sexta-feira, 27 de maio de 2022

Serra do Gerês - Da Portela de Leonte à Pedra Bela

 


Este é um percurso linear não sinalizado na Serra do Gerês que liga a Portela de Leonte à Pedra Bela com passagem pelo Curral de Teixeira.

Foi na Portela de Leonte que a 11 de Outubro de 1970 se procedeu ao descerramento de uma placa e á inauguração de uma pequena estátua que assinalou a implementação do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Na altura, a ideia era criar (tal como aconteceu décadas mais tarde noutros locais) uma 'Porta' de acesso ao Parque Nacional. Tal como aconteceu recentemente com a placa de boas-vindas à freguesia do Campo do Gerês, também a pequena estátua da corça ali existente foi vandalizada, sendo posteriormente removida pelo PNPG.

Esta caminhada levou-nos até ao recém melhorado Miradouro da Pedra Bela através dos carreiros de montanha que nos permitem a ligação através do Vidoal, Preza e Vale de Teixeira. Subindo o velho caminho em direcção à Cha do Carvalho, só nos podemos admirar com o trabalho ali feito pelo homem serrano ao criar um caminho lajeado com grande pedras que facilitavam o acesso aos pastos de altitude. Nos nossos dias, é difícil compreender o caminho que os pastores faziam com os seus animais desde os longínquos lugares de Vilar da Veiga e da Ermida para chegar aos prados na serra. A não existência de estradas e a rudeza da orografia do terreno, faziam com que a vezeira fosse uma actividade cuja dureza é hoje difícil de explicar por palavras quando esta, e bem, é comemorada todos os anos.


De facto, a Festa da Vezeira representa em si uma verdadeira luta de sobrevivência de uma actividade importante para a economia local e representa também uma vitória contra a intenção de se terminar com esta actividade tal como ocorreu há já mais de uma dúzia de anos quando o então ICNB (Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade) preconizava o fim desta actividade para transformar o Parque Nacional da Peneda-Gerês num couto de ambientalismo radical e extremista que foi sempre a causa de uma fraca relação entre o PNPG e as gentes locais. 

A subida pela Costa do Morujal leva-nos então a passar pela Chã do Carvalho subindo um caminho que nos permite ir ganhando altitude à medida que o Pé de Cabril se vai afundando na paisagem. Esta, alarga-se nos seus horizontes permitindo-nos ver as alturas da Serra Amarela no Alto da Louriça e do Muro, e os contornos longínquos da Serra do Soajo e da Serra da Peneda, entrando Galiza adentro. Para Sul, o Vale do Rio Gerês abre-se e afunda-se na albufeira da Barragem da Caniçada, tendo como pano de fundo a Serra da Cabreira.

O Prado do Vidoal (ainda tantas vezes confundido com o Mourô), surge-nos como um oásis verde por entre a rudeza granítica que nos rodeia. À sombra do Outeiro Moço, a paisagem é soberba levando-nos desde o Pé de Salgueiro e Carris de Maceira, passando pelo Cantâro, Roca d'Arte, Cabeço de Lavadouros, (Cabeço de Cinzeiros ?) e pelas fragas que antecedem o Borrageiro. O prado oferece-nos uma paisagem bucólica com o seu abrigo pastoril recuperado (ou construído) em 1953. Mais adiante, e já encaminhados para o Colo da Preza, passamos por uma pequena mancha de teixos e azevinhos à medida que a paisagem se desloca e nos oferece uma diferente perspectiva da Roca d'Arte, deixando-nos vislumbrar o alagado Curral de Lavadouros.

A chegada ao Colo da Preza dá-nos uma das mais belas paisagens da Serra do Gerês com o Vale de Teixeira em todo o seu esplendor primaveril. As abrótegas preenchem a pequena chã onde ainda encontramos um dos antigos marcos de delimitação da área do perímetro florestal do Gerês estabelecido em 1888. Descendo para a Garganta da Preza, passamos pelo alagado Curral do Junco e começamos a caminhar junto do ribeiro até chegarmos ao Curral do Cambalhão. De novo, o bucolismo e a tranquilidade do lugar enche-nos a alma e permite-nos momentos de contemplação perante o colosso granítico que dá o nome ao lugar. De facto, o Cambalhão surge como um titã que guarda o curral com os seus velhos carvalhos e com uma fonte de água fresca que ajuda a enganar a sede que vai surgindo na manhã quente.

Deixando para trás o Curral do Cambalhão, seguimos então na direcção do Curral de Teixeira, um dos verdadeiros ex-libris da Serra do Gerês com o seu abrigo pastoril à sombra dos grandes carvalhos. Não muito longe, a pequena lagoa encontrava-se tranquila neste dia quente, muito devido às obras de recuperação e manutenção da escadaria de acesso ao Miradouro da Cascata do Arado. Apesar disso, lá foram chegando algumas pessoas vindos daqueles lados.

Após uma paragem para o almoço, subimos a encosta Poente do vale e seguimos em direcção ao Curral da Lomba do Vidoeiro, depois Curral da Carvalha das Éguas e Curral da Espinheira, chegando então à turística Pedra Bela. 

Ficam algumas fotografias do dia...


Natureza morta tendo como fundo o Pé de Cabril


O Prado do Vidoal e o Outeiro Moço


O Prado do Vidoal e o Outeiro Moço


O Prado do Vidoal, a Roca d'Arte e o Cabeço de Lavadouros


O Prado do Vidoal tendo ao fundo o Pé de Medela e Carris de Maceira


O Vale de Teixeira visto desde a Preza


O Vale de Teixeira visto desde a Preza


O Curral do Cambalhão


Lagoa do Curral de Teixeira


O Rio de Teixeira


Lagoa do Curral de Teixeira


Rio de Teixeira tendo ao fundo o Cambalhão


Vista geral do Vale de Teixeira


O Curral de Teixeira


O Curral do Cambalhão

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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