quarta-feira, 22 de maio de 2013

Trilhos seculares - À sombra do Iteiro d'Ovos


Quando com os meus 18 ou 19 anos pela primeira vez peguei numa carta militar, por certo a n.º 30, foram várias as coisas que naquela folha me fascinaram. Este fascínio começou logo com as Minas dos Carris e a emoção de descobrir as Minas do Borrageiro por entre tanto desenho. Depois foram os nomes (topónimos, orónimos) com os quais o homem serrano designou muitos dos lugares da Serra do Gerês. Entre muitos, o nome 'Ovos' despertou-me a curiosidade, mas só passados uns valentes anos é que andaria lá por perto.

Mais «recentemente» o nome Iteiro d'Ovos, na sua forma completa, espicaçou-me a curiosidade para tentar saber a origem deste orónimo. Ora, segundo José Cunha-Oliveira na publicação "Outeirinho, Outeiro" no seu blogue "Toponímia galego-portuguesa e brasileira", iteiro é uma variante dialectal de 'outeiro', 'oiteiro' e 'eiteiro'. Por outro lado, o blogue "Beijós XXI (2005-2009)" na sua publicação "Iteiro" refere que "Normalmente um cerro / morro que se destaca como acidente de terreno. Em várias regiões serviam como limites, términos, marcos da confluência de diferentes territórios, em particular nas civilizações pré-romanas. É esse o significado toponímico de Itero em Castela e Leão."

Vejamos uma interpretação para Iteiro d'Ovos. Sem dúvida que se trata de uma elevação característica naquela zona serrana e a sua localização situação nos limites concelhios de Terras de Bouro e de Montalegre. Uma interpretação mais difícil será os 'Ovos'; penso que este nome poderá estar relacionado com a grande quantidade de pedras que compõem aquele morro ou então poderá estar relacionado com um antigo local de nidificação de aves de rapina. Nenhuma destas tentativas para explicar o nome 'Ovos' tem base científica e é apenas minha especulação.

Vamos então à caminhada de hoje... No total foram 18,3 km com um total de ascendentes de mais de 1.300 metros. O objectivo era atingir o Curral de Iteiro d'Ovos. Tendo percorrido o trilho de acesso ao Vidoal no dia 18 de Maio, decidi enveredar pela subida até ao Curral da Raiz. A entrada para este trilho encontra-se a poucos metros da Fonte da Cantina e quando se começa a subir só o pára de fazer no Curral da Raiz. Assim, há que ter atenção aos pulmões e às perninhas! O trilho tem inicialmente por base um antigo caminho florestal agora destruído devido ao desuso e principalmente devido à erosão. Percorre na maior parte da sua extensão uma mata de cedros e pinheiros que no Verão proporcionam um bom abrigo contra o Sol, especialmente durante a tarde.


Já falei aqui no blogue sobre o Curral da Raiz. Aqui teria duas ou três opções para prosseguir a jornada: seguir em direcção ao Vidoal e daqui passar à Preza e depois Chã da Fonte; seguir em direcção ao Curral do Junco, passar à Preza e depois Chã da Fonte; ou seguir ao Curral do Junco, baixar em direcção ao Camalhão mas antes subir a íngreme encosta até à Chã da Fonte. De todas as opções, esta última seria a mais extenuosa, mas tendo em conta que as outras opções me lavavam por caminhos percorridos à pouco dias, decidi optar pela última opção. Tomando então o trilho a Este no Curral da Raiz, este levar-me-ia rapidamente ao Curral do Junco a partir do qual desço em direcção ao Cambalhão. Já há muito tempo que não passava naquele troço de caminho e fez-me lembrar outros tempos em que as tardes eram passadas no sossego de Teixeira com uns valentes mergulhos na sua lagoa.



A subida até à Chã da Fonte foi necessariamente lenta, pois o caminho e principalmente o declive assim o obrigam e quanto mais não seja, não havia pressa para nada. Há medida que se ia subindo, a paisagem composta pelo Pé de Salgueiro e pelo Junco (Laspedo) ia-se afundando com o Pé de Cabril a enquadrar o Curral do Junco já na parte superior do caminho. Superado este obstáculo, paragem para recuperar forças na Chã da Fonte e para abastecer o cantil com a sempre fresca água que todo o ano brota daquela nascente.

Superada esta fase era hora de chegar à Rocalva. Não tinha interesse em subir ao Borrageiro e assim decidi enveredar pelas Lamas do Borrageiro e rodeando o cume, comecei a baixar em direcção ao Curral da Roca Negra. Porém, aqui fiz um desvio desnecessário que me levou a sair do caminho que queria seguir e depois a ter de improvisar uma busca pelo trilho já na descida para a Rocalva que ladeei pelo Norte entrando já no Trilho da Vezeira que fui seguindo até chegar à descida que me poderia levar para Fichinhas. Aqui, virei a Sul e em pouco tempo encontrava-me à vista do Iteiro d'Ovos. Como referi, o objectivo era chegar ao Curral de Iteiro d'Ovos e pensei que havia lá chegado quando encontrei um pequeno forno encostado a uma pequena encosta. De aspecto abandonado, não me fazia recordar uma fotografia do Francisco Ribeiro, mas pensei eu ser devido à perspectiva. Mas não era, pois este é o Curral de Soengas. O caminho levou-me então pela encosta Oeste do Iteiro d'Ovos até chegarmos ao verdadeiro curral que procurava, este sim fazendo lembrar a fotografia.

Após um pequeno descanso (e mais água!) rumei ao Curral de Vidoeirinho e depois ao Curral de Rocalva, com paragem para o almoço.

Findo o repasto, era hora de decidir por onde continuar: ou Curral do Cando ou Lomba de Pau. Decidi prosseguir pela Lomba de Pau dirigindo-me em direcção ao Conho, mas sem passar no curral. Na Lomba de Pau, virei a Norte para Carris de Maceira onde encontraria a vezeira de Rio Caldo, e depois desci para o Curral de Maceira. A chegada à Portela de Leonte seria feita pela estrada nacional.

Algumas imagens do dia...


























































Fotografias: © Rui C. Barbosa 

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