sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Serra do Gerês por trilhos seculares

 


Com o fim de Vilarinho da Furna e da ocupação do território por parte da vezeira desta aldeia, muitos carreiros existentes na Serra do Gerês e na Serra Amarela vão desaparecendo, tomados pela vegetação que vai ocupando o seu lugar. Por outro lado, a memória dos Homens vai-se perdendo e dissolvendo com a passagem dos anos, e os velhos carreiros vão caindo no esquecimento mesmo daqueles da terra.

Um destes exemplos é a subida do Peito de Escada. «Brevemente» posta a descoberto por um incêndio florestal que há uns anos varreu a encosta sobranceira à Mata de Albergaria vindo dos Prados da Messe, o carreiro permita uma subida mais confortável e menos exigente para os Prados Caveiros por parte dos pastores de Vilarinho da Furna. A presença de toscos muros de sustentação e de troços timidamente lajeados, indicam a importância daquele caminho para a comunidade. Com o desaparecimento de Vilarinho da Furna e o fim da utilização dos Prados Caveiros como local de pernoita dos pastores, a Natureza acabou por tomar conta do caminho.



Iniciando a caminhada junto dos Viveiros da Albergaria, segui pela Geira Romana até perto da Ponte de S. Miguel onde tomei um carreiro que me levou para a estrada da Mata de Albergaria, Tomando então o velho carreiro pastoril, este sobe a encosta pela margem direita do Ribeiro de Monção, levando-nos a ganhar altitude num serpentear suave. Do outro lado do vale facilmente se reconhece alguns dos locais por onde passa o carreiro que trepa a Costa de Sabrosa em direcção aos Prados da Messe.

A certo ponto, a paisagem começa a abranger a parte inicial do Vale do Alto Homem, Vale de S. Miguel, Portela do Homem, além da Costa de Varziela, Pena Longa, Mata de Albergaria e o começo da albufeira de Vilarinho das Furnas... a barragem! Por várias vezes conseguimos ver o que resta do trabalho de consolidação do caminho para os pastos de altitude com a presença de muros e lajes no chão.

Terminada a subida mais acentuada, chegamos a Lamas da Escada e a partir daqui o percurso torna-se mais plano até chegar aos Prados Caveiros. Aqui impera o silêncio e a tranquilidade, além dos ecos do passado e da sensação de se estar quase num local sagrado. Os Prados Caveiros são daqueles locais na Serra do Gerês onde parece que sentimos uma presença para além de nós, quase como se a Natureza viva nos quisesse falar ou fazer sentir o quão especial aquele local é.

Deixando os Prados Caveiros para trás, rumei em direcção à Lomba de Burro e passei sobre os Prados da Messe, seguindo na direcção do colosso granítico do Pé de Medela e tendo a oportunidade de ver o vale do Rio do Forno em todo o seu esplendor outonal. Com o jogo de sombras das nuvens a deslizar pelas serranias, estava perante uma paisagem imensamente bela e grandiosa. O cenário ia-se compondo e o vento frio fazia com que o passo se tornasse mais ligeiro, passando ao lado do colosso granítico do Pé de Medela e descendo para o Curral de Carris de Maceira.

Ao seguir pelo topo do Vale da Ribeira de Cagademos em direcção a Fontaíscos, notei o Outono em toda a sua força nas Fragas da Corneda e enveredei então pela descida para o Curral de Maceira, entrando depois na estrada da Mata de Albergaria que me levaria ao ponto de partida.

Ficam algumas fotografias do dia...





























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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