quarta-feira, 13 de abril de 2022

Trilho seculares - Pela Costa de Sabrosa a Maceira

 


O som das goteiras lá fora faziam adivinhar o rescaldo da noite de chuva e a luz que entrava pelas portadas, ténue e de tons cinzentos, anunciava que os céus ainda estavam cobertos de nuvens. Nesta altura não chovia, mas o ar pesado de humidade fazia com que assim parecesse.

O mesmo acontecia na Mata de Albergaria. O ambiente fazia com que pensasse se valeria a pena, pois as paisagens seriam em tons de cinza. Que raio! Vale sempre a pena! Mochila às costas e começo a caminhar após saudar os sapadores que passam para mais um dia de trabalho na mata. Insisto em não vestir o impermeável, "Não tarda e as nuvens passam!" Começaria a chover pouco depois... De novo de mochila às costas e montanha acima, o calor começa a fazer-se sentir e o suor começa a notar-se.


As nuvens iam lentamente subindo as encostas com os seus novos tons de Primavera. Certamente que com os dias de Sol irão encher-se de tons fortes, flores e insectos irão começar a azáfama dos dias coloridos. Por enquanto, é a dança das nuvens e da neblina que vai entretendo o olhar nas paragens que vou fazendo. Lá por cima, os altos estão escondidos com densos lençóis de nevoeiro que insistem em não dissipar.

À medida que se vai ganhando altitude, vai-se notando que a vegetação está a crescer a olhos vistos. O caminho continua bem marcado, mas os dias já não tão frios fazem com que a urze e a carqueja vão ganhando terreno... pelo menos até chegar ao domínio das grandes paisagens do caos granítico que produz silhuetas por entre a neblina. Não fosse o ruído do zangado Rio Forno lá em baixo no abismo e o silêncio seria tão profundo como a sensação de o sentir.


A chegada à lameira das Ruivas traz um merecido «descanso» da trepada e a oportunidade de apreciar os cabeços que ora se escondem, ora espreitam por entre os farrapos de nevoeiro que insiste em se colar ao granito. Mais adiante, a visão dos Prados Caveiros é fantasmagórica ainda com os seus tons de Inverno que insistem na luta com as cores da urze que aos poucos conquistam as planuras. Passando o topo da Água dos Vidros, chego à Lomba de Burro e desço para os Prados da Messe.

O azul do céu vai aparecendo pela primeira vez, mas o pesado cinza ainda marca a paisagem quando continuo na direcção do Curral da Pedra e depois para o Porto de Vacas. Em vez de prosseguir para o Conho, decido subir o vale na direcção do topo da Corga dos Cantâros (Corga da Cantâra) e sigo para o Curral de Carris de Maceira após vislumbrar o colosso do Pé de Medela. O Vale de Maceira aprofunda-se na paisagem de forma majestosa com as nuvens a abrir para um céu azul. É constante a luta entre as paisagens que se querem afirmar, mas o dia irá terminar com o Sol a aquecer a pele após a descida para o Curral de Maceira...


































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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