Localizando-se em plena Serra do Gerês e numa das suas áreas mais acidentadas, o acesso ao Salto do Lobo era inicialmente feito por trilhos de montanha designados como “carreiros” ou caminhos de “pé posto”. Porém, para um melhoramento das infra-estruturas mineiras que trouxessem o consequente aumento de produtividade seria necessário recorrer à abertura de uma estrada até ao local de mineração. A opção mais óbvia seria abrir o caminho tirando partido de um percurso de montanha que percorria o Vale do Alto Homem desde a Portela do Homem, beneficiando da ligação já existente até à Portela de Leonte e depois até Braga passando pelas Caldas do Gerês. Este caminho iniciava-se junto de uma velha porte de madeira que atravessava o Rio Homem perto do denominado Curral de S. Miguel. Esta ponte era já na altura erradamente referida como Ponte de S. Miguel, ponte esta que estava localizada várias centenas de metros a jusante da ponte de madeira e que havia sido destruída pelas populações serranas a quando das invasões francesas para dificultar a progressão dos exércitos napoleónicos. O caminho percorria o Vale do Alto Homem até ao local chamado Água da Pala e aqui atravessava o Rio Homem para a sua margem direita que era percorrida até alguns metros acima do Cabeço do Modorno, voltando para a margem esquerda e continuando até à Chã das Abrótegas.
Os trabalhos de construção terão atingindo proporções quase épicas para vencer as vertentes da margem esquerda do Vale do Homem entre a Ribeira de Cagarouço e o Cabeço de Modorno. Em muitos locais são ainda nos nossos dias visíveis as marcas criadas pelas explosões da dinamite utilizada para quebrar o granito da montanha, tornando-se o avanço difícil com a chegada à garganta na vertente no Modorno.
Os trabalhos de construção terão atingindo proporções quase épicas para vencer as vertentes da margem esquerda do Vale do Homem entre a Ribeira de Cagarouço e o Cabeço de Modorno. Em muitos locais são ainda nos nossos dias visíveis as marcas criadas pelas explosões da dinamite utilizada para quebrar o granito da montanha, tornando-se o avanço difícil com a chegada à garganta na vertente no Modorno.
A ponte sobre o Rio Homem junto do início do caminho para os Carris em Setembro de 1908
(Illustração Portugueza n.º 137, 5 de Outubro de 1908)
Era através deste caminho que Manuel Lages, então com 8 anos de idade, transportava barrotes de madeira com 2,5 metros de comprimento, “era uma vida muito dura, mas tínhamos de trabalhar. Em Albergaria, onde começava um estreito carreiro, carregávamos os barrotes e dali caminhávamos toda a manhã até aos Carris, regressávamos a Leonte e de tarde voltávamos a fazer o mesmo!” Muitas destas jornadas demoravam um dia completo com os homens a pernoitarem no Palão do Concelho, onde cabiam dez homens, a meio do Vale do Rio Homem junto às Curvas do Febra. O minério era trazido em mulas desde as explorações nos Carris até Albergaria onde era colocado em camionetas que o levavam para o Porto. A sociedade possuía vários estábulos nas Caldas do Gerês, mais precisamente em Pedrógo, que serviam de abrigo às mulas.
Em princípios do Século XXI ainda eram vulgares as histórias do minério pela oralidade dos mais idosos. As gentes de Fafião, Cabril, Pincães, Outeiro ou Pitões das Júnias, contam as histórias dos dias de miséria a calcorrear as serranias entre as aldeias e as minas (Carris e Sombras) a “carregar pedras de minério num cesto de verga a cabeça, pela serra sozinha e com os filhinhos pequeninos”, tal como se recordava Fernando de Matos, natural de Fafião, contado pela sua avó.
O vale do Alto Homem depois da passagem do Modorno com o recém aberto caminho até ao complexo mineiro dos Carris
A 20 de Abril de 1943 a Sociedade Mineira dos Castelos faz o requerimento para a reparação e melhoramento do caminho florestal no Vale do Alto Homem. O despacho ministerial a autorizar estes trabalhos é emitido a 19 de Maio e comunicado à sociedade mineira a 24 de Maio. A 3 de Junho é feito um requerimento para a utilização da estrada entre a Portela de Leonte e a Albergaria, utilização essa que é autorizada por despacho ministerial a 16 de Junho e que é comunicado à sociedade mineira a 22 de Junho.
As obras de abertura e melhoramento da estrada foram uma fonte de trabalho para muitos homens das aldeias vizinhas mas não só, estando também presentes operários vindos do Alentejo. Segundo Manuel Joaquim Correia, citado no capítulo 7 do artigo ‘As Minas dos Carris da Serra do Gerês’ publicado no Jornal Geresão “…na abertura da estrada andaram umas 1.600 pessoas (…) em 1943 seriam umas 3.000 pessoas a trabalhar na abertura da estrada, na construção de instalações e na exploração mineira.”
Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013)
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados) - Excepto onde indicado
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