terça-feira, 23 de agosto de 2011

Pobres federações...


Passados tantos meses desde a publicação da Portaria 138-A/2010, de 4 de Março, continuo a achar impressionante a falta de mobilização por parte dos montanhistas e dos amantes da natureza em relação a este assunto. Mais impressionante e descarado, é o verdadeiro fechar de olhos que as duas federações que supostamente defendem o interesse dos montanhistas têm feito em relação a este assunto. No entanto, se isto me surpreende por um lado, por outro não o fará pois considero-as co-responsáveis pelo actual estado a que chegamos.

Enquanto que um grupo de cidadãos luta pelo direito a um acesso responsável às nossas áreas protegidas, as entidades que deveriam olhar pelos seus sócios nada fazem... e por vezes ainda me perguntam porque não sou filiado em qualquer das federações ou clubes nacionais. Simplesmente porque não servem para nada!

Já por várias vezes referi que o conhecimento da lei é, para muitos de nós, uma faca de dois gumes. Se por um lado sabemos as regras do jogo, por outro temos a obrigação moral de não violar essas regras. No entanto, não deixa de ser penoso ver que outros o fazem sem que as direcções das áreas protegidas actuem, ou então que sejam estas mesmas áreas protegidas e beneficiar algumas associações ou detrimento de outras ao abrigo de critérios que poderão ser no mínimo duvidosos.

Já aqui referi anteriormente que irei continuar a caminhar no interior das Zonas de Protecção Total do Parque Nacional de Peneda-Gerês (que uso como exemplo por ser o meu local de caminhada por excelência). Também já referi que não pedirei autorização para tal porque acho que é uma violação dos meus direitos fundamentais como cidadão livre ser-me exigido um pagamento de €152,00 para simplesmente me analisarem um simples pedido de autorização que pode, por ventura, ter uma resposta negativa. Desobedeço assim a uma portaria estúpida e que de facto consagra que um simples suborno ao estado na figura de uma taxa, poderá ser o suficiente para eliminar a minha possível influência numa área protegida. Com a actual interpretação e implementação de facto da Portaria n.º 138-A/2010, de 4 de Março, o Estado Português está a colocar em risco a vida dos seus cidadãos porque cria uma situação perante a qual os levará a não solicitar qualquer autorização para caminhar em ZPT que contêm zonas potencialmente perigosas. Por outro lado, ao criar excepções, a referida portaria leva a que qualquer tipo de entidade de utilidade pública mas sem qualquer tipo de preparação para actividades de montanha possa um dia ser autorizada a realizar uma actividade no interior de ZPT potencialmente perigosas colocando assim, e mais uma vez, em risco a vida dos cidadãos.

Fotografia © Rui C. Barbosa

3 comentários:

DuK disse...

Caro Rui,

As Federações (duas, até dá vontade de rir) tem o problema delas resolvido, enviam uma lista de actividades anuais que os seus socios (clubes) têm e daí obtêm a devida autorização para as actividades que pretendem realizar.
(uma grande aldrabice, pois o estatuto de utilidade publica não deveria contemplar terceiros, mas enfim)

As empresas de actividades também têm o seu problema resolvido, foram isentas de pedidos de autorização.

Quem sobra...? O mexilhão! Sempre o velho mexilhão.

Esse mexilhão (vulgo cumpridor, pagador e não bufador, de impostos) tem agora de se socorrer de uma empresa de actividades para poder percorrer um caminho que provavelmente conhecerá melhor que o proprio guia, ou então tem de se subjugar à infindavel teia de interesses que move o associativismo nas actividades de montanha.

No que me diz respeito, pessoalmente não me interessa para nada as Federações e até prefiro ve-los longe, envoltos nas suas guerrilhas infantis e improdutivas.

É lá que estão bem... entretanto até vão arranjando umas viagens bem mais baratas à custa dos pagantes...

@guia-real disse...

Rui - concordo!! e continuarei a fazer o mesmo!!

White Angel disse...

Rui,

Já ha um tempinho que não vinha aqui... Para além de tudo que tens vindo a fazer e escrever e que concordo plenamente, devo dizer mais uma vez, que admiro essas tuas atitudes e essa tua determinação. Continuarei, como sempre, a caminhar tal como tu, na minha serra de eleição.

Saudações montanheiras