segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Trilhos seculares - A Sabrosa, os Prados da Messe e o Borrageiro

 


Por estes dias que se apresentam nublados, frios e chuvosos - talvez a antecipar o Outono - lá surgem umas abertas que nos permitem caminhadas mais longas por caminhos já anteriormente calcorreados. Foi o caso deste dia, que me levou a subir a Costa de Sabrosa, sentir a tranquilidade dos Prados da Messe e ser açoitado por um vento forte no alto do Borrageiro.

Manhã tranquila com apenas um ou dois carros a passar por mim na estrada da Mata de Albergaria. Carro estacionado na Portela de Leonte e 'toca a percorrer os 3 km de asfalto até ao princípio da subida da Costa de Sabrosa. Esta é sempre uma trepada agradável de se fazer e nestes dias permite-nos ter um vislumbre dos primeiros sinais do Outono. Não foram as noselhas (quita merendas) a tapetear o chão, os topos das faias no vale do Rio do Forno mostram os primeiros sinais de que vem mudança a caminho. Setembro pode-nos enganar com os seus dias mais frescos, mas as cores das árvores mostram que o Outono está a meras semanas de distância.


Porém, o resto da paisagem mostra os restos de uma noite de chuva em finais de Verão. O céu azul é polvilhado por nuvens apressadas e estas fazem por vezes o horizonte vestir-se de um negrume que nos avisa que, eventualmente, a chuva ainda chega neste dia! Não foi o caso. Subindo encosta acima, o balancear dos ramos mostra o vento que assola os pequenos vales, não fosse a pele também o sentir. Paro aqui e ali, olhando para trás para ver o vale que se vai afundando atrás de mim e por entre o possível silêncio vai-se escutando o passar de um pequeno esquilo ou o tenebroso e zangado aviso de um javali mais tardio. Pelos céus deambulam pequenos pássaros, mas de quando em vez, o som de uma rapina faz com que os pequenos se aligeirem no seu voar.

Subida a Costa de Sabrosa surge-nos o Cabeço do Cantarelo, destino de uma visita dentro de algum tempo quando os dias se tornarem frios e a paisagem se vestir de tons mais quentes. A passagem pela Lameira das Ruivas dá-nos o primeiro vislumbre dos Prados Caveiros a caminho do cimo da Corga da Água dos Vidros. Desta vez não surgiram as cabras-montesas para complementar a paisagem, mas esta é sempre única com o Cabeço do Corno Godinho ou as fragas alcantiladas das Albas. Por seu lado, a fantástica torre do Pé de Medela leva-nos para os contos de fantasia que estas paragens sempre recordam.


Chegado à Lomba de Burro com um forte vento que me acompanha desde que havia chegado a espaços menos protegidos, inicio a descida para os Prados da Messe. Com pouca esperança, esperava encontrar um cantil perdido há já mais de uma semana aquando da minha última passagem por ali. Espanto meu, quando o encontro já a chegar aos Prados da Messe! Ali esteve mais de uma semana sem ser visto por quem ali passa-se, o que acho muito difícil, o que me leva a perguntar "haverá assim tanta gente a caminhar pelas serranias do Gerês?"

Passando as ruínas da antiga casa dos Serviços Florestais, dirijo-me à Fonte dos Prados da Messe, aproveitando o recém encontrado cantil para abastar uma quantidade extra de água. Não é que as fontes estejam secas, mas mais vale sempre prevenir.

Sigo de imediato para as imediações do Curral da Pedra, saindo da Messe, e em breve estou no Porto de Vacas encimando encosta acima na direcção do Curral do Conho e daqui para a Lomba de Pau. Esta é também uma subida que nos põe à prova, mas que desafia o olhar com a paisagem que se vai mostrando atrás de nós com as paredes das Velas Brancas, os altos de Porta Roibas e o colosso de Borrageiros, encimando a paisagem agreste e cinzenta da Serra do Gerês.


Terminando a subida, sigo na direcção do alto da Lomba de Pau passando pelos restos mineiros no seu sopé e no topo admiro, como posso, a paisagem que me leva ao extremo do Parque Nacional da Peneda-Gerês até à Pena de Anamão. Desço então em direcção ao Curral da Lomba de Pau e aqui descanso abrigado do vento que se fazia sentir.

Inicialmente, havia começado a jornada com a ideia de subir ao Borrageiro. Desistia da ideia durante a caminhada, mas logo após sair da Lomba de Pau e de chegar às imediações da Chã das Gralheiras, virei a Sul na direcção das Torrinheiras e seguindo para o alto do Borrageiro, enfrentando assim um vento que quase se tornava ciclónico e que uivava por entre os cabos de sustentação da velha antena. Apreciando a paisagem por breves momentos, descia então através das Lamas de Borrageiro e segui para a Fonte da Borrageirinha. Daqui, a clássica descida para a Chã da Fonte e depois para a Chã da Preza, apreciando a magnífica paisagem do Vale de Teixeira. Ladeando o Outeiro Moço, chegava ao Vidoal e terminava a caminhada na Portela de Leonte após descer a Costa do Morujal passando pela Chã de Carvalho à vista do Pé de Cabril.

Ficam algumas fotografias do dia...





























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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