quinta-feira, 10 de outubro de 2024

O Aliados chegam às Minas dos Carris

 


Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o governo de Salazar cria uma Comissão Governamental que tem como função a inventariação dos bens alemães abandonados nas instalações mineiras.

A 18 de Fevereiro de 1946, o Ministro da Economia nomeia uma Comissão Administrativa para as sociedades que eram então classificadas como germânicas e dirigidas pelo grupo Minero-Sílvicola. Esta Comissão era composta por Carlos Vasco Michon de Oliveira Mourão, Leonard Dismore, Herman Kasper e Bernard Blanger, estando sediada nas antigas instalações da Minero-Sílvicola no Porto. Ao mesmo tempo, era nomeada uma Comissão Liquidatária, também liderada por Carlos Mourão, que teria como função vender os bens alemães existentes nas concessões mineiras.

A 26 de Fevereiro de 1945 é elaborada uma listagem por parte da Embaixada dos Estados Unidos em Portugal, que refere as concessões mineiras na posse da Alemanha em território português. Das dezenas de concessões referidas, surgem 16 concessões em nome da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., nomeadamente a concessão do Salto do Lobo, Salto do Lobo 2, Carris 2, Carris 3, Garganta das Negras, Castanheiro, Corga das Negras 2, Lamalonga 1, Lamalonga 2, Lamalonga 3 e Pinhedo, na freguesia de Cabril - Montalegre e destinadas à extracção de volfrâmio; Carris 4 e Carris 5, na freguesia de Cabril e destinadas à extracção de berílio; Cidadelhe e Altar de Cabrões, na freguesia de Vilar da Veiga - Terras de Bouro e destinadas à extracção de volfrâmio.

A 31 de Janeiro de 1946 chegavam a Portugal os três membros de uma Comissão que seria responsável pela inventariação e posse dos bens alemães. Esta Comissão era composta por Bernard A. Blanger (França), Leonard H. Dismore (Grã-Bretanha), Herman Kasper (EUA) e Carlos Vasco Michon de Oliveira Mourão (nomeado pelo Ministério da Defesa Português).


Carlos Vasco Mourão


Leonard H. Dismore

Após procederem à posse dos bens no edifício da Companhia Mineira Lisbonense, e que também servia de sede da Companhia Minero-Silvícola, localizada no n.º 441 da Rua da Constituição, Porto, a 4 de Fevereiro, os membros da Comissão, acompanhados por um funcionário da Inspecção do Comércio Bancário (de apelido Pedroso), deslocaram-se à Serra do Gerês a 6 de Fevereiro.

O complexo mineiro dos Carris era então considerado a segunda mais importante instalação mineira em propriedade da Alemanha em Portugal. O relatório da Comissão descreve a sua localização numa "região extremamente selvagem e montanhosa, a cerca de vinte minutos a pé da fronteira Espanhola." O relatório da Comissão refere que "devido à natureza difícil da zona e por apenas ser servida por uma estrada, estas minas estão completamente afastadas da civilização durante o mau tempo e em ocasiões no passado, o pessoal teve de ser abastecida por meios aéreos."

Após referir que além da extracção de volfrâmio, a mina (abrangendo mais de 249 concessões - certamente referindo-se às concessões na posse da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda. na Serra do Gerês) fornecia esmeraldas, níquel e águas-marinhas, os membros da Comissão foram recebidos por José Rosas Bastos, que chegava ao complexo num carro alugado desde o Porto. Segundo o próprio José Rosas Bastos, ele seria o responsável pelos guardas da mina e pela manutenção da estrada. Questionado sobre a sua presença naquele momento nas Minas dos Carris, Bastos responde que havia sido informado de que a Comissão havia visitado as Minas de Bejanca, referindo que normalmente visitava as Minas dos Carris três vezes por semana. Porém, devido às más condições meteorológicas que haviam ocorrido nos últimos dez dias, não teria conseguido visitar as minas mais cedo. Este facto foi confirmado posteriormente por um Guarda Florestal que acompanhou os membros da Comissão.

Durante a permanência no complexo mineiro, os membros da Comissão examinaram as instalações referindo a existência de um armazém, posto de primeiros socorros, um conjunto de edifícios idênticos, uma cabana, edifício de escritórios, cantina e armazém, um galpão de abrigo de maquinaria, lavaria, galpão de motor, edifícios de armazenagem, cozinha, casa para os casais, vários edifícios de armazenagem com diverso equipamento.

No final da visita, os guardas foram avisados para que não permitissem o acesso ao complexo mineiro por parte dos antigos donos da Sociedade Mineira dos Castelos.

Durante a estadia em Portugal, os membros da Comissão composta pelos representantes Aliados visitaram vários edifícios e instalações que foram utilizados pelas empresas mineiras alemãs. A Garagem Imperial, no Porto, foi visitada por esta Comissão, mas sendo um espaço público, não se pôde proceder à sua selagem para segurar as viaturas, tendo a Comissão feito uma lista das mesmas e avisado o proprietário de que os antigos donos não poderiam ter acesso às mesmas.

Apesar de registadas em nome de outras companhias mineiras, as seguintes viaturas teriam sido utilizadas durante as operações de mineração registadas nas Minas dos Carris pela Sociedade Mineira dos Castelos.

Na garagem encontravam-se os seguintes veículos: 

- Graham 1934 com a matrícula AC-95-92 da Companhia Mineira das Beiras

- Chevrolet 1939 com a matrícula HF-10-93 da Companhia Mineira Lisbonense

- Chevrolet 1940 com a matrícula HD-11-05 da Companhia Mineira Lisbonense

- Buick 1935 com a matrícula AD-46-60 da Companhia Mineira das Beiras

- International Ambulance com a matrícula AB-13-60 da Companhia Mineira das Beiras

- Ford 1937 com a matrícula FB(?)-10-22 da Companhia Mineira Lisbonense

- Klöckner-Deutz 1943 com a matrícula NT-10-59 da Companhia Mineira Lisbonense

- Klöckner-Deutz 1942 com a matrícula NS-10-88

- Studebaker 1938 com a matrícula CC-10-69 da Companhia Mineira Lisbonense

- Mercedes-Benz (em reparação nas Oficinas Palhinhas)

- Lancia (na altura a ser utilizado por Carl Heinrich Jakob e que foi ordenado para ser depositado na Garagem Imperial).

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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