quinta-feira, 1 de março de 2012

O 1º de Março e o corte de estradas no Gerês

Hoje fui alertado por um relato que dava conta da intenção, por parte do Parque Nacional da Peneda-Gerês, de proceder ao encerramento de várias estradas na Serra do Gerês. Aparentemente, este encerramento de estradas iria afectar as ligações entre a Portela de Leonte e a Portela do Homem, entre a Bouça da Mó e a Mata de Albergaria, e a estrada entre o Campo do Gerês e as Caldas do Gerês, com a estrada a ser encerrada na zona de Lamas.

De facto, há muitos anos que o Parque Nacional da Peneda-Gerês tem tentado encerrar de forma definitiva o acesso à Portela do Homem e mesmo no princípio dos anos 80 aproveitou a tentativa de reabertura das Minas dos Carris para conseguir o encerramento definitivo daquela via.

O relato pareceu-me um pouco estranho, pois não tinha conhecimento que o Parque Nacional se preparava para tal acção e esta, devido ao impacto que inevitavelmente teria, não tinha sido antecipada.

Por me suscitar alguma preocupação pelos imprevisíveis efeitos que tal encerramento poderia ter, solicitei um pedido de esclarecimentos ao Parque Nacional da Peneda-Gerês que ainda aguardo...

No entanto, ao final do dia a situação acabou por ser esclarecida e eu fiquei a saber de uma «tradição» por parte do Parque Nacional da Peneda-Gerês que desconhecia... mas que não posso deixar de criticar. Então a história é a seguinte: todos os anos, no 1º de Março, o Parque Nacional tem por hábito encerrar simbolicamente as estradas de acesso à Mata Nacional como forma de mostrar que é possuidora daqueles terrenos. Esta atitude não deixa de ser estranha e é legítimo perguntar porque é que o Parque Nacional da Peneda-Gerês tem essa necessidade? De facto, os terrenos que hoje são Mata Nacional foram retirados aos seus legítimos detentores em finais do Séc XIX. Esta atitude do Parque Nacional só parece acontecer porque se acha um possuidor precário e como tal precisam de demonstrar publicamente que está em posse de determinado bem, neste caso aquela área do parque nacional.

Assim, o que aconteceu a 1 de Março de 2012 foi a tentativa de fechar as estradas durante cerca de uma hora, mas tal situação foi impedida pela GNR e pela população para quem esta atitude é uma afronta, pois ninguém discute já se as estradas são ou não públicas. Para a GNR, à qual foi feito o pedido de apoio para esta acção por escrito, o Parque Nacional da Peneda-Gerês não pode encerrar estradas do domínio público, logo considerando ilegítima a sua pretensão.

Por outro lado eu questiono um comportamento quase feudal de posse e pergunto como é possível com a actual conjuntura nacional o Parque Nacional da Peneda-Gerês andar a desperdiçar recursos económicos e humanos em atitudes deste calibre? Como é possível isto acontecer quando o Parque Nacional da Peneda-Gerês não tem recursos suficientes para a preservação, mas é capaz de desperdiçar o tempo dos Vigilantes da Natureza para colocarem correntes a fechar estradas públicas, num comportamento que parece se repetir desde 1971?


Expliquem-me, porque eu não percebo...


(Aguarda-se uma explicação do Parque Nacional da Peneda-Gerês)


Fotografia © Rui C. Barbosa

3 comentários:

Jorge Nogueira disse...

Fantástica crónica! Até me estou a rir com esta tradição, que desconhecia por completo!
Abraço Rui

joca disse...

O pior desta tradição nem é o desperdício de recursos, que acabam por ser simbólicos. O pior desta tradiçãoé que revela que o PNPG continua a não perceber que precisa de trabalhar com as populações e não contra as populações. No campo do simbólico esta tradição é uma afronta e as populações fizeram bem em se revoltar. A CMTB fazia bem em levar o ICNB a tribunal por isto.

joca disse...

O pior desta tradição nem é o desperdício de recursos, que acabam por ser simbólicos. O pior desta tradiçãoé que revela que o PNPG continua a não perceber que precisa de trabalhar com as populações e não contra as populações. No campo do simbólico esta tradição é uma afronta e as populações fizeram bem em se revoltar. A CMTB fazia bem em levar o ICNB a tribunal por isto.