sábado, 28 de maio de 2016

No forno comunitário de Pitões das Júnias


O dia de hoje seria dedicado a uma caminhada pelas serranias geresianas não fosse a inclemente meteorologia que, apesar de me dar alguma esperança no dia anterior, transformou os céus em cor de chumbo e fazer derramar sobre as terras bátegas de água.

Confesso, não gosto de iniciar caminhadas à chuva e como o dia prometia muita, decidi fazer variações pelas estradas do Couto Misto para os lados de Randin e Calvos de Randin mesmo junto à raia. Antes, porém, uma passagem por Pitões das Júnias que acabaria por moldar o dia. Na visita à padaria local em busca das já famosas 'Bolas de Berlim', foi dito que no forno comunitário da aldeia já ardia o fogo que iria ajudar a cozer o pão 'como antigamente'. A proposta estava feita, mas ainda havia tempo para um pequeno passeio que me levaria um pouco pela história medieval e para épocas ainda mais antigas. Estes registos ficam para outras calendas...

Ora, à hora marcada chegava então ao forno comunitário de Pitões das Júnias. Aqui já se encontravam algumas caras conhecidas da aldeia, pessoas que ajudam a dinamizar aquela aldeia transmontana e que a tornam como um farol na noite do marasmo em que muitas aldeia acabam por viver. Pitões das Júnias tem-se revelado nos últimos anos como um motor na preservação de tradições seculares, da vivência serrana, se bem que muitas vezes este esforço não seja reconhecido por alguma parte da aldeia. Na verdade, talvez isto não tenha muita importância porque aos poucos Pitões das Júnias assume o seu lugar de referência e de visita obrigatória a quem demande pelos limites do nosso único parque nacional.

Em volta do forno que já havia aquecido o interior das velhas paredes graníticas contaram-se histórias e relembraram-se vidas passadas na juventude da aldeia. Enquanto se preparava a massa que dali a pouco seria colocada no interior do forno, eram recordados os dias e noites nas quais os jovens da aldeia se reuniam no forno. Este está situado perto do Largo do Eiró e em tempos servia também de local das conversas comunitárias de outros nas quais se confraternizavam e escutavam as novidades em primeira mão. Este local, utilizado à vez pelas famílias de Pitões para cozer o pão, era também porto de abrigo dos pobres que passavam pelo lugar.

Com a  mestria das mãos da D. Gracinda, as broas de centeio iam ganhando forma e sendo alinhadas no lençol de linho entretanto estendido no granito. Dos quatro cestos que entraram no forno, a massa foi transformada em 51 belas broas que entretanto foram preenchendo o espaço no forno do qual já se haviam removido as brasas e que havia sido limpo com uma singela vassoura feita com pequenos ramos de sabugueiro. Depois, foi só esperar cerca de duas horas e meia à medida que a magia aprisionada no interior do forno ia transformando aquela massa em belas broas. Por entre os minutos que iam passando, ora mais lentamente ora de forma mais rápida, iam surgindo visitas e lendas sobre a origem e formação do Mosteiro de Sta. Maria das Júnias, além de outras histórias também contadas em galego. Tempo também para fazer uma visita ao pólo local do EcoMuseu de Barroso.

Em suma, um dia miserável de chuva acabou por se transformar numa rica experiência das vivências comunitárias de Pitões das Júnias e em duas belas broas de centeio no banco de trás do carro.

Ficam algumas imagens do dia...



























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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