terça-feira, 19 de agosto de 2014

Trilhos seculares - Em terras de Fafião


Caminhar por terras de Fafião é experimentar aquele Gerês que nos faz imaginar as mais altas montanhas e os mais profundos vales. Caminhar em terras de Fafião é experimentar os grandes espaços, viver uma aproximação natural às coisas e dar valor a cada nascente de água que brota das entranhas da Terra. Caminhar em Fafião é experimentar a dureza da montanha e a paixão das suas gentes que a moldaram consoante as necessidades de uma vida dura e de luta. Em suma, não se conhece o Gerês se não se caminhar pelo menos um par de vezes pelas terras de Fafião!

Assim, o percurso de hoje levar-nos-ia pela mais profunda das corgas até ao mais alto dos currais; dos mais apertados espaços até ao mais amplo dos horizontes que nos deixaram ver os píncaros a rasgar o azul do céu. Tirando proveito das vicissitudes da montanha, aqueles trilhos vencem os declives e suplantam as escarpas, tornando possível o que ao longe pensamos intransponível. Parte do trajecto não foi novidade, pois já o havia percorrido anteriormente, mas algumas passagens permitem completar um pouco mais o verdadeiro puzzle ou labirinto de carreiros que «riscam» a paisagem geresiana. Cada um destes troços conta a sua própria história e este, por muito que se conheça, é uma história sempre, mas sempre interminável.

Começando no emaranhado de estradões que mais tarde ou mais cedo confluem a Fafião, prosseguimos em direcção à chamada Ponte da Matança através do encaixado vale do Rio de Fafião. Ao fundo este vale permite-nos observar a extremidade Sul de Porta Ruivas e parte de Lagarinho, mas a característica que pouco depois nos chama a atenção são as paredes aprumadas deste vale. O carreiro vai percorrendo e serpenteando ao logo do vale, ora ganhando altitude ora baixando de forma decidida para a Ponte da Matança que só se deixa ver já quase no final da descida. Uma recente limpeza em parte do percurso torna-o mais fácil de ser percorrido, mas todo o cuidado é pouco quando se caminha em traçados como este (especialmente em dias húmidos).

Subindo ao lado da Corga de Carnicente, o carreiro vai ganhando altitude até uma pequena chã na qual decidimos seguir por um outro trilho. Naquela zona são muitos os pequenos percursos que facilmente nos podem levar a decidir a enveredar por veredas perigosas que nos levam ao fundo de corgas ou vales. Passados pelo Cortiço, e perante uma imensidão intransponível, rumamos encosta acima chegando pouco depois ao Curral de Bebedoiro. Daqui, prosseguimos por um trilhos bem marcado até ao Curral da Amarela e ao marco triangulado da Amarela que nos permitiu ver uma paisagem soberba sobre o Vale do Rio Laço, Iteiro d'Ovos, Porta Ruivas, Touça e outros píncaros serranos. A chamar a atenção, a outra margem do Rio do Porto da Lage e do Rio de Fafião é um desafio a revisitar brevemente.

Depois de um merecido descanso e de um retemperar de forças, deixamos o Curral da Amarela para trás e seguimos para o Curral dos Bicos Altos. Utilizamos um percursos que nos levou um pouco mais acima do que habitualmente utilizo quando faço no sentido contrário o que acabou por ser uma boa surpresa em termos paisagísticos e de distância (pois aparentemente este traçado acaba por ser mais curto). Passando pelo Curral de Bicos Altos, seguimos em direcção a Pousada onde tomamos o percurso do Trilho da Vezeira de Fafião chegando à Chã de Touro de Trigo e seguindo por um carreiro que nos levaria de volta à  pequena chã antes de descer à Ponte da Matança, prosseguido já no sentido inverso do percurso que aí nos havia levado.

Algumas imagens do dia...























































































Fotografia © Rui C. Barbosa

1 comentário:

Carlos M. Silva disse...

Olá Rui

Belíssimo post este sobre as Terras de Fafião que só em 2011 conheci, pois só aí eu e amigos virámos a bússola para esse 'Gerês maciço e duro'!
Conheci e fiz parte do trilho que terás feito, numa aventura de pura descoberta e com apenas indicação do destino final que pretendíamos, lá bem no topo do qual se vê as Sombrosas que quase apetecia esticar os braços e chegar lá (o que não foi feito). E claro, uma pequena ajuda mas preciosa, recolhida no momento, junto de um pastor nos arredores da Ponte da Matança.
Reconheço alguns dos sítios das tuas fotos mas escusado será dizer que não sabia os nomes por onde passávamos.
Obrigado pelas informações que ao longo das palavras corridas vais deixando para identificação desses lugares.
Abraço
Carlos M. Silva