segunda-feira, 22 de março de 2010

O Gerês e as 7 maravilhas de Portugal


Talvez seja um conjunto de palavras que venha a chocar alguns, mas não posso deixar de lavrar alguma coisa sobre este assunto.

Como muitos saberão, ou talvez não, o Parque Nacional da Peneda-Gerês encontra-se na lista dos 21 finalistas do concurso das Sete Maravilhas Naturais de Portugal. Reconheço que concursos deste tipo servem somente para fazer uma certa promoção turística dos locais 'a concurso', com a consequência inevitável da promoção dos mesmos nos órgãos de comunicação social durante um certo período de tempo enquanto o circo durar.

No entanto, não deixa de ser uma faca de dois gumes. Se por um lado se promove as regiões atribuindo-lhes o título pomposo de «Maravilha Natural», por outro condena-se a área à forte pressão turística desordenada que daí irá advir.

Nós portugueses somos um povo ímpar e único neste pequeno planeta. Somos capazes do melhor: se por um lado conseguimos conquistar oceanos desconhecidos, não somos capazes de nos livrar da vergonha das touradas e de classificar os animais da mesma forma que valoramos um tijolo! Somos capazes de aderir às centenas de milhar a iniciativas de autêntica barrela do país ficando estupefactos pelas lixeiras pelas quais passamos todos os dias que até ali eram invisíveis, mas não evitamos de invadir uma área protegida á procura de uma menina que corre ao lado dos lobos na palermice de uma telenovela. Em resultado desta mesma, o Gerês foi invadido no Verão passado por milhares de turistas à procura de paisagens que lhes pareciam fantásticas na televisão, mas que na realidade não passavam de uma pequena mata aos seus olhos mas transformada pela objectiva de uma câmara. Infelizmente, e na profundidade de uma ignorância que se teima em manter tão redonda como uma bola do idolatrado futebol, não conseguem compreender o verdadeiro valor de uma mata secular como a Mata de Albergaria ou de um vale glacial como o Vale do Alto Homem, verdadeiro expoente da artificial fórmula matemática do Wilderness.

Consigo compreender os habitantes do Gerês e do Parque Nacional como um todo que se vêm violentados nos seus direitos ao longo de décadas e décadas de influência do Estado naquelas serras, mas que sem essa influência não passariam de montanhas de granito nu. E estes memos habitantes podem ver neste concurso uma oportunidade de negócio para uma região tão desfavorecida.

Sendo uma das maravilhas consagradas, o Parque Nacional da Peneda-Gerês irá receber milhares de visitas daqueles que querem conhecer a nova maravilha. Uma maravilha que sempre esteve ali, mas que agora é que é mesmo porque assim o disseram na televisão e porque ganhou um concurso. No entanto a invasão de turistas ignorantes irá trazer a desgraça, o vandalismo, a sujidade, a conspurcação, o mau comportamento, o desrespeito pelos valores e costumes, o arrancar de plantas e o mau trato da fauna ao Gerês e ao Parque Nacional. O PNPG não precisa de concursos, pois o PNPG é a própria definição de maravilha.

O PNPG é em si a maravilha de Portugal e ponto final! Não necessita de concursos parolos para receber esse epíteto. Como disse o bloguer, é "...o mais belo cantinho do mundo". Porém, eu digo mais pois o PNPG é o mais belo cantinho da criação do Universo.

Assim, maus caros, cá vai a bomba e não votem no PNPG para uma das 7 maravilhas de Portugal.

Fotografias: © Rui C. Barbosa

6 comentários:

MEDRONHO disse...

concordo com os argumentos.

foi o que fiz...NÃO votei no PNPG (apesar de achar que é uma MARAVILHA de Portugal)


abraço

RotasdoBarroso disse...

Eu não concordo Rui, nem com alguns argumentos, nem com o apelo para votar contra.
Acho que estas a misturar as coisas, o turismo de massas na minha opinião tem é de ser controlado pelas autoridades, é para isso que elas existem.
Penso que o PNPG é uma maravilha natural e por sinal deve ser visitado por todos aqueles que quiserem, obviamente cumprindo determinadas REGRAS.
O geres é de todos é esta a minha SINCERA opinião.
Apesar disso, por vezes, vejo muitos residentes como eu a pensar que isto é mais deles do que dos forasteiros, o que está errado a meu ver.

O geres está ali e não devemos ter medo de o mostrar ao mundo.
A tua opinião é esconde-lo? para que ? com que objectivo ?

Alias rui se tivesses essa opinião não eras autor de um blog como o carris que muito contribui para a divulgação do PNPG.



Abraço
Miguel
rdb

Rui C. Barbosa disse...

Não se pode pôr nas costas das autoridades o fardo de se controlar tudo e todos, até porque isso é impossível sem se recorrer a meios mais radicais.

É óbvio que quem visita tem de cumprir as regras e eles existem. O problema é que muitos desconhecem essas regras, não as procuram conheces e quando conhecem acabam por desrespeitá-las, na realidade é assim que as coisas acontecem hoje em dia. O simples dizer que desconheciam que não podiam fazer isto ou aquilo simplesmente já não cola quando vivemos numa sociedade de informação onde esta está disponível a todos ao toque de um «clique».

Mas Miguel, eu partilho da tua opinião de que o Gerês, e o parque nacional pois é disso que se trata, é de todos. Além do mais, todos contribuímos para ele de uma forma ou de outra. Mas isso não pode dar origem a liberalismos que o venham a prejudicar. Logo, há que se ter cuidado com este tipo de frases que mais parecem um apelo à utilização indiscriminada no PN e da Natureza em geral. Os residentes moldaram o PN, é certo, e moldaram o PN tanto para bem como para o mal. Como já referi várias vezes, se não fosse um controlo do Estado com a chegada dos Serviços Florestais provavelmente não teríamos um PN como hoje o conhecemos. Daí vem a guerra que há muitos anos é alimentada no Gerês e nas serras do PN.

Claro que não medo em o mostrar ao mundo, agora não o podemos mostrar como se fosse uma coisa que subitamente apareceu do nada e este tipo de concursos leva a que isso assim seja, da mesma forma que a telenovela mostrou algo que está lá mas que na realidade não existe. Não devemos esconder o PN, devemos é mostrá-lo como realmente ele deve ser visto. O turismo de massas é prejudicial para qualquer área protegida. Não podemos ver esta associação só pelo pknto de vista económico porque se assim fôr daqui a poucos anos não tens nada para mostrar, só uma mata queimada, suja e montanhas despidas.

Acho que a leitira do blogue 'Carris' é mais do que suficiente para desmontar a tua última afirmação...

Um abraço!

RotasdoBarroso disse...

A meu ver esse turismo de que tu falas concentra-se toda a gente sabe onde, e minguem faz nada(autoridades) .
Os que visitam áreas mais longínquas esses terão mais informação e serão a meu ver os mais conscientes.
Agora caso não exista um controle efectivo por parte das autoridades ai será melhor não vir ninguém ao PNPG, porque prevaricadores esses vem sempre. Eu sou dos que mais defendo o PNPG, mas, devemos apontar os erros e não querer limitar ou esconder esta dádiva da natureza. E outra questão o PNPG chega quase a Montalegre (Sezelhe) e aqui não existe massificação nenhuma, nem nunca existiu e provavelmente nunca existirá.

Bom para concluir compreendo a tua opinião mas não concordo com ela.

Cumprimentos
Miguel Moura

ps: Foste a aldeia velha do juriz? quero ver ai umas fotos.
abraço

Rui C. Barbosa disse...

Concordamos que a massificação é sempre relativa e esta relatividade está relacionada com as diversas zonas do PNPG. Aliás, este assinto leva-nos à questão das denominadas «cargas» na «alta montanha» do PN. Quantas vezes caminhamos pelas serras sem encontrar outras pessoas o que nos leva a concluir que a questão das cargas só se coloca nas zonas para onde toda a gente vai, nomeadamente no Verão e nomeadamente no Rio Homem, zona do Arado, Pedra Bela, etc. para só falar das zonas na Serra do Gerês. Ora, como estas são a grande maioria das pessoas que visitam o PN não estou a ver a necessidade de se estipular as tais cargas para a montanha, logo esta é uma falsa questão. Por outro lado, será que se deve estipular cargas para as zonas que referi? Se calhar sim tendo em conta um ponto de vista da conservação; se calhar não tendo em conta o ponto de vista de mostrar o que é um Parque Nacional e tendo em conta a questão financeira das mesma áreas que com o turismo acabam por ter nessas mesmas pessoas a fonte de rendimento.

Obviamente que tem de se conciliar isto tudo, o que não é coisa fácil pois sabemos que a grande percentagem das pessoas neste país não está minimamente desperta para as questões ambientais e de protecção da Natureza e muitas vezes acordam para um mediatismo provinciano que dura 1 dia e esquecem-se de tudo nos restantes 364 dias do ano.

Em suma, há que educar e para que isto resulte querer ser educado... que será o mais difícil de tudo!

PS: as fotos de Juriz estão na entrada de 21 de Março: http://carris-geres.blogspot.com/2010/03/trilhos-seculares-juriz.html

Abraço!

Jorge Nogueira disse...

Olá Rui,
Concordo com algumas coisas que dizes, mas também concordo em parte com o Miguel.
Os outros países também têm Parques que são mais visitados que o Gerês, não é por isso que são sujos e vandalizados, antes pelo contrário.
O Gerês peca por falta de regras ajustadas à realidade, peca também pela falta de limpeza nas áreas mais visitadas, os caixotes do lixo estão lá, mas ninguém os despeja, isso leva a que quem visita e gosta da natureza fique chocado e revoltado, mas em contra partida outros vêm a oportunidade de acrescentar o lixo sem qualquer tipo de remorso.
Para te dar um exemplo, em Ordesa eu estava a descer do refúgio de Goriz e às 07H00, andava uma equipa de vigilantes a apanhar todo o tipo de lixo que encontravam pelos trilhos. Já viste isso cá?
Há que educar!!! Isso ainda vai levar algum tempo, felizmente as escolas estão a ter um papel importante na educação ambiental, já vejo crianças com espírito ambientalista, ao contrário de muitos dos seus pais.
Quanto à actuação das nossas autoridades, não me manifesto, já foi muito debatido neste e outros blogues e temos as nossas opiniões bem formadas.
Agora que o turismo é uma boa fonte de receita isso não há dúvida nenhuma e nos tempos que correm há que aproveitar esse "maná".
Quanto ao voto, cada um tem a sua consciência e sabe o que há-de e tem que fazer :)
No fundo pensamos todos da mesma maneira, mas expomos de maneira diferente.
Queremos um Gerês, livre, limpo, com Regras e sem Taxas.
Rui, Miguel
Grande Abraço