quinta-feira, 1 de junho de 2023

Os dias do fim

 


Já tinham havido algumas surpresas neste dia, mas estes momentos definitivamente marcaram a caminhada. Por entre o silêncio e a imensidão das paisagens, ia caminhando encosta acima na ânsia de atingir o ponto mais alto. Dali, teria a visão perfeita para todo o horizonte que se compunha da tempestade que eventualmente chegaria pela tarde.

Numa passada, distingo na distância o vulto deitado nas rochas. Era diferente dos outros, pois a sua cabeça ostentava uma única haste. Ao longe, parecia que a haste do lado direito estava partida, mas assim que me aproximei através do zoom da máquina fotográfica, verifiquei que o caso era outro.

De facto, em alguma altura a haste direita ter-se-á partido ou sofrido um choque que fez com que viesse a crescer para baixo, passando sobre a garganta do animal. Este, aparentava ser já um animal velho que ali contemplava as penedias da Serra do Gerês. Fui-me aproximando de forma silenciosa e obtendo várias imagens para mais tarde recordar estes momentos até que, na volta da grande rocha, deixámo-nos de nos ver mutuamente.

Chegado ao ponto alto, e com visão para na distância conseguir ver o local onde a cabra-selvagem estava, este encontrava-se já vazio. Gosto de pensar que ter-se-á lentamente levantado, apercebendo-se da aproximação da tempestade que dali a minutos chegaria e que tenha procurado um refúgio neste primeiro dos dias do seu fim.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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