quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Trilhos seculares - A Pala de Carris de Maceira


Por muito que estude a Serra do Gerês,  irão permanecer mistérios para os que depois virão com o mesmo intuito de compreender um pouco mais e melhor aquele espaço. Aqui e ali, encontramos sinais da presença do Homem que por muitas explicações que tentem descrever o porquê das coisas, haverá sempre um pequeno pormenor, um pequeno detalhe que pode, por si só, derrubar qualquer explicação que nos pareça bem fundamentada.

Neste dia decidi fotografar a pequena pala que em Carris de Maceira terá em tempos idos, servido de abrigo a alguém. Não foi a primeira vez que tal construção tosca de chamou a atenção, mas era necessário lá voltar para ter a perspectiva de estar no lugar e ver o que se 'conseguia ver' a partir daquele ponto.

A pala por si só não é nada de extraordinário se a comprarmos com outras construções do género existentes um pouco por toda a Serra do Gerês. Peculiar é, no entanto, a sua localização. Esta, e ao contrário da grande maioria destas construções, está localizada numa laje granítica desabrigada de ventos e tira partido de um pequeno rochedo. que proporciona abrigo a Oeste. O muro de pedra solta, faz de abrigo dos ventos de Norte e de Este, com a abertura sensivelmente virada a Sul. Curiosamente, a pouca distância existe a cabana pastoril de Carris de Maceira que deve ter sido construída no local de um anterior forno pastoril. A existência deste abrigo e desta zona abrigada a poucas dezenas de metros da pequena pala, é o que me leva a questionar qual o objectivo da sua construção? Terá sido um mero abrigo para uma única noite de aflição na serra? Terá sido um abrigo utilizado pelos pastores naquela área? Terá sido uma atalaia?



De facto, a laje granítica permite um vasto horizonte sobre os cabeços alinhados com o Pé de Cabril a Norte, mas falha a profundeza dos vales cobertos de vegetação das matas em Leonte e Albergaria. Por outro lado, o olhar a Sul não atinge grandes horizontes, mas a Norte a paisagem alonga-se às encostas da Amarela e os píncaros do Soajo e Peneda.

Tendo nas proximidades o pequeno prado de Carris de Maceira, não creio que este tenha sido um abrigo usualmente utilizado pelos pastores, pis estes teriam o cuidado de o construir em local mais abrigado e comv visibilidade para o gado que estariam a guardar. Assim, resta-me concluir, mas sem qualquer certeza, que este poderá ter sido um abrigo para suportar a aflição de uma noite de nevoeiro tão cerrado que a recolha das pedras para o muro tosco terá sido feita numa depressão na rocha mesmo ali ao lado, sem se aperceber da relativa segurança e abrigo do Curral de Carris de Maceira.

A chegada a este local pode ser feita a partir da Portela de Leonte e seguindo pela EN308-1 até pouco antes da ponte sobre o Rio Maceira. Aqui, toma-se o carreiro à direita que vai percorrer a margem esquerda do rio até encontrar uma ponte de madeira que nos leva à outra margem. Um pouco adiante, temos a oportunidade de ver a Pala de Maceira e uns metros mais adiante chegamos ao Curral de Maceira. Depois, deve-se começar a subir a encosta direita do Vale de Maceira seguindo por um carreiro que se inicia junto a um grande carvalho caído. Deve-se ter o cuidado de não atravessar o pequeno ribeiro que se encontra à nossa esquerda ou acabamos por seguir o carreiro para a Corneda.



A subida é íngreme na sua fase inicial até às Tábuas, mas o percurso está bem marcado. Finalmente, chegamos a uma parte mais plana que nos permite já uma visão sobre o Vale de Leonte, sobre a fechada Corga do Ribeiro de Cagademos e sobre parte da Mata de Albergaria. Devemos continuar à direita, onde vamos encontrar uma série de mariolas que nos levarão até ao Curral de Carris de Maceira. A Pala de Carris de Maceira irá ficar à nossa esquerda e para lá chegar temos de vencer um pequenos declive que nos leva a uma laje granítica.

Descendo depois ao curral, vamos seguir à direita no enfiamento dos Cântaros que nos devem seguir de ponto de orientação. Em poucos minutos estamos no sopé do Pé de Medela. O percurso leva-nos depois a passar por Carris de Maceira até perto dos Cântaros que de facto ficam do outro lado da corga que desce para o Rio Maceira. Seguindo pela encosta, iremos chegar ao topo do Ribeiro do Porto das Vacas e aqui seguimos o carreiro à direita que nos vai fazer passar «por cima dos Cântaros em direcção ao Curral da Lomba de Pau, mas não sem antes termos a oportunidade de ver o Vale do Rio Maceira em todo o seu esplendor.

Do Curral da Lomba de Pau, seguimos à Chã da Gralheira e descemos à Chã da Fonte, passando depois para a Preza que nos oferece sempre a fantástica perspectiva sobre o Cambalhão (Camalhão) e Teixeira. Daqui, podemos ainda ladear o Outeiro Moço pela esquerda e descer então para o Vidoal, terminando a jornada com a clássica descida para a Portela de Leonte passando pela Chã do Carvalho.

Algumas imagens do dia...














































































































































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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