Sendo quase um posto avançado da civilização na imensa serra Geresiana, as Minas dos Carris era um local onde a vida se ia fazendo de pequenas histórias. Sendo um ambiente rude e duro para os homens, também o era para as crianças. Porém, para umas a vida era um pouco diferente.
Exemplo disto é a descrição que Carlos Sousa e Manuel Antunes Machado fazem dos dias nas Minas dos Carris e que podem ser lidas no livro 'Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês':
"O complexo mineiro era uma pequena aldeia encravada nas montanhas geresianas e a vida corria de forma normal. Carlos Sousa, filho de José Ridrigues de Sousa, deu-nos uma visão da sua vida de criança nos Carris, "de 1951 a 1957 foi um conto de fadas como seria para qualquer miúdo citadino daquela idade. Tinha o meu cavalo, botas alentejanas, esporas, uma espingarda e uma pistola de pressão de ar. Ia para a cantina conversar em vernáculo do mais pesado com os mineiros, tinha as encostas para trotar e sonhar com os cowboys, era tratado como um príncipe, em vernáculo que era mais interessante para mim mas como um príncipe, comia como um «lord» e ainda o mais extraordinánio, podia guiar o jeep no campo de futebol depois dos jogos... há mais alguma coisa que um miúdo possa crer? O mau pai deixava-me levar a vida perfeitamente à vontade tirando a mania desagradável e incomoda de me mandar tomar banho antes do jantar. Mas paciência, também não se pode ter tudo! Uma coisa muito curiosa é que não me lembro de um único garoto da minha idade na mina. Será que não havia?"
De facto havia outras crianças na mina, mas para elas a vida era diferente. Naqueles dias as férias escolares começavam em finais de Maio ou Junho e prolongavam-se até Outubro. Sobrevivendo de economias parcas, todas as mãos era úteis para os trabalhos e as crianças também o faziam. Na altura com 10 anos de idade, Manuel Antunes Gonçalves recorda, "naqueles dias havia várias crianças que faziam o mesmo trabalho que os adultos ou então, mais tarde e ao serviço dos Florestais, participavam em plantações que se faziam na Água da Pala. Eram duros aqueles dias! Uma camioneta recolhia os trabalhadores de muitas aldeias desde Valdosende e a subida do Vale do Homem na carrinha por aquela estrada, onde tínhamos sempre medo de cair para o rio, era tão cansativa como um dia de trabalho!"
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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