegou-me a ser referido que aquele zona terá servido de viveiro florestal e de facto parece lá existir uma área onde isso possa ter ocorrido. Em "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", refiro que "em tempos terá servido de curral para abrigo dos rebanhos de cabras, tal como é referido num artigo publicado no Século Ilustrado em Março de 1955, tendo também servido como armazém relacionado com a exploração mineira ou manutenção do estradão por parte de cantoneiros."
Nas Abrótegas não parece haver qualquer edificação. Porém, e se atendermos a que a localização no mapa pode estar errada por umas centenas de metros devido à sua escala, encontraremos em Lamas de Homem os restos de uma edificação. Em "Uma antiga construção em Lamas de Homem?" chego a referir que "ao contrário do que acontece com o edifício que em tempos existiu nos Prados da Messe e do qual restam as ruínas (tendo sido construído pelos Serviços Florestais em finais do século XIX ou princípios do século XX), não existe nenhuma referência à presença de um edifício em Lamas de Homem." Com o mapa em cima, vejo agora que estava errada e que de facto este poderá ter sido um edifício dos Serviços Florestais ali construído.
Note-se que algumas das casas florestais estavam já ligadas por telefone (Albergaria com Palheiros, e Casa da Administração Florestal com Pedra Bela, Ermida, Pereira, Assureira, Lamas, Vidoeiro e Junceda) e que projectava-se a construção de uma linha que iria ligar às casas que estavam projectadas (Assureira para Pássara, da Pedra Bela para Ovos, da Albergaria para Água da Pala, Abrótegas, Prados da Messe e Cidadelhe).
O mapa revela o pormenor interessante da estrada que apenas ligava as Caldas do Gerês à Portela de Leonte, havendo o projecto de se prolongar a estrada para Albergaria, seguindo depois para a Portela do Homem, mas continuando Vale do Alto Homem acima até às Abrótegas. Aqui, a estrada iria flectir a Sul, seguindo na direcção de Cidadelhe e Prados da Messe, continuando no que parece ser Conho, Lomba de Pau, descendo para o Vale de Teixeira e prosseguindo até Lomba do Vidoeiro e conectando com a estrada na Pedra Bela. A estrada seria concretizada em 1942/1943 com uma empreitada da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda. que iniciaria a mineração de volfrâmio em larga escala na Mina do Salto do Lobo (Minas dos Carris)
De notar que em 1939 ainda não estaria completa a estrada entre as Caldas do Gerês e o Campo do Gerês (S. João do Campo).
Fotografia: ICNF
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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