quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Epopeia na Serra do Gerês (I)

Carris, Março de 1955

Com a preciosa colaboração de José Manuel Rodrigues de Sousa e Carlos Sousa, tomei conhecimento da publicação de um artigo na revista O Século Ilustrado que relatava uma odisseia vivida há muitos anos na Serra do Gerês e que até aqui desconhecia. Infelizmente os dados dísponíveis sobre a data de publicação de tal artigo eram muitíssimo escassos. O artigo deveria ter sido publicado entre 1951 e 1958 e mergulhado numa pesquisa única na Internet descobri um artigo intitulado "Epopeia na Serra do Gerês".

Este artigo é acompanhado por uma série de fotografias que aqui reproduzo bem como os respectivos textos. Surge assim a épica história de duas centenas de homens que durante vários dias lutaram contra os elementos no alto da Serra do Gerês, uma história que agora mais uma vez vê a luz do dia e que serve de homenagem a esses homens à muito esquecidos mas que representam uma narração do nosso país.

O seguinte texto é da autoria de António Gonzalez que assina a respectiva reportagem gráfica...

"Durante mais de uma semana, nevou intensa e continuadamente na serra do Gerês de tal maneira que, em alguns pontos, a camada branca chegou a atingir cerca de quatro metros de espessura, tornando impossível o trânsito de veículos e mesmo peões. A 1570 metros de altitude, nas minas de volfrâmio que pertencem à Sociedade das Minas do Gerês, Lda., os mineiros e o pessoal técnico e administrativo num total de cerca de duzentas pessoas ficaram isolados nas sua instalações, tornando-se problemática a situação que, de dia para dia, o estado do tempo lhes foi criando. Pelo telefone, uma vez que os fios resistiram ao peso da neve, foi sendo mantido contacto, até que as notícias se tornaram alarmantes: o pessoal, em especial os mineiros (que eram cento e vinte) estavam sem pão nem legumes, com escassa roupa e cada vez mais à mercê dos lobos que uivavam famintos, noite e dia, por aquelas redondezas. (...) uma brigada de socorro saiu de Leonte e percorreu em penosas circunstâncias os sete quilómetros que separam esta povoação de uma outra chamada Água da Pala, onde entrou em contacto com o pessoal dos Carris. Os mineiros tiveram de descer até ao ponto de contacto, ligados uns aos outros por uma corda e meio enterrados na camada de neve".

Fotografia: © O Século Ilustrado / Rui C. Barbosa

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