A paisagem que se nos depara quando caminhamos até às Minas dos Carris, seguindo qualquer dos percursos que nos permite chegar àquele local, é um espectáculo natural de uma magnificência difícil de transmitir por palavras. Na altura, estas surgem-nos como exclamações interiores de uma grandiosidade que logo de seguida é tornada pequena pela imensidão da paisagem.
Coisa diferente é fazer uma caminhada nocturna até às Minas dos Carris. Se na cidade o véu do firmamento oculta as estrelas, na relativa escuridão da noite estas surgem como algo de único que apela às nossas origens. Se o grande vale nos torna pequenos perante a imensidão dos espaços, a profundidade da noite e o perfurar do firmamento nocturno pelos milhões de pontos cintilantes fazem que respeitemos o momento com um sentimento espiritual que dificilmente se descreve por palavras.
É como se passeássemos por um palco num evento único. Seguimos o caminho bem delineado pelas paredes escuras da montanha e a certa altura estas paredes parece que se abatem sobre nós, esmagando-nos na solidão dos nossos passos e sempre à espera que se repitam os olhos cintilantes que de forma fugaz nos acompanham por breves momentos.
Chegar às ruínas é quase um momento solene. A solidão do local aprofunda-se com o doloroso silêncio, um silêncio tão profundo que nem acreditámos que existe e de repente surge-nos a necessidade de falar, emitir qualquer som para nos convencermos de que estamos vivos e ali, agora, naquele local e em mais lado algum.
Descansamos e o horizonte define-se junto da longínqua fronteira da noite. Aguardamos que ele surja e nos traga um novo dia, o princípio do dia. As cores vão-se alterando de forma perceptível, mas o ser consciente vai-nos acordando de tempos a tempos da letargia visual na qual mergulhamos por minutos. Se o céu estava pejado de estrelas, estas esconderam-se e deram lugar à variação de tons que após a aurora anuncia a chegada do rei.
E de facto ele chegou, iluminando com um novo fulgor a paisagem e os recantos por onde na escuridão da noite a cabra nos observou, o lobo nos vigiou e por onde as sombras se esconderam mal ele se assumiu à beira do limite da montanha. Aos poucos, as ruínas voltaram ao reino da luz talvez sonhando com os dias há muito idos, mas sabendo que aos poucos é a memória dos homens que as farão esquecer.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
1 comentário:
Foi a 226, a do Solstício de Verão ! Uma noite muito bem passada, muito bem e em claro, com tanto que havia para apreciar no vasto céu estrelado... obrigado ! DNogueira
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