segunda-feira, 9 de julho de 2012

Dois parques nacionais, duas realidades

Quando se deu a inauguração do centro de interpretação de Sotama do Parque Nacional dos Picos da Europa, Espanha, o Príncipe das Astúrias referiu "Convido a todos a comprometerem-se neste projecto e fazer do Parque Nacional dos Picos da Europa uma realidade viva e um exemplo de harmoniosa convivência."

Esta frase não descreve melhor a diferença abismal entre este parque nacional espanhol e o Parque Nacional da Peneda-Gerês. Aliás, tentar fazer uma comparação entre as duas áreas protegidas torna-se um exercício doloroso para nós, senão embaraçoso.

Em quatro dias de presença naquele parque nacional tentei encontrar exemplos negativos e exemplos com os quais pudesse fazer uma comparação. Não encontrei! Talvez me digam que devesse procurar melhor. Talvez! Porém, a realidade do nosso parque nacional comparada com a realidade daquele parque nacional encontra-se a anos-luz de distância.

Os postos de informação funcionam e fornecem informações precisas e exactas sobre o que se pode fazer, onde se pode fazer, como se pode fazer e com quem pode fazer. São abundantes os serviços de guias GRATUITOS do próprio parque nacional que é percorrido por uma rede de trilhos sinalizados para aqueles que procuram um simples passeio fácil pela montanha, bem como trilhos de dificuldade elevada para especialistas com conhecimento em escalada e sem vertigens. Por outro lado, a informação escrita é abundante e gratuita; não há a necessidade de se pedir autorizações e muitos menos de pagar por elas taxas ridículas e absurdas! Os vigilantes do parque nacional percorrem a pé (!) os trilhos; como exemplo, na banal Ruta do Cares tive a oportunidade de ver três vigilantes a percorrer o percurso em alturas diferentes.

A caminhada é permitida em TODA a zona do parque nacional dependendo é claro da capacidade física de cada um e dos seus conhecimentos ao nível da montanha.A pernoita é permitida dentro dos limites horários e de altitude mínima estabelecidos, não sendo necessária o pagamento de taxas ridículas e absurdas!

As empresas de turismo de montanha existem e florescem sem haver a necessidade de se criar taxas com o absurdo intuito de empurrar os visitantes para as mesmas.

A fauna e a flora são abundantes e apesar de todo o turismo que percorre o parque nacional, não existe qualquer tipo de limitação.

O mais óbvio exemplo da abismal diferença entre o Parque Nacional dos Picos da Europa e o Parque Nacional da Peneda-Gerês, foi a «velocidade» com que se resolveu o problema da derrocada que aconteceu há cerca de três meses na Ruta do Cares e que impedia o seu percurso total entre Poncebos e Cain. Com os trabalhos de consolidação e reparação a serem iniciados pouco depois da derrocada, o novo passadiço foi inaugurado a 4 de Julho de 2012. No Parque Nacional da Peneda-Gerês aconteceu uma derrocada na zona do Modorno em Fevereiro de 2007. Pedras de grandes dimensões impedem a passagem de veículos todo-terreno que podem ser necessários num socorro. A situação mantém-se até aos nossos dias e o parque nacional decidiu deixar degradar por completo o estradão até às Minas dos Carris.

Fotografias: © Rui C. Barbosa

1 comentário:

joca disse...

Tenho para mim que a grande diferença entre estas duas áreas protegidas é a postura institucional. No PNPG há uma grande preocupação com os aspectos formais. Um jogo de faz de conta porque a insuficiência de meios acaba por tornar inútil e contraproducente esta fixação de fazer tudo “como deve ser”. As aspas são uma interrogação minha se as coisas devem ser mesmo assim. Há quem entenda que isto só foi possível porque o PNPG se afirmou num tempo de radicalismo ideológico e com um poder local ainda em afirmação. Já nos Picos as preocupações são outras. Ali percebe-se que não é a realidade que se tem que conformar às normas, mas as normas que precisam de servir a realidade. Um dos maiores exemplos disso é ainda não existir um PRUG (o equivalente ao POPNPG). É verdade que ele não existe porque foi contestado em tribunal, é verdade que as razões dessa impugnação nem foram as melhores (os direitos de caça dentro do parque) é verdade que a inexistência também reflecte o difícil equilíbrio entre as diferentes autonomias, mas o que se constata é que o parque funciona muito melhor e com mais meios.