Há uns anos atrás fiz parte deste trilho entre Fafião e a Rocalva. Naquele dia estava muita chuva e nevoeiro o que limitou profundamente a contemplação da paisagem pintada então em tons de cinza. Hoje, aproveitando a calmaria meteorológica antes da chegada da borrasca, decidimos percorrer a totalidade do trilho. Foram cerca de 20 km de paisagens agrestes como só a Serra do Gerês sabe oferecer.
Começamos então cedo em Fafião ainda o Sol não tinha aparecido por detrás da Cabreira. Enveredamos pelo estradão florestal durante os primeiros quilómetros e depois entramos nos seculares trilhos da vezeira. A paisagem já aparecia pintada em algumas zonas com o negro do último incêndio naquelas paragens, mas o que nos esperava ao virar o caminho era demasiado desolador. O incêndio foi inclemente e grande parte da encosta esquerda do vale do Rio do Porto da Lage / Rio Fafião está toda de negro com o trilho bem definido como uma veia branca na paisagem. A paisagem compõe-se no Porto da Lage com a sua represa quase sem água. Daqui passa-se rapidamente para a Touça e inicia-se a subida que nos levará ao longo do vale do Rio da Touça até às Fechinhas. É notável o trabalho de recuperação e preservação feito pelas gentes de Fafião. Muitos dos abrigos (fornos e cabanas) estão bem recuperados e identificados (com a excepção do abrigo do Porto da Lage, mas por razões que serão óbvias). Touça, Fechinhas, Rocalva, Pradolã (Prado-lã), são currais recuperados por estas gentes.
Depois do repasto na Cabana de Fechinhas iniciamos a subida que nos levaria à Rocalva através da Mourisca. pelo caminho iam surgindo sinais de outras mariolas, outros caminhos seculares que a seu tempo serão percorridos talvez com as cores quentes do Outono ou com o gélido frio do Inverno. A subida foi penosa ao início da tarde, mas passado algum tempo estávamos a descansar junto do frondoso carvalho perto da Cabena de Rocalva. Iniciava-se depois a descida para Fafião... e que descida é esta! Aqui, a recordação fazia-me lembrar de alguns detalhes da montanha... os Ovos por detrás da Rovalva, a passagem pelo Videirinho ao lado do Caucão, o Estreito com as vertentes para o Rio Conho e para o Rio Laço, a passagem pela cruz gravada na rocha e a chegada ao Pradolã com a sua peculiar cabana e a deslumbrante vista dos Bicos Altos. Depois de passar a Carvalhosa, o objectivo era chegar ao estradão que nos levaria a Fafião após mais uma martirizante subida.
Foi sem dúvida um dia fenomenal em antecipação de mais uma visita às Minas dos Carris...
Algumas fotografias...
Fotografias © Rui C. Barbosa
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Ah Rui!!! :(
Eu vi esse cenário, como também vos vi passar mas não sabia quem era. Eu estava num alto do outro lado do rio a apreciar a paisagem, tinha la passado a noite numa cabaninha que há la. Estava naquele alto a pensar que quem passaria ali naquele momento iriam ter um triste cenário:( e foi quando vi gente a passar. Visto dali, e vendo a dimensão daquele incêndio doí-me o coração,a área ardida é enorme. Quando cheguei a Fafião perguntei o que foi que provocou aquele incêndio... a resposta penso que para ti já deve ser mais do que evidente (vingança).
Lembro bem daquele famoso dia de chuva e nevoeira. Temos de marcar um dia deste outra caminhada,já ando com saudades da vossa companhia :)
Saudações montanheiras :)
Enviar um comentário