sexta-feira, 8 de abril de 2022

Minas dos Carris - A terceira fase de exploração e as operações mineiras nos anos 70

 


O final da década de 60 vê sinais positivos na retoma dos trabalhos mineiros nas Minas dos Carris com o aparecimento de novos investidores e o surgimento da figura de Alexander Schneider-Scherbina que terá um papel crucial e fundamental nas operações mineiras entre 1970 e 1974.

Os principais problemas que afectaram a produtividade das Minas dos Carris encontravam-se na falta de mão-de-obra qualificada e falhas no fornecimento de energia eléctrica. O complexo mineiro nunca foi dotado de um sistema de fornecimento de energia eléctrica que estivesse ligado à rede nacional de energia, dependendo do funcionamento de geradores para a produção da mesma. Nesta altura, a mina estava confinada a uma única linha de trabalhos com um comprimento de 500 metros e uma profundidade de 155 metros. A linha zero era referenciada no velho poço exposto à superfície mas que não era utilizado. Existiam sete níveis com um espaçamento de 25 metros, estando inacessíveis os três níveis superiores. Os trabalhos decorreram nos quatro pisos inferiores e mais activamente no 6.º piso que tinha um comprimento de 500 metros. O acesso e a elevação de todos os pisos, com excepção do 7.º piso, eram feitos através de um poço interno de três compartimentos. Este poço descia até ao 6.º piso ou a uma profundidade de cerca de 100 metros. No segundo piso, o poço abria para uma via-férrea que emergia da colina, sendo depois coberto por uma estrutura pré-fabricada até à lavaria (nova) a uma distância de 200 metros a sudeste na abertura. A elevação era feita através de caixas balançadas que eram controladas por um cabo contínuo operado por um motor de 28 hp. O minério era elevado em vagonetes com 500 kg de capacidade.

Na extremidade Norte do 6.º piso existia uma extensão de 250 metros que fazia a drenagem desse nível para Este. Esta extensão podia ser utilizada para a remoção do minério. A deslocação da lavaria para esse local ou a construção de uma estrada não foi, no princípio dos anos 70, considerada economicamente viável. O 7.º piso tinha somente uma extensão de 250 metros e estava ligado ao 6.º piso por um poço interno localizado na base do velho poço de extracção. Um guincho operado electricamente elevava o minério do 7.º piso para o 6.º piso, sendo depois extraído para o exterior a partir deste.

Nesta altura, as Minas dos Carris e a Mina de Borrageiros seriam então consideradas como uma única unidade mineira, não sendo incluída a Mina de Mercedes Las Sombras, na Galiza, devido a questões políticas.

Após o retomar das operações mineiras em 1971, o complexo voltou a um esquema de trabalho em dois turnos. Em Janeiro de 1972 ocorreu uma severa tempestade que danificou a lavaria, levando a uma suspensão dos trabalhos durante quatro meses. Nessa altura, a excessiva acumulação de neve levou ao colapso do telhado, provavelmente já de si fragilizado devido a anos de falta de manutenção.

Desde o reinício dos trabalhos na lavaria em meados de Maio de 1972, o tempo de trabalho foi de 20 horas / dia, das 6h00 às 2h00. A mina poderia facilmente proporcionar 60 a 70 toneladas por dia de tout-venant caso fosse necessário. A lavaria estava a recuperar uma média de 4 kg por tonelada de minério, tendo proporcionado 7,5 toneladas de concentrados de 73,5% de nível médio por mês, quando as condições operacionais eram normais. O mês de Agosto foi o melhor registado em 1971 quando a lavaria operou a 87,6% do seu tempo operacional previsto. A média de 1971 foi de 71,2%, com o tempo perdido a dever-se a falhas mecânicas, falhas de energia, escassez de minério (causa pouco frequente), falta de mão-de-obra qualificada, bem como devido a trabalhos de manutenção e tempo para instrução e treino do pessoal. Desde o reinício dos trabalhos após a reparação da lavaria, o tempo de paragem foi mantido no mínimo. Os quatro meses que decorreram entre o colapso do telhado e o reinício dos trabalhos foram utilizados não só para as reparações necessárias, mas também para reabilitar, renovar e reacondicionar todo o equipamento da lavaria.

A Sociedade das Minas do Gerez, Lda. terminara os anos 60 com a ameaça de penhora devido à inexistência de produção nos anos anteriores e à consequente falta de pagamento das obrigações bancárias a que estava sujeita devido ao empréstimo que havia contraído para se financiar. No entanto, antes de se reiniciar as operações mineiras nos Carris nos anos 70, a sociedade mineira irá ver uma nova alteração no seu quadro de sócios através de uma nova cessão de quotas. Esta tem lugar no 12.º Cartório Notarial de Lisboa perante o notário Manuel da Silva Jordão Corado, a 8 de Maio de 1970. Neste acto estão presentes Manuel Maria Mendes dos Santos (administrador de falências da Câmara de Falências de Lisboa, que é outorgado como administrador da falência da ‘Mason & Barry Lt.’), Armando Feliz Pereira (como procurador de José Antunes Inácio) e Alexander Schneider-Scherbina (que juntamente com Armando Félix Pereira era procurador da ‘International Mining Corp.’ empresa do Luxemburgo com sede na cidade do Porto). Nesta altura a ‘Mason & Barry Lt.’, José Antunes Inácio e a própria Sociedade eram os únicos sócios da Sociedade das Minas do Gerez, Lda., com José Antunes Inácio a deter uma quota de 147.000$00, a ‘Mason & Barry’ a deter duas quotas que somavam 555.000$00 (uma quota de 408.000$00 e uma quota de 147.000$00) e a Sociedade a deter uma quota no valor de 98.000$00. O capital social total de 800.000$00 à data era destinado integralmente à lavra de minas.

Segundo o despacho então emitido pela Câmara de Falências de Lisboa, Manuel Maria Mendes dos Santos foi encarregue de vender as quotas e o crédito da Sociedade ao restante sócio, José Antunes Inácio. Na escritura lavrada a 8 de Maio, a quota de 147.000$00 é cedida pela mesma quantia a Armando Félix Pereira e a outra quota de 115.000$00, que juntamente com a outra quota de 408.000$00 (juntamente com o crédito que a ‘Mason & Barry’ tinha na Sociedade das Minas do Gerez, Lda.) é cedida pelo preço global de 768.000$00 à ‘International Mining Corp.’. Manuel Santos recebe também de Armando Félix Pereira a quantia de 32.000$00 respeitante à quota que lhe havia sido cedida e que da qual dava quitação. Por outro lado, e em relação à cessão de quotas e do crédito feito à ‘International Mining Corp.’, já teria sido entregue nesta data a quantia de 200.000$00 à administração de falências da ‘Mason & Barry’ a título de sinal e como princípio de pagamento (recebendo Manuel Santos neste acto a quantia de 568.000$00). Armando Félix Pereira e Alexander Schneider-Scherbina aceitaram em nome da ‘International Mining Corp.’ a cessão das quotas e do crédito que a empresa falida possuía na Sociedade das Minas do Gerez, Lda., dando-se a unificação dessas duas quotas numa única com o valor de 523.000$00 (408.000$00 + 115.000$00).

Tendo em vista já o futuro reatar dos trabalhos, a 30 de Maio é solicitado à Secretaria de Estado da Industria que a mina da Corga das Negras n.º 1 seja considerada em actividade produtiva referindo que a sociedade havia procedido a trabalhos de limpeza e conservação na mina do Salto do Lobo. Era referido que por falta de mão-de-obra em 1969 não fora possível efectuar qualquer produção. Uma solicitação semelhante (feita à Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos) seria feita a 20 de Janeiro de 1971, referindo não ter havido qualquer produção em 1970 também por falta de mão-de-obra.

A 15 de Julho de 1970, a Circunscrição Mineira do Norte recebe uma cópia da acta de cessão de quotas que havia decorrido no dia 8 de Maio. Porém, e segundo esta Circunscrição devido ao facto de a Sociedade das Minas do Gerez, Lda. não estar devidamente representada perante o Estado, essa escritura foi enviada no mesmo dia para a Repartição de Minas para que fosse devidamente estudada perante a lei portuguesa. A Sociedade é também informada para o que está preconizado no então Decreto-Lei n.º 18.713, de 1 de Agosto de 1930, nomeadamente sobre a obrigatoriedade de Director Técnico e respectivos termos de responsabilidade deste e da concessionária, obrigações dos concessionários mineiros, alterações dos planos de lavra e penalidades.

A 28 de Julho de 1970, procede-se à alteração parcial do pacto social da Sociedade das Minas do Gerez, Lda., dando-se assim mais um passo para a retoma dos trabalhos mineiros. A autorização do capital social solicitado ao Banco de Portugal por Armando Félix Pereira e respeitante a suprimentos a efectuar pela ‘International Mining Corp.’, tem parecer favorável do Secretário de Estado da Industria a 18 de Agosto (sendo este parecer baseado numa informação datada de 6 de Agosto). O parecer do Secretário de Estado é transmitido ao Governador do Banco de Portugal pelo Chefe de Gabinete da Direcção-Geral de Minas a 21 de Agosto.


Em Julho inicia-se a reabilitação e conservação das instalações por uma equipa de uma dezena de homens com a instalação de um novo gerador. A linha telefónica é reparada por todo o Vale do Alto Homem, com os trabalhos a terem início a 12 de Agosto. Os trabalhos de melhoramento das instalações decorrem ao mesmo tempo que se reinicia a exploração, prolongando-se por mais de um ano. Estes trabalhos consistiram apenas na composição dos edifícios e infra-estruturas, não havendo alterações significativas aos métodos de desmonte, lavaria e instalações exteriores. Assim, limitaram-se ao mínimo os investimentos e procedeu-se ao estudo do jazigo com os trabalhos de exploração. Nestes trabalhos procedeu-se à instalação de um elevador no poço principal (então denominado ‘poço mestre’) capaz de elevar uma vagoneta e procedeu-se à reparação das instalações e equipamentos. Os trabalhos a decorrer em Agosto de 1971 consistiam na desobstrução da galeria do 7.º piso (um piso abaixo da travessa de esgoto), avanços nas galerias do 5.º e 6.º piso, e trabalhos de desmonte no 5.º e 6.º piso.



A lavaria era referenciada como uma ‘instalação pobre’, originando grandes perdas. Os concentrados então obtidos (com pirites, volframite, scheelite, molibdenite, cosalite e diversas gangas) eram flutuados em mesa, possivelmente só com fuelóleo, obtendo-se a molibdenite como flutuado. De seguida, procedia-se a uma separação electromagnética onde se obtinha a volframite. O restante era transportado para o Porto onde era tratado electrostaticamente. Os produtos estéreis da lavagem eram lançados na Lamalonga.




Em resultado da comunicação da Circunscrição Mineira do Norte feita a 15 de Julho, é apresentado a 6 de Novembro o novo Director Técnico, Rodrigo Viana Correia. Virgílio de Brito Murta, anterior Director Técnico das concessões mineiras da Sociedade das Minas do Gerez, Lda., é informado pela Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos da apresentação de um novo Director Técnico por parte da sociedade a 19 de Novembro. O novo Director Técnico é aprovado por despacho do Director Geral de Minas e Serviços Geológicos a 21 de Novembro, sendo a sua nomeação redigida a 3 de Dezembro e publicada em Diário do Governo a 22 de Dezembro de 1970.

Os acessos a esta região da Serra do Gerês continuavam extremamente difíceis. A estrada que percorria todo o Vale do Alto Homem era em terra batida e necessitava constantemente de reparações devido à passagem de viaturas para recolha do minério, transporte de mantimentos e troca de pessoal. Segundo notícia publicada no Jornal de Notícias a 14 de Agosto de 1970, “...a estrada está num estado deplorável a Norte de Leonte e a necessitar de reparação.” A 13 de Agosto tinha havido uma visita dos responsáveis governamentais e locais de Terras de Bouro e de Ourense, Espanha, que haviam acordado no estabelecimento de um controlo fronteiriço na Portela do Homem, onde existia somente um pequeno edifício e nada mais.

As Minas dos Carris são ponto de visita do jornalista Luís Humberto do jornal ‘O Comércio do Porto’ em Outubro de 1970 que na altura se encontrava a escrever uma série de artigos de tema geral “Gerês – Terra de Contrastes”. A edição n.º 6 desta série foi relacionada com a exploração mineira em Carris e é publicada a 20 de Outubro. No seu artigo, Luís Humberto faz uma descrição apaixonada e quase poética da sua caminhada até ao complexo mineiro. O cuidado com que escolhe as palavras reflectem o impacto que aquelas paisagens iam tendo à medida que percorre a sua caminhada silenciosa pela montanha acompanhada ao longe pelo Rio Homem. A certa altura a sua solidão é substituída pela visão da presença humana com os edifícios do complexo mineiro que vão recortando o horizonte e ganhando volume. Faz um relato de homens a caiar as paredes, com outros a instalarem canalizações e a remover a terra.

O jornalista fala com o então responsável pelos trabalhos de levantamento do complexo mineiro, o Dr. Alexander Schneider-Scherbina, que lhe vai fazendo uma resenha histórica do complexo, “...desde 1958 que tudo isto estava parado. Foram doze anos a suportar as intempéries. Doze anos de arruinamento, de destruição. Começamos em Junho a nova fase de renovação da mina e espero que, para fim do ano, estejamos já a extrair o minério – volframite.” O jornalista faz então um percurso pelas instalações mineiras juntamente com o Dr. Scherbina e com Alan Stewart, um consultor norte-americano que na altura também se encontrava lá. Foram exibidos alguns aspectos dos trabalhos realizados, passando pela central eléctrica onde se procedia à limpeza dos motores inoperacionais há já doze anos. Alan Stewart faz uma especial referência aos dois motores Blakstone, “estes dois motores estiveram no aeroporto de Londres na última guerra. Evidentemente que estavam lá a título preventivo. Interrompido o circuito geral e em caso de emergência, o aeródromo era iluminado pela energia que eles forneciam.”

Na altura não existia energia eléctrica no complexo mineiro. O Dr. Scherbina exibe ao jornalista uma pequena amostra de molibdénio apanhado do chão referindo que a paragénese do jazigo era ainda “constituída por estanho, bismuto e veios de quartzo.” O artigo dá-nos também uma descrição da mina, “a galeria é composta de sete pisos separadas por camadas intercalares de 20 metros, tem uma extensão de 2,5 quilómetros e praticamente mostra-se em bom estado de conservação. O quinto piso tem 500 metros e é o mais extenso. O jazigo – endógeno – é constituído por um filão hidrotermal, não compacto, que irrompera pela massa granítica e que se situa a 180 metros de profundidade.” O trabalho de Luís Humberto termina com uma descrição histórica do complexo mineiro, “aí por 1943 começou a exploração. Em Agosto do ano seguinte, porém, uma ordem do Governo português fez paralisar os trabalhos, ficando tudo isto ao abandono até 1950. Neste ano José R. de Sousa e José Inácio formaram a companhia de exploração do Gerês, tendo recebido um empréstimo de três mil contos. Em 1953, porém, venderam as cotas à firma inglesa Mason & Barry, ficando, entretanto, José Inácio com parte na sociedade. As explorações continuaram até 1958 (altura em que dada a crise de cotações quase todas as minas de minério de volfrâmio enfrentam a paralisação…) Em Maio passado, então, a companhia luxemburguesa – International Mining Corporation – comprou e estamos na fase de levantamento.”

Trabalhavam então no complexo mineiro cerca de 40 pessoas, mas eram boas as perspectivas de 100 novos postos de trabalhos quando se começasse a extracção de minério. Na altura o sistema de trabalho implementado, tal como foi então sublinhado, tinha um aspecto distinto do usualmente praticado naquela época. Apesar de os trabalhadores terem um horário de 48 horas semanais, o horário de trabalho estava estabelecido para que terminasse pelas 16h00 de Sexta-feira, permitindo assim aos operários gozar de um fim-de-semana mais alargado. Os trabalhadores operavam durante dez horas, trabalhando apenas oito horas à Sexta-feira. Isto permitia que a maior parte dos trabalhadores, que residiam nas aldeias limítrofes, pudessem descansar nas suas casas. Curiosa a referência do jornalista de Luís Humberto quando se pronuncia em relação ao horário de trabalho referindo que “será um sistema de trabalho de certo modo pró-proletário, mas…”, o que reflecte os princípios pelos quais se regiam as relações de trabalho de então. A finalizar o artigo é feita a questão do porquê de uma empresa estrangeira na exploração das minas?

O artigo de Luís Humberto não passa despercebido às autoridades nacionais. A 22 de Outubro, o Engenheiro Chefe da Circunscrição Mineira do Norte adverte a gestão da Sociedade das Minas do Gerez, Lda. sobre futuros contactos com a imprensa, referindo também a ocorrência de “…grosseiros erros técnicos e afirmações descabidas…” sublinhando que se ia ao ponto de indicar como ““responsável dos trabalhos da mina” o gerente da Sociedade das Minas do Gerez, Lda.” Como advertência final, a Circunscrição Mineira do Norte relembra o que havia sido comunicado àquela sociedade no dia 15 de Julho relativo à ausência de dados legais.

Apesar de várias vezes questionados, nenhum dos antigos trabalhadores da mina e guardas ao serviço das autoridades na Serra do Gerês referiram a possível acção, intervenção ou presença de agentes da PIDE-DGS nas Minas dos Carris. Nunca foi referida ao autor a presença desta força policial, mas o que nos surge da carta enviada a 22 de Outubro pela Circunscrição Mineira do Norte à Sociedade das Minas do Gerez, Lda., é um bom exemplo de que o regime estava atento ao que se passava naquele complexo mineiro. Por outro lado, e como já foi referido, as Minas dos Carris foram ponto de ‘salto’ para muitos portugueses fugidos do regime. O relato de uma destas fugas protagonizada por António Baltasar Carmo e Silva (e outros), acontecida a 23 de Agosto de 1970, está descrito na edição n.º 237 do Jornal Geresão: “tal aconteceu no dia 23 de Agosto de 1970. Nesse dia de manhã, encontrei-me com cinco elementos (…) num local previamente acordado da Avenida Central, em Braga, de lá fomos todos em direcção aos Carris, num ‘Ford Galaxy’ de meu pai, que levava oito pessoas sentadas à vontade.”

A 20 de Janeiro de 1971 a Sociedade das Minas do Gerez, Lda. solicita à Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos que a concessão do Salto do Lobo seja considerada em actividade produtiva no ano de 1970, isto após terem sido já retomados os trabalhos de limpeza e conservação com vista ao reinicio da exploração. Porém, nesta fase não conseguiu qualquer produção por falta de mão-de-obra. Devido ao facto de as instalações mineiras terem estado abandonadas durante vários anos e antecedendo a nova vaga de exploração, a Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos solicita a 30 de Agosto, a entrega de um projecto das instalações mineiras que a Sociedade pretendia utilizar para assim determinar os perigos de poluição de águas resultante das actividades a desenvolver. É referido na solicitação a especial importância do facto de as diversas concessões se encontrarem no interior da área do Parque Nacional da Peneda-Gerês que entretanto havia sido criado pelo Decreto-Lei n.º 187/71, de 8 de Maio, e que visou a realização nessa área montanhosa de um planeamento capaz de valorizar as actividades humanas e os recursos naturais, tendo em vista finalidades educativas, turísticas e científicas.

A criação do novo parque nacional que tinha como objectivo conservar solos, águas, flora e fauna, bem como preservar a paisagem nessa vasta região do noroeste português, viria no futuro a criar uma interessante «luta» entre a conservação da Natureza e a valorização dos recursos naturais nacionais. De salientar que Alexander Schneider-Scherbina à altura considerava boas as hipóteses de se obter a concessão da Mina de Borrageiros com o intuito principal de se criar assim um grande couto mineiro apesar de incluído no interior do parque nacional.

Em 1971  a Sociedade das Minas do Gerez, Lda. apresenta os primeiros resultados desde o anterior encerramento da mina em 1958. Assim, em 1971 foram obtidos 51,275 toneladas de volframite com 66,43% correspondendo a 34,062 toneladas de WO3; 20,845 toneladas de mistos de volframite com 37,27% correspondente a 7,769 toneladas de WO3; um total não indicado de óxidos de estanho com 7,17% correspondendo a 1,495 toneladas de estanho e 7,39% de molibdenite correspondendo a 1,540 toneladas de molibdenite; e 4,550 toneladas de molibdenite. As restantes concessões eram consideradas em 1971 como adequada reserva com uma produção comprometida de 2,0 toneladas de WO3 nas concessões do Castanheiro, Corga das Negras n.º 1 e Lamalonga n.º 1.




As operações das Minas dos Carris são suspensas entre Janeiro e meados de Maio de 1972 devido aos danos causados pelo Inverno rigoroso da Serra do Gerês. A 31 de Janeiro é solicitado que as concessões do Castanheiro, Corga das Negras n.º 1 e Lamalonga n.º 1, sejam consideradas de novo como ‘adequada reserva’ da concessão do Salto do Lobo. Este será um pedido que se tornará recorrente nos anos seguintes e durante esta fase de exploração, com pedidos semelhantes a serem feitos a 31 de Janeiro de 1973 e 31 de Janeiro de 1974. Por outro lado, a exploração mineira nunca mais voltou à Mina do Castanheiro, mas sucessivos pedidos de consideração em actividade produtiva ou em adequada reserva foram entregues pela Sociedade das Minas do Gerez a 30 de Maio de 1970, 20 de Janeiro de 1971, 31 de Janeiro de 1973 (adequada reserva) e 21 de Janeiro de 1974 (adequada reserva). Os pedidos de suspensão de lavra para a Mina do Castanheiro surgiram para os respectivos anos a 27 de Março de 1975, 15 de Março de 1976, 10 de Março de 1977, 17 de Março de 1978, 12 de Fevereiro de 1979, 30 de Janeiro de 1981, 16 de Fevereiro de 1982, 17 de Junho de 1986 e 30 de Dezembro de 1986 (para o ano de 1987).

O Parque Nacional da Peneda-Gerês nunca viu com bons olhos a existência do complexo mineiro dentro do seu território. Um exemplo disso é a carta enviada a 31 de Julho de 1972 pelo Director do Parque Nacional, Eng. Lagrifa Mendes, ao Chefe da Circunscrição Mineira do Norte à qual anexa uma fotografia da Lamalonga que é apresentada como um exemplo típico de poluição irrecuperável, solicitando informações sobre a área cedida à empresa mineira – que denomina como Empresa Mineira dos Carris – e se existiria qualquer tipo de condicionamento quanto às escombreiras, inquirindo também sobre a indemnização que pode ser exigida pelos utentes pelas pastagens degradadas. Esta carta teve resposta do Engenheiro Chefe da Circunscrição Mineira do Norte, a 2 de Agosto, referindo as áreas das concessões mineiras e referindo não existir qualquer condicionamento em relação às escombreiras.

Com os custos de produção a ultrapassar os lucros da empresa, a lavra é suspensa em finais de 1973. Neste ano os registos oficiais indicam que foram obtidos 16,510 toneladas de volframite com 70,00% e 17,929 toneladas de mistos de scheelite e cassiterite com 30%, correspondendo ambas as quantidades a 16,936 toneladas de volfrâmio; com a cassiterite a 30 % correspondente a 5,379 toneladas de estanho.

Segundo o documento que solicita o estatuto de adequada reserva para as restantes concessões enviado a 31 de Janeiro de 1973, a Sociedade das Minas do Gerez refere que a concessão do Salto do Lobo teria produzido em 1972 cerca de 28,100 toneladas de volframite; 5,000 toneladas de scheelite e 23,930 toneladas de mistos, os quais após devidamente tratados terão produzido 2,113 toneladas de volframite; 5,095 toneladas de scheelite, 825 kg de cassiterite e 4,010 toneladas de molibdénio. Estes valores não coincidem com os valores que foram indicados no quadro de produção referente ao ano de 1972. Neste quadro é indicado que foram obtidos 36,213 toneladas de volframite com 70,00% correspondendo a 25,349 toneladas de volfrâmio; 10,095 toneladas de scheelite com 70,00% correspondente a 7,068 toneladas de volfrâmio; 0,825 toneladas de estanho com 70,00% correspondendo a 0,577 toneladas de estanho; e 4,010 toneladas de molibdenite. Da mesma forma, no documento semelhante que é enviado a 31 de Janeiro de 1974, é referido que a concessão do Salto do Lobo teria produzido em 1973 cerca de 16,510 toneladas de volframite; 17,989 toneladas de mistos de scheelite e cassiterite que corresponderam a 24,107 toneladas de volframite e estanho. As tabelas seguintes mostram os dados oficiais dos elementos para a contribuição industrial dos anos de 1971 a 1974 e do ano de 1979. Conforme é referido no pedido de actividade produtiva no ano de 1975 para a concessão do Salto do Lobo enviado para a Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos a 25 de Março de 1975, a concessão não atingiu em 1974 a produção prevista em virtude da falta de mão-de-obra. Nesta mesma data são enviados os pedidos de suspensão de lavra para as concessões das Minas dos Carris juntamente com o pedido de suspensão da lavra para a Mina do Castanheiro, evocando a falta de mão-de-obra especializada. A 3 de Maio todos estes pedidos são diferidos a título precário até 31 de Dezembro desse ano, com o texto do deferimento a ser emitido a 25 de Julho e com a decisão a ser publicada em Diário da República a 7 de Agosto .

O quadro seguinte mostra as quantidades de minério extraído nas Minas dos Carris entre 1971 e 1973. Segundo Virgílio Murta, “para que a mina tivesse a produção indicada no quadro para 1971, teria sido necessário reorganizar tudo, tarefa que é muito demorada e para o que seria conveniente contactar com quem tinha fechado e conhecido bem a mina (eu próprio) e os encarregados, o que não foi feito. Parece-me portanto que há grande confusão originada por esse quadro. Por outro lado, nele é indicada uma produção de 51,275 t de volframite. Isto corresponde a um desmonte de rocha de cerca de 14.650 t, ou seja, de cerca de 5.400 m3. Para uma largura de desmontes de 2 metros, isto corresponde a 2.700 m2 de área vertical, ou seja, de mais de 135m de desmonte e galerias em direcção, o que duvido tenha sido feito… Talvez se trate de existência estimada, na mina, mas não de produção em 1971.”

Em 1974 o acampamento mineiro dos Carris está novamente abandonado e nele somente permanece um guarda que de tempos em tempos vai recebendo mantimentos e o seu salário entregue por alguém da administração da Sociedade das Minas do Gerez, Lda.

O regime muda em Portugal a 25 de Abril de 1974 com a Revolução dos Cravos. Muitas das empresas são nacionalizadas, mas a Sociedade das Minas do Gerez, Lda. mantém-se nas mãos dos seus sócios. Isto facilmente se poderá explicar pelo pouco valor que a industria dos metais volframíticos teria na altura, aliás esta é uma das razões que terá levado ao encerramento da mina aliado ao facto de haver um crescimento salarial insuportável.

Com a situação pouco favorável em Portugal para aqueles que apoiavam o anterior regime, as Minas dos Carris servem como refúgio e rota de fuga para Espanha de muita gente conectada com a direita no Norte do país. Curiosamente, aquela zona parece ter sido sempre um ponto de fuga privilegiado tanto após, como antes da Revolução dos Cravos.

Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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