segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Perdidos... (II)

Acabamos de ser informados com direito a directo nos circos televisivos, que os três caminhantes foram resgatados na Serra do Gerês. Aparentemente a travessia Pitões das Júnias - Carris acabou mal para estes três montanhistas e agora é tempo de pôr as botas a descançar e pensar na próxima caminhada. Mas...

Mas existem alguns pormenores nesta aventura que gostaria de ver esclarecidos a bem de quem costuma calcorrear as nossas serras. As primeiras notícias surgiram na tarde de Domingo e referiam um grupo de três pessoas perdidas perto de Pitões das Júnias. Fazia-se referência também ao facto de estas três pessoas pertencerem a uma empresa que supostamente estaria na Serra do Gerês a fazer um qualquer tipo de avaliação do terreno. Á primeira vista podemos logo pensar que poderiam pertencer a qualquer empresa eólica sedenta pelos pontos altos da Serra do Gerês para ali plantar mais alguma hélices.

Para ser sincero, e pela forma como a notícia foi divulgada, imaginei um grupo que decidira passear pela zona montanhosa perto de Pitões das Júnias e que se perdera devido ao nevoeiro, à queda de neve.

As notícias que se seguiram falavam de grupos de resgate e de um helicóptero que não poderia actuar devido ao mau tempo. Os três montanhistas, por esta altura já eram montanhistas, teriam de ficar a pernoitar na serra. Os dados seguintes apontavam já para uma tentativa de se fazer a clássica travessia entre Pitões das Júnias e a Portela do Homem passando pelas Minas dos Carris.

Experientes de 20 anos de caminhadas os montanhistas estavam preparados para pernoitar entre Pitões das Júnias e as Minas dos Carris. Equipados com tendas, sacos cama de alta, montanha, GPS e outros itens, seria essa já a ideia das três pessoas, isto é pernoitar numa zona na qual não é permitido fazer.

No entanto revelou-se que por muita experiência que um montanhista tenha, esta nunca é garantia de sucesso numa caminhada deste tipo. Desta feita, valeu o GPS com os dados dos quais foi possível fazer uma localização das três pessoas perdidas algures perto do Pico da Nevosa a uns escassos quilómetros das Minas dos Carris.

Este episódio de mais um resgate na Serra do Gerês serve também para alertar as autoridades competentes de que é já tarde para se reformular planos de ordenamento, mas nunca é tarde para se evitar uma tragédia. Pergunto-me o que aconteceria se uma destas pessoas tivesse algum tipo de ferimento que o incapacitasse de caminhar? Pergunto-me o que aconteceria se alguma destas pessoas tivesse um acidente num poço de mina com uma queda assegurada de mais de 70 metros? O socorro era imediato? Como? De helicóptro? E se o nevoeiro fosse persistente? Viatura todo-o-terreno por um caminho no qual se anda mais rápido a pé do que nas viaturas oficialmente autorizadas?

Ainda sobre este episódio vivido na Serra do Gerês pergunto-me qual a origem do notícia que referia que as três pessoas faziam parte de uma 'empresa'? Será que os montanheiros tinham medo de não serem resgatados se dissessem que se haviam perdido durante uma caminhada não autorizada por uma zona de protecção especial? Se sim, qual a origem desta ideia? Estas pessoas serão responsabilizadas por violarem as regras do Parque Nacional da Peneda-Gerês tal como estão referidas no seu Plano de Ordenamento? Se não acontecer, porquê? Será que temos de ter um acidente para nos livrarmos das autuações??

São questões pertinentes que deveriam obter uma resposta a bem da segurança de todos...

Fotografia: © Rui C. Barbosa

17 comentários:

Anónimo disse...

Leiam

http://barrosodigital.blogspot.com/2008/02/o-verdadeiro-relato-dos-3-montanhistas.html

A história parecia muito estranha desde o início. Mais uma vez os jornalistas inventam histórias. A pergunta do Barroso Digital é muito pertinente. Sabendo as coordenadas da localização porque é que o socorro não se fez pelos Carris. Se estavam na zona do Pico da Nevosa estariam a menos de 1 hora do local. A resposta é que muito possivelmente nem um TT chega às minas. Há mais de um ano que um enorme bloco de pedra bloqueia parte do estradão e o PNPG parece não querer saber.Mesmo assim, acredito que motos4 pudessem retirar os 3 de lá facilmente. São 9 kms de estradão até às minas, seriam mais uns 2 a 4 kms e não haviam necessidade deste circo.

Desta vez foram pessoas experientes e equipadas. E se não fossem? Basta apenas dizer que fizeram "asneira". Seria bom que explicasse a asneira de não ser possível fazer um socorro a pouco menos de 1 hora de um estradão. Seria bom que explicasse porque é que o estradão está como está.

Rui C. Barbosa disse...

Louro, são questões interessantes as levantadas no teu comentário. Porém, e a bem da verdade, convém dizer que o acesso por todo-o-terreno é possível pelo estradão do Vale do Alto Homem pois o bloco de granito que lá existe está suficientemente desviado para permitir a passagem dos veículos. No entanto, e mesmo que não estivesse, o problema poderia ser facilmente resolvido. Vê uma entrada neste blogue em Abril do ano passado e verás quatro veículos que passaram por lá...

Agora, o verdadeiro problema é o estado do caminho!!! da maneiro como ele está é mais rápido ir a pé do que de todo-o-terreno e mesmo assim não estou a ver o PNPG a arriscar colocar os veículos naquele caminho com medo de que: a) poderiam não resistir pois já não devem ser veículos capazes de o fazer; b) não tou a ver o PNPG a utilizar as viaturas novinhas em folha naquele caminho para depois levarem um puxão de orelhas do Sócrates (ups!); c) será que ouve receio de as viaturas ficarem presas na neve?

flickring Nemo - Manuel Silva disse...

Vim aqui para via Público Online (onde se têm escrito muitas barbaridades e muitas verdades sobre o caso).
Fiz o meu comentário em http://www.barrosodigital.blogspot.com/.
Aqui gostaria só de comentar o facto da pernoita na montanha. Estava convencido que era autorizada (pernoita, não acampamento). Já não é assim?

Rui C. Barbosa disse...

Dentro da área do Parque Nacional da Peneda-Gerês não é permitido acampar fora das áreas autorizadas. O mesmo acontece com a pernoita ou o chamado bivaque. Esta é uma situação que suponho será contemplada na actual revisão do Plano de Ordenamento do parque nacional da Peneda-Gerês. Note que por lei é proibido o campismo selvagem ou o acampar fora dos parques de campismo.

Fernando Silva disse...

Tenho 43 anos e gosto de aventura e já fiz o caminho até ás minas pela estrada de pedra. só as pessoas podem contar o que aconteceu, mas são 3 e continuar juntos e pedir ajuda não é vergonha nenhuma. O estar na serra neste tempo que parece verão e fica inverno em um picar de olhos é um risco. Mas entre o sofá e a serra eu voto na serra estou triste pelo circo montado á volta deste momento e contente por haver pessoas com o gosto da aventura (ainda se lembram do nossos navegadores?) Cuidado com a natureza não tenham falta de respeito por ela...Ela dá mas tira

Rui C. Barbosa disse...

Tem muita razão pelo que diz. Na nossa sociedade valoriza-se a inércia e o fim de semana dos centros comerciais e dos hipers.

Certamente que não é vergonha pedir ajuda, antes pelo contrário. No entanto convém saber o que realmente se passou e tal como diz, nada melhor do que as tr~es pessoas para contar a verdade do que se passou pois há dados que não batem certo e que podem lançar uma certa confusão sobre toda esta ocorrência.

Anónimo disse...

No meu caso pessoal não chegam os dedos de uma mão para contabilizar as tentaivas para chegar aos Carris desde a Portela d' Homem! No entanto, é como o Rui Barbosa diz, é uma caminhada puxada... e o problema não é tanto subir lá cima, é depois ter pernas para descer!

Aproveito para vos contar o que me sucedeu à dois anos, no verão enquanto subia para os carris. O dia estva lindo, um céu azul, e pouco antes do almoço começamos a subir. Já depois de almoçar começaram-se a notar algumas nuvens e pouco depois a ouvir uns trovões. Mas como na metereologia não dava chuva resolvemos continuar a subida... Pouco antes de chegar aquelas duas pontes de betão sem guardas cruzamos por outro casal de caminheiros de Viana que nos perguntaram se tencionavamos subir. Respondemos afirmativamente tendo eles nos aconselhado a descer pois em breve começaria a chover... E antes de chegar à fonte já começara a cair, miudinha e de repente... chuva como não me lembro de ver e trovões e relâmpagos... ficou mesmo muito escuro, e relembro, era verão, portanto estavamos de T-shirt e calções! Quando chegamos à portela do homem estavamos encharcados e gelados. Em conversa com o tal casal de caminheiros soubemos que no caminho de descida das minas estes se tinham cruzado com diversas pessoas de chinelos, sandálias e alguns, disseram eles, estavam já bastante maltratados! Como é que essas pessoas aguentaram lá em cima? Se para nós já não foi fácil...
Bem! Resumindo, o que eu quero dizer é que realmente à uma grande falta de noção do risco associado à pratica de caminhada na montanha... Mas não deixa de ser Portugal no seu pior...

Anónimo disse...

Viva Rui,

Não imaginava que TT passassem o bloco. Com isso este caso ainda fica mais estranho. Se as viaturas não se puderem arranhar servem para quê?

Rui C. Barbosa disse...

Pois, é uma questão que as autoridades deveriam responder.

Avançando com uma teoria da conspiração... é realmente estranho o facto de não tersido tentado um socorro motorizado através do Vale do Alto Homem. Porém, não deixa de ser intrigante o facto de ainda esta semana terem surgido notícias de que os helicópteros Gromov não podiam ser utilizados (a razão neste momento escapa-me por isso peço a ajuda para me relembrar). Esta situação foi uma boa oportunidade de mostar um Gromov em acção...

Fernando Silva disse...

Não eram nenhuns maçaricos.....
Os bombeiros é que sofreram
Fotos e mais alguma coisa em http://www.maraoonline.com/MARAO/MARAO_online/2317B95C-5E78-4BE7-9C62-2B33306DB9C0.html

HR disse...

o montanhismo é uma coisa séria... as previsões meteorológicas indicavam "estado laranja de alerta", com neve acima dos 1000m. o que estavam estes senhores à espera? quem vai pagar o resgate... penso que este precedente abriu as portas para a obrigatoriedade de seguro... mas se calhar não é tão mau quanto isso!!
parabéns pelo blog
1 abraço,
helder ribeiro
http://trilhosemarcas.blogspot.com

Rui C. Barbosa disse...

Não vou entrar pela questão do pagamento do resgate. Não posso imaginar como é que se pode levantar este problema em situações de socorro. Se assim é tenho todo o direito de exigir que qualquer serviço prestado pelo estado em matéria de socorro deva ser pago pelos sinistrados. O estado já arrecada receita suficiente para suportar este tipo de despesas e com questões desta natureza só me parece ser uma mina de ouro para as seguradores. Daqui a pouco já nada se poderá fazer se não existir seguro para isto ou para aquilo.

Little Devil disse...

Boas!
Bem, meus amigos, quanto á "aventura" destes caminheiros com 20 anos de experiencia, ja pouco posso dizer, embora fique um pouco admirado por "caminheiros experientes" seguirem este trilho com o tempo que se esperava, sem conhecerem a zona.Sim, porque não conhecem. Caso conhecessem,e se o nevoeiro e a neve o impedissem, esperariam pelo menos pelo amanhecer para efectuar a descida..Podendo porém informar as autoridades doque se passava e como iriam actuar. Já fiz esse e outros trilhos para os carris, com chuva, neve, mesmo muita neve e ventos fortes, e nevoeiro, por isso tenho uma ideia do que enfrentaram. Penso que a serra mais uma vez demonstrou a sua força.
Quanto ao "salvamento", só uma palavra em favor dos bombeiros e do parque (por muito que dôa):) o salvamento pelo estradão dos carris dá para fazer com um veiculo TT (digo isto porque pratico e tenho viatura TT a uns anos)porém temos de ter em conta, o tempo.Se já com bom tempo os jipes demoram perto de 3h a 3h30 a subir, com neve seria impraticável. O estado da estrada não ajuda.Por isso, o resgate a pé.

Agostinho Costa disse...

O jornal "Correio do Minho" avança hoje com a notícia de que o resgate custou mais de 15000 euros. Só as 6 horas em que o heli Kamov esteve no ar custou esse valor. Este custo será imputado aos pseudo-montanhistas acidentados. Mas a factura será maior porque aqui não estão contabilizados os custos com o próprio piloto, GNR, bombeiros e vigilantes da natureza envolvidos nesta operação. Vai ficar cara a brincadeira destes senhores "muito experientes" que se meteram na montanha num fim-de-semana em que as previsões meteorológicas informavam tempo muito instável nas terras altas. Ora, não é suposto um montanhista experiente munir-se de toda a informação e documentação do trajecto planeado antes de tomar a decisão de ir para o terreno? Quantos montanistas experientes abortam os seus objectivos devido às condições climatéricas? Mas estes eram experientes, muito experientes, com anos de montanhismo, até em Espanha. Deveras impressionante este currículo. A publicidade excessiva e desnecessária em torno deste caso só vem trazer problemas. Os montanhistas experientes acabaram por confessar que pretendiam chegar às Minas dos Carris. Agora, à custa desta publicidade poderá haver uma maior perseguição a quem quer, de facto, fazer aquilo que gosta. Refiro-me àqueles que se dirigem aos Carris por paixão, por uma quase devoção. Por gosto de pesquisa, por interesse histórico, por puro amor à ecologia. É que a SIC, não mostrou o lado de Montalegre, a não ser o campo de futebol onde o Kamov aterrou. A SIC mostrou grandes planos de Albergaria, da lagoa da Portela da Homem, da cancela no início do estradão. Isso só vai trazer problemas em termos um potencial acréscimo da obsessão de proibição de acesso por aquele local aos Carris. Poderão acontecer autuações a quem de boa fé ousar subir aquele percurso. E, se isso vier a acontecer, pagarão os justos pelos pecadores. A meu ver, quando estes senhores experientes escolhem uma conjuntura meteorológica tão desfavorável para se dirigirem à montanha, arriscando conscientemente a sua integridade física, é porque pretendiam não serem avistados por ninguém, é porque andariam a sondar e a referenciar locais para quelquer projecto menos claro. Sou contra o facto de serem as vítimas a pagarem os serviços públicos de socorro, mas neste caso apetece-me desabafar que é muito bem feito, só pela má publicidade e possíveis consequências nefastas que este início de novela, criada por estes três muito experientes montanhistas pode trazer a quem anda na montanha por puro prazer e muito respeito pela Natureza. Aqui, acima de tudo, houve uma enormíssima arrogância e uma lastimável falta de respeito pela Natureza. A Natureza encarregou-se, uma vez mais, de mostrar a infinita pequenez de que a desafia.

Um abraço para si, Rui.

Agostinho Costa
Vila Nova de Famalicão

HR disse...

como podem ver um seguro até dava algum jeito... a brincadeira vai ficar cara!!!
helder ribeiro

Marco António disse...

Olá,
estou perfeitamente de acordo com quase tudo que foi dito até agora... gostava de conhecer realmente a verdadeira historia...
já fiz varias vezes este percrso, e na última vez, fomos interceptados, ao chegar aos carris, por 2 agentes da GNR e um do ICN, que nos identificou, e nos informou que era proibido andar ali.... estando ainda à espera da respectiva coima.... é bom que se tire esta historia a limpo, li e ouvi muitas palhaçadas....
Abraço,
www.carris2007.blogspot.com

Rui C. Barbosa disse...

Viva Marco!

Será que me pode fornecer mais dados (nomes dos agentes, cópias de autos, etc) sobre a situação a que se refere no seu comentário? Pedia para entrar em contacto comigo através do meu email pessoal.

Obrigado!