quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Trilhos seculares - Curral da Amarela nos domínios de Fafião

A primeira incursão na Serra do Gerês em 2013 foi dedicada aos trilhos seculares das gentes de Fafião com uma passagem pelo Curral dos Bicos Altos e Curral da Amarela. Apesar de começar frio, o dia esteve de feição com algum vento até à chegada ao Curral da Amarela.

A jornada começou no belo Curral da Tribela seguindo depois por Ponte de Cervas até ao Pinhô. Aqui, seguimos pela opção que se nos deparava mais fácil e com menor declive, percorrendo o estradão até que ao chegar junto da pequena represa paramos para apreciar as mariolas que iam trepando a corga e que certamente nos levariam já perto do Curral de Pousada. De facto, já há tempos me haviam referenciado as ditas mariolas mas da última vez que havia percorrido aquele estradão, estas passaram-me despercebidas. Nesta altura a passagem pode ser feita com algum cuidado e o carreiro, ou o que resta dele, está aberto devido a um incêndio que ali terá ocorrido há já alguns anos. Assim, em poucas centenas de metros vencemos o declive que nos levou directos ao Curral de Pousada. O percurso prosseguiu em direcção ao escondido Curral dos Bicos Altos depois de atravessar o Trilho da Vezeira de Fafião.

Logo no início do nosso percurso, a visão da Roca Negra e da Rocalva parecem como que duas gigantescas colunas que marcam a entrada num reino maravilhoso e de fantasia. No fundo, aquela zona da Serra do Gerês é isso mesmo, um reino maravilhoso e de fantasia no qual estamos sempre à espera de sermos surpreendidos por um duende que nos salta ao caminho por detrás de um velho carvalho ou então como que enfeitiçados pelo doce cantar de um grupos de elfos. As montanhas adquirem aquele aspecto de 'fotografia da natureza' ao qual nos habituaram dizendo que só em terras distantes existem daquelas paisagens. Nada poderia ser, neste contexto, mais errado. A Serra do Gerês não nos pára de surpreender por aquelas paragens a cada passo que damos, a cada pestanejar, pois a paisagens apesar de única, vai-se alterando à medida que a nossa alma se vai abrindo a cada nova sensação.


Saindo do Curral dos Bicos altos, os caminhos bem assinalados pela companhia das mariolas levam-nos a entrar no vale do Rio de Fafião. Aquelas varandas permitem-nos já ter uma vista para o fantástico Trilho da Vezeira de Fafião bem delineado na paisagem e que nos conduz até ao Porto da Lage e ao Curral da Touça. Na «nossa» encosta, o carreiro para o Cortiço e Curral de Lagarinho fazem-nos já pensar numa próxima ida para aquelas paragens. A nossa jornada vai-nos aproximando do Curral da Amarela já à vista de Porta Ruivas e do Borrageiro e do imenso Iteiro de Ovos. Muitas vezes me questionai sobre o significado do termo 'iteiro'. Uma pesquisa levou-me à seguinte definição: "Forma actual: Outeiro ou, em desuso, Oiteiro; sig. "pequena elevação de terreno". Normalmente um cerro / morro que se destaca como acidente de terreno. Em várias regiões serviam como limites, términos, marcos da confluência de diferentes territórios, em particular nas civilizações pré-romanas." Esta descrição toponímica (ou oronímoca?) serve que nem uma luva àquilo que vemos do Iteiro de Ovos (ou somente 'Ovos' como está definido na Folha n.º 31 da Carta Topográfica de Portugal do IGE) em termos de característica geográfica. No entanto, seria interessante tentar compreender a origem do termo naquele lugar no que diz respeito a possíveis limites ou términos territoriais. Acredito que esta divisão, caso seja esta a razão da origem do nome, esteja mais relacionada com as relações entre os povos serranos do que a divisão administrativa do território, pois a «fronteira» entre Terras de Bouro e Montalegre (ou entre Braga e Vila Real, ou ainda entre o Minho e Trás-os-Montes) está localizada a poucas centenas de metros mais abaixo através do Porto da Lage, ao longo do Rio da Pigarreira e ao longo da Corga Mão do Cavalo, seguindo pelo Corgo das Mestras até aos Carris após passar pelo Outeiro do Pássaro).

O Curral da Amarela é local de passagem e pernoita, tendo um forno. Daqui facilmente se acede ao Curral de Lagarinho ou ao Estreito e consequentemente de novo ao Trilho da Vezeira de Fafião. Logo após a saída do curral é também possível baixar por um tortuoso carreiro para o Vale do Rio Laço e chegar ao Curral da Touça e Porto da Lage. As gentes serranas tiraram o melhor partido das características do terreno, aproveitando pequenas passagens criadas pelas falhas geológicas e veios para facilitar o acesso entre currais, estabelecidos em velhas lamas ricas de depósitos ao longo dos anos proporcionando as pastagens e abrigos para os gados durante a noite.

O nosso trajecto fez então uma inversão de sentido, voltando costas à Meda de Rocalva e Roca Negra, prosseguindo para Pradolã (Prado-lã), local de descanso na nossa jornada de novo à vista dos Bicos Altos. Depois, prosseguiu-se até ao Curral de Pousada com o seu caos de blocos graníticos, e descemos para o Vale do Rio Conho, passando ao lado do Curral de Pinhô e prosseguindo para a Ponte de Cervas que nos deu acesso ao final do dia de novo na Tribela.

Algumas fotos do dia...

























Fotografia: © Rui C. Barbosa

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