quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Aspectos biológicos do PNPG

 


Os diversos tipos de paisagem existentes no PNPG são o resultado da distribuição e combinação de um conjunto de elementos geomorfológicos sobre os quais se instalaram as comunidades biológicas. Manifestando-se de uma forma global, como os carvalhais, ou local, como as pequenas turfeiras de cobertura, o PNPG apresenta uma grande riqueza de ‘habitats’, muitos dos quais considerados de conservação prioritária ou com especial interesse pelo Anexo I da Directiva 92/43/CEE (Directiva Habitats).

No Norte de Portugal, em que as influências Atlântica, Sub-atlântica e Mediterrânica se fazem sentir, as florestas de folhosas dominadas por árvores do género Quercus – carvalhais – deveriam constituir a formação vegetal dominante, em formações puras ou associadas a coníferas (Pinus, Juniperus).

As áreas florestais originais do Parque Nacional seriam então constituídas por florestas climácicas de caducifólias, em que os carvalhos constituiam as essências dominantes. Actualmente restritas às regiões de altitude intermédia, é ainda possível encontrar algumas manchas florestais de dimensão razoável e que podemos considerar como representativas da floresta primitiva (mata de Albergaria, a mata do Cabril, a mata do Beredo, a mata do Ramiscal e os carvalhais da Peneda). Estas zonas estão incluídas em áreas de reserva, pelo que é condicionada a sua visita.

Ocupando extensas áreas no interior do Parque, os matos arbustivos resultam fundamentalmente da degradação da floresta climácica pela actividade humana, como consequência de uma pastorícia à base do fogo. São compostos essencialmente por tojos e urzes e, apesar de constituírem sistemas degradados, encontram-se geralmente em situação estável, albergando uma comunidade animal rica. Em zonas próximas dos 1300 a 1400 metros podemos encontrar matos tipicamente de altitude e que não resultam da degradação antropogénica da floresta. Constituem a transição das zonas florestais para as de vegetação alpina, que têm pouca representatividade devido à escassa altitude máxima do Parque Nacional. Estas regiões são de difícil acesso e apresentam formas de relevo de grande beleza.

As zonas agrícolas dos grandes vales e dos planaltos elevados apresentam grandes diferenças entre si. Condicionadas pelo relevo, pelo clima e pela natureza dos solos, as populações humanas adoptaram soluções distintas para garantir a sua sobrevivência. Instaladas sobre solos aluvionais, as populações das zonas mais baixas conseguem bons níveis de produtividade agrícola, mesmo que à custa de uma completa humanização da paisagem. Regiões de elevada densidade populacional, nelas não há grande espaço para a vida selvagem. Nas regiões mais elevadas, como as que correspondem às zonas agrícolas dos planaltos de Castro Laboreiro e da Mourela, porque assentes em solos mais pobres, apenas suportam culturas arvenses de sequeiro e de regadio. É a área produtora de gado por excelência e das pequenas aldeias de montanha. Em redor destas aldeias forma-se um sistema misto de campos de cultivo, lameiros e florestas, unidos por corredores florestais, que dão à paisagem de montanha um aspecto característico. A flora e a fauna destes sistemas são de uma grande riqueza, dependendo intimamente da actividade humana para a sua manutenção.


Agente modelador da paisagem, de que são testemunho os profundos vales do Parque, os cursos de água são também fontes de vida. Pouco profundos e de águas rápidas, os ribeiros de montanha desenvolveram comunidades próprias, constituídas por organismos capazes de resistir à sua força.

Locais por onde a floresta penetra nos vales apertados, as linhas de água correspondem quase sempre a um corredor de verdura que, com frequência, correspondem às únicas superfícies arborizadas de uma montanha altamente degradada pelos incêndios.

Adaptado do texto original.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

2 comentários:

Francisco Ascensão disse...

Rui, nas zonas altas da serra, do Gerês principalmente, haveria muito mais vegetação de grande porte? Hoje em dia, vemos esta vegetação ou em núcleos isolados ou junto de cursos de água, e em escassa quantidade, em comparação com a área total da serra. Olhando de perfil para a serra (elevadas áreas de granito) e tendo em conta as suas características climáticas, será que haveria condições para haverem extensas manchas florestais? Claro que nos vales sim, houve. Como exemplo temos o vale da touça que mostra sinais de clara recuperação arbórea. Mas nas zonas mais descampadas e isoladas, custa-me a acreditar que tenha sido o fogo do pastoreio, a dizimar as árvores

Rui C. Barbosa disse...

É uma boa questão.

Há cerca de dois anos, numa visita guiada ao PN Serra da Estrela, o guia disse-nos que em tempos o alto da Estrela havia sido coberto por um pinhal autóctone. Talvez possa ter acontecido o mesmo nas zonas mais altas do PNPG.