Foi uma caminhada curta de pouco mais de 5 km pela Mata de Albergaria e Costa de Bargiela (Varziela) através de um velho carreiro que nos pode levar até à Portela de Leonte, ao Pé de Cabril ou para Junceda. Desta vez, percorri pouco mais do que a distância até à Chã de Bargiela.
A saída faz-se junto dos Viveiros das Trutas na Albergaria e, depois de passar a ponte de madeira sobre o Rio Maceira, segue-se costa acima através de um velho caminho que vai subindo a encosta por entre um maravilhoso bosque. Logo ao início, fui saudado pela tranquilidade e movimento silencioso de um pequeno esquilo, e ao longo do dia, os sons do bosque foram surgindo das mais diferentes formas com a passarada a merecer lugar de destaque através de uma infinidade de cantos nestes dias de uma Primavera esquizofrénica.
A parte inicial da subida leva-nos por um velho bosque, memória dos tempos antigos em que grande parte do Norte de Portugal se encontrava coberto por paisagens que hoje apenas resistem em locais como este. No cansaço da subida, paramos por uns minutos e fechamos os olhos... é agora o sentido da audição que nos guia, mesmo estando parados. A pouca distância, o restolhar das folhas açoitadas ao de leve pela brisa que torneia os velhos troncos. Por entre o murmurar do Maceira e do Homem tentamos escutar o menor som que nos diga que não estamos sós na nossa solidão por entre este mar de verde. Desejamos ter um vislumbre de uma corça, o rosnar zangado de um javali ou o cantar de um pássaro mais tímido. Abrimos os olhos e de repente, pelo canto do olho, parece termos visto um pequeno duende ou uma fada que se esconde por entre um tronco caído de um velho carvalho ou se encobre sobre o espesso musgo que tapeteia as rochas dispersas pelo chão húmido do bosque... Ao longe, uma águia canta. Ao longe, o som inaudível de um uivo...
À medida que o caminho sobe a paisagem vai-se transformando e deixando ver os altos que reinam sobre o vale que se afunda para a Albergaria. Por outro lado, a Serra Amarela vai ganhando corpo por entre a folhagem. Com a vegetação muito fechada, toda a atenção é pouca para não perder de vista o carreiro que nos conduz por entre grandes rochas, pequenas chãs e pequenos bosques que dão um cenário muito especial a este percurso.
Chegado à Chã de Bargiela - Curral de Bargiela, com o seu abrigo pastoril alagado e onde há muito um imbecil roubou a placa identificativa do local, surgem duas opções: ou descer para a estrada através da Costa de Bemposta ou prosseguir na direcção do Curral do Mourinho. Decidi-me pela segunda opção, pois sabia que ainda iria encontrar um ponto de água e esta já escasseava apesar de não ser um dia quente.
O ponto de água encontra-se um pouco acima do Alto do Vale dos Porcos e depois de abastecer e saciar a sede, voltei para o ponto de partida fazendo o percurso inverso.
Uma nota para finalizar: não posso deixar de sublinhar que ao longo deste trajecto notei que muitas pequenas árvores encontravam-se partidas como que a abrir ou assinalar caminho...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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