Carris, 8 de Setembro de 2009
A ideia inicial para este dia era fazer o trilho PR4 Trilho do Rio no concelho de Montalegre. Estava tudo pronto... mochila pronta, vontade de o percorrer, despertador pronto... infelizmente, adormeci!! Solução? De castigo fui aos Carris!!!...
Foi a 144ª visita ao complexo mineiro num dia de muito calor e com uma caminhada a começar demasiado tarde. Por outro lado, também tinha a curiosidade de ver como estava a estrada entre a casa da Preguiça e a Portela do Homem depois da acção 'Vamos Limpar o PNPG - 2009' que teve lugar a 5 de Setembro. Confesso que fiquei muito agradado com o que vi e foi a primeira vez em muitos anos que em quase todo o percurso não vi o lixo que nos saltava à vista. Infelizmente, aqui e ali, de longe a longe, voltam os lenços de papel, as latas e os plásticos, mas no geral dá muito prazer percorrer aquela estrada... pelo menos até daqui a alguns dias. Chegado à Portela do Homem, e apesar de estar muito longe o cenário que se via a 4 de Setembro, lá começam a surgir os sacos de lixo bem atadinhos e arrumadinhos, e os papéis no chão. Realmente, há gente que não aprende...
Iniciei então o meu castigo, a minha penitência por aquele caminho batido pelo Sol e esquecido pelo vento. A Natureza teve pena de mim e ofereceu-me o repasto da água cristalina que brota na Abilheirinha; faltavam ainda muitos quilómetros por aquele longo mar de pedras num vale que ainda nesse dia seria chamado de 'infinito'.
Parando de quando em vez para fotografar a Abilheirinha que se afastava, prossegui o meu solitário caminho elevando-me na montanha. Com um Sol a pique o calor ia aumentado e a vontade de um retemperador mergulho nas escassas águas do Homem... guardaria esse prazer para mais tarde.
Fui passando a Água da Pala e maravilhava-me com os escarpados da Encosta do Sol, salpicados aqui e ali com as memórias e paisagens únicas da Cumeada. O Cagarouço quase sem água clama pela chuva e em certos locais o Homem silencia-se deixando escutar o zombido dos insectos e a fuga apressado dos lagartos. Antes das Febras parei e olhei para a lagoa lá em baixo, como que um chamamento... Em pouco tempo retemperava forças nas sombras do Modorno e pela primeira vez no Verão decidia caminhar em calções... pernas brancas como a cal...
A segunda parte da penitência fez-se mais confortavelmente e em breve chegava ao Teixo pensando já nas Águas Chocas. Foi pouco depois do Teixo que encontrei a Mariana e o Oto que aparentemente já caminhavam em direcção á Portela do Homem vindo dos Carris. Porém, não haviam passado da Ponte das Águas Chocas pois não tinham a ideia de quanto faltava até aos Carris e naquele calor a pequena distância parecia uma longa jornada. Expliquei-lhes que as 'minas eram já ali', como nas explicações de montanheiro onde para nós é quase tudo perto. Convidei-os a caminhar comigo e partimos os três para percorrer o que faltava de caminho. Passamos então as Águas Chocas e depressa chegavamos às Abrótegas onde enchemos cantis e garrafas de água no infante Homem que nasce ali perto.
Da ponte indiquei o marco geodésico dos Carris ali tão perto, mas imensamente longe do olhar... mais ao fundo o Altar de Cabrões. Deixamos para trás o local do acampamento real de 1887 e entravamos no planalto antes da Corga da Carvoeirinha, a última subida antes das místicas Minas dos Carris.
Dirigimo-nos para a represa dos Carris em busca de um ar mais fresco; fomos agraciados por uma brisa. Ali descansei o corpo e a alma perante a imensidão do Gerês apesar de perturbado pelo ruído de uma família junto das águas... Nunca se deve incomodar as águas, pois nunca sabemos quando estas irão reclamar mais almas... Penitenziagite!
Depois de um leve almoço seguimos em direcção ao Penedo da Saudade e daqui a paisagem era soberba. Baixamos até ao topo da Lamalonga e seguimos pelo Salto do Lobo, regressando á Portela do Homem pelo estradão que nos penitencia de todas as vezes que por lá passamos... não há pecado que resista! Penitenziagite!
Algumas fotografias do dia...
Fotografias: © Rui C. Barbosa
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