quarta-feira, 9 de setembro de 2020

A terceira fase de exploração e as operações mineiras nas Minas dos Carris nos anos 70 (Parte I)


O final da década de 60 vê sinais positivos na retoma dos trabalhos mineiros nas Minas dos Carris com o aparecimento de novos investidores e o surgimento da figura de Alexander Schneider-Scherbina que terá um papel crucial e fundamental nas operações mineiras entre 1970 e 1974.

Os principais problemas que afectaram a produtividade das Minas dos Carris encontravam-se na falta de mão-de-obra qualificada e falhas no fornecimento de energia eléctrica. O complexo mineiro nunca foi dotado de um sistema de fornecimento de energia eléctrica que estivesse ligado à rede nacional de energia, dependendo do funcionamento de geradores para a sua produção. Nesta altura, a mina estava confinada a uma única linha de trabalhos com um comprimento de 500 metros e uma profundidade de 155 metros. A linha zero era referenciada no velho poço exposto à superfície mas que não era utilizado. Existiam sete níveis com um espaçamento de 25 metros, estando inacessíveis os três níveis superiores. Os trabalhos decorreram nos quatro pisos inferiores e mais activamente no 6.º piso que tinha um comprimento de 500 metros. O acesso e a elevação de todos os pisos, com excepção do 7.º piso, eram feitos através de um poço interno de três compartimentos. Este poço descia até ao 6.º piso ou a uma profundidade de cerca de 100 metros. No segundo piso, o poço abria para uma via-férrea que emergia da colina, sendo depois coberto por uma estrutura pré-fabricada até à lavaria (nova) a uma distância de 200 metros a sudeste na abertura. A elevação era feita através de caixas balançadas que eram controladas por um cabo contínuo operado por um motor de 28 hp. O minério era elevado em vagonetes com 500 kg de capacidade.



Na extremidade Norte do 6.º piso existia uma extensão de 250 metros que fazia a drenagem desse nível para Este. Esta extensão podia ser utilizada para a remoção do minério. A deslocação da lavaria para esse local ou a construção de uma estrada não foi no princípio dos anos 70, considerada economicamente viável. O 7.º piso tinha somente uma extensão de 250 metros e estava ligado ao 6º piso por um poço interno localizado na base do velho poço de extracção. Um guincho operado electricamente elevava o minério do 7.º piso para o 6.º piso, sendo depois extraído para o exterior a partir deste.

Nesta altura, as Minas dos Carris e a Mina de Borrageiros seriam então consideradas como uma única unidade mineira, não sendo incluída a Mina de Mercedes Las Sombras, na Galiza, devido a questões políticas.

Após o retomar das operações mineiras em 1971, o complexo voltou a um esquema de trabalho em dois turnos. Em Janeiro de 1972 ocorreu uma severa tempestade que danificou a lavaria, levando a uma suspensão dos trabalhos durante quatro meses. Nessa altura, a excessiva acumulação de neve levou ao colapso do telhado, provavelmente já de si fragilizado devido a anos de falta de manutenção.


Desde o reinicio dos trabalhos na lavaria em meados de Maio de 1972, o tempo de trabalho foi de 20 horas / dia das 6h00 às 2h00 (conforme referido no Relatório sobre as Minas dos Carris elaborado por Richard A. Mills e Herbert D. Fine a 16 de Junho de 1972 para Jacques Lennon e Agustin Sevilla-Segura). A mina poderia facilmente proporcionar 60 a 70 toneladas por dia de tout-venant caso fosse necessário. A lavaria estava a recuperar uma média de 4 kg por tonelada de minério, tendo proporcionado 7,5 toneladas de concentrados de 73,5% de nível médio por mês, quando as condições operacionais eram normais. O mês de Agosto foi o melhor registado em 1971 quando a lavaria operou a 87,6% do seu tempo operacional previsto. A média de 1971 foi de 71,2%, com o tempo perdido a dever-se a falhas mecânicas, falhas de energia, escassez de minério (causa pouco frequente), falta de mão-de-obra qualificada, bem como devido a trabalhos de manutenção e tempo para instrução e treino do pessoal. Desde o reinício dos trabalhos após a reparação da lavaria, o tempo de paragem foi mantido no mínimo. Os quatro meses que decorreram entre o colapso do telhado e o reinício dos trabalhos foram utilizados não só para as reparações necessárias, mas também para reabilitar, renovar e reacondicionar todo o equipamento da lavaria.

A Sociedade das Minas do Gerez terminara os anos 60 com a ameaça de penhora devido à inexistência de produção nos anos anteriores e à consequente falta de pagamento das obrigações bancárias a que estava sujeita devido ao empréstimo que havia contraído para se financiar. No entanto, antes de se reiniciar as operações mineiras nos Carris nos anos 70, a sociedade mineira irá ver uma nova alteração no seu quadro de sócios através de uma nova cessão de quotas. Esta tem lugar no 12.º Cartório Notarial de Lisboa perante o notário Manuel da Silva Jordão Corado, a 8 de Maio de 1970. Neste acto estão presentes Manuel Maria Mendes dos Santos (administrador de falências da Câmara de Falências de Lisboa, que é outorgado como administrador da falência da ‘Mason & Barry Lt.’), Armando Feliz Pereira (como procurador de José Antunes Inácio) e Alexander Schneider-Scherbina (que juntamente com Armando Félix Pereira era procurador da ‘International Mining Corp.’ empresa do Luxemburgo com sede na cidade do Porto). Nesta altura a ‘Mason & Barry Lt.’, José Antunes Inácio e a própria Sociedade eram os únicos sócios da Sociedade das Minas do Gerez, Lda., com José Antunes Inácio a deter uma quota de 147.000$00, a ‘Mason & Barry’ a deter duas quotas que somavam 555.000$00 (uma quota de 408.000$00 e uma quota de 147.000$00) e a Sociedade a deter uma quota no valor de 98.000$00. O capital social total de 800.000$00 à data era destinado integralmente à lavra de minas.

Continua...

Adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013)

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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