sábado, 23 de agosto de 2014

215... Os grifos e demais vieram saudar-nos nas Minas dos Carris


Minas dos Carris, 23 de Agosto de 2014

Um excelente dia de serra foi o que trouxe este dia que começou cedo com uma subida pelo Vale da Ribeira da Abelheira. Esta é uma excelente «porta de entrada» para o Gerês profundo e silencioso, onde a Natureza se auto-resume às imagens e paisagens que nos brinda no topo do vale. A subida exige das pernas e dos pulmões, principalmente quando começamos logo a desbravar o Gerês desta forma. Porém, a paisagem compensa com o Rio Cávado a afundar-se cada vez mais na paisagem lá para trás e o Alto das Eiras a merecer o seu nome à medida que vamos vencendo os mais de 200 metros de declive que se espalha ao longo do vale.

A chegada ao topo do vale, um pouco à esquerda de Entre Caminhos, permite-nos ver parte da Serra do Gerês em toda a sua esplendorosa magnitude. O olhar vai abarcar desde o Castanheiro até aos Cornos de Candela com a imponência do Compadre espalhada perante nós. É um cenário de um verdadeiro épico de J. R. R. Tolkien onde as montanhas nos fazem imaginar seres lendários e aventuras cinematográficas, ou então, num fechar, de olhos ter a sensação de que algo ao longe vibra nas profundezas na Terra. A visão das escarpas que anunciam as Minas dos Carris faz-nos transportar para as epopeias do volfrâmio onde a serra era calcorreada pela miséria em busca de um parco sustento. Imaginamos também os dias ásperos dos contrabandistas que percorriam aqueles ermos com as mercadorias de um para o outro lado da fronteira. Tempos de miséria que uma Revolução prometeu acabar, mas que uns poucos decidiram eternizar...



Saciada a alma com tamanha visão, é tempo de arrepiar caminho que o Sol levanta-se já alto e o calor pode apertar. Ali, a água escasseia e talvez só lá no fundo do vale se possa adormecer a sede. Assim, descemos para a Biduiça, com o seu curral e o seu novo abrigo que orgulhosamente as gentes serranas ali puseram de pé. A Ribeira da Biduiça não corre com muita água, mas é a suficiente para acalmar a ânsia da sede e encher as garrafas e cantis até à próxima demanda.

Caminhando ao longo do vale, e ficando o curral para trás, vamos procurando as mariolas que nos levariam ao bordo do Vale do Ribeiro das Negras e passar pelos Currais de Matança. Local de histórias e lendas, a Matança tem o seu nome originário de várias explicações que vão desde a matança de mouros pelo Rei Pelayo até à matança de ladrões de gado em rixas entre vizinhos dos dois lados da fronteira. Passamos os currais e a eira que lá perto escondida está, e subimos para a Lamalonga que se abre no fim da corga de mesmo nome. No topo desta, altaneira como um castelo perdido nas escarpas de um conto esquecido, a lavaria assinala a longa presença do Homem naqueles lugares. Esventrando o chão em busca do ouro negro, escavou-se demasiado fundo e é lá na escuridão onde agora moram as memórias de outros tempos. Muitos querem que elas lá fiquem, esquecendo-se que essas memórias são a continuação natural de uma História que pinta de contos, lendas e dor as paisagens do Gerês.



Eis-nos uma vez mais chegados às Minas dos Carris! Os seus edifícios vão-se cada vez mais confundindo com a paisagem que aos poucos vai retomando o tom natural. O cenário compõe-se com o voo dos grifos e demais que vieram saudar-nos na nossa chegada. Pouco depois foi a vez dos cavalos marcarem de forma harmoniosamente ruidosa a sua presença por entre as ruínas onde procuram um abrigo do Sol. A temperatura é amena e um vento fresco ajuda a suportar o calor.

Registados os momentos e com os corpos descansados, iniciamos o regresso passando pelas ruínas e cruzando com algumas pessoas cujo comportamento deixa um pouco a desejar. O problema é que este comportamento deve ser diferente 'lá fora', pois 'lá fora' é que é porque aqui não presta. Não compreendo a dificuldade em vocalizar um simples 'boa tarde!' ou 'bom dia!' e ainda por cima olham-nos como se fossemos completamente parvos ao saudá-los! Esta gente que vá tomar um banho público!...



Atravessando a triste paisagem de ruínas, chegamos à represa e de seguida passamos pela escombreira escondida na outra margem antes de iniciar a descida que nos levaria a percorrer a Garganta das Negras em direcção à concessão mineira com este nome. Este é o único local onde se pode observar os vagões mineiros que eram utilizados para transportar o minério ou o escombro do interior para o exterior da mina. Alguns deles jazem, esquecidos, por entre a vegetação enferrujando ao Sol e aos elementos.

O percurso levar-nos-ia de seguida aos Currais das Negras onde uns simpáticos cavalos nos vieram saudar e depois descemos para o Curral das Rochas de Matança, passando depois novamente pela Biduiça a caminho do Vale da Abelheira.

E assim foi mais um dia a Serra do Gerês...



















































































Fotografias © Rui C. Barbosa

3 comentários:

Unknown disse...

Muitos parabéns Rui!
Excelente descrição do magnífico passeio e belas fotos que o ilustram!
Não sabe as memórias que me avivou, nem a "inveja" que senti por não poder desfrutar de tão sublimes paragens!
Com muita estima,
António Machado e Moura

Unknown disse...

MUITO BEM!

Rui C. Barbosa disse...

Muito obrigado, António!