quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Arqueologia, o parente pobre das áreas protegidas

 


Enquanto olhava a chuva que caia e ao pensar nas oportunidades que se perderam no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) ao fim de 53 anos de existência, constatei - numa verdade já há muito consciencializada - que a arqueologia, em todas as suas formas, é o parente pobre das nossas áreas protegidas e em especial no PNPG.

Não é que espere ver um arqueólogo assumindo o papel de um Indiana Jones a percorrer as montanhas, vales e planícies das serranias do PNPG, mas numa proposta de futuro para o nosso único Parque Nacional surgir uma lista do que apenas está à vista, é um mau trabalho e um mau presságio.

De facto, nem o PNPG preserva o seu próprio património histórico - onde pára o arquivo dos Serviços Florestais ou mesmo o arquivo dos primeiros anos do PNPG? Estará na cave da sede do PNPG, naquela sala bafienta e a cheirar a humidade? Terá sido arquivado? Ou, ao melhor costume nacional - e tal como acontece com muita da documentação que estava nas instalações do Vidoeiro - foi todo parar ao lixo?

Posso estar enganado, mas que trabalhos recentes foram realizados pelo ICNF/PNPG? O que se descobriu, o que se preservou?

Porque é que na listagem elencada no Programa Especial do Parque Nacional da Peneda-Gerês não surgem as figuras rupestres de Absedo, as inúmeras construções existentes em pequenos vales e corgas das serranias do PNPG (como, por exemplo, no Curral do Pássaro, Serra do Gerês), as inúmeras áreas mineiras que constituem um património mineiro e uma memória colectiva destas montanhas, a possível anta em Lomba de Pau, a listagem das referências físicas que ajudaram a cartografar o território e construídas no século XIX? Porque se esconde as histórias e existência de velhos povoados medievais? Porque se ignora a História da presença dos Serviços Florestais nas serras do PNPG e o que se fez para preservar o seu património material e imaterial? 

A resposta é simples, tão simples que até dói: pois isto acontece porque quem dirige o PNPG simplesmente não quer gente no território e assim esconde-se ou ignora-se o que por lá possa existir para além daquilo que «já está à vista»!

A Arqueologia é a parente pobre da cultura e necessita de ser apoiada.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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