quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Trilhos Seculares - Escalheiro e Portela de Leonte / Prado Amarelo / Curral Velho

Um mês depois de percorrer pela primeira vez o trilho que partindo do Escalheiro percorre parte da Costa da Laje, decidi lá voltar pois a primeira vez fui interrompido pela queda de granizo e evidência de mau tempo. Desta vez, sobre um céu azul, comecei a caminhar desde a Portela de Leonte e segui pelo antigo caminho florestal que percorre a chã ao longo da estrada nacional. Finalmente encontrei o velho caminho que segue em direcção ao Pé de Cabril. Este estava cheio de mato e como não era meu objectivo por ali seguir, fica agendada nova visita para Janeiro.

Chegado ao Ecalheiro, onde em tempos existia um pitoresco canto bucólico que degradado acabou por ser desmantelado, enveredei então pelo meu já conhecido trilho. O objectivo era simplesmente ver até onde me levava. sabia de antemão que não é este o caminho para o Pé de Cabril e sabendo que a encosta se torna cada vez mais íngreme há medida que vamos acançando no vale, sobrava a curiosidade de saber onde terminava. De facto, a resposta surgiu rapidamente. A certa altura encontrei-me num verdadeiro cenário de guerra num campo de batalha contra as mimosas por parte do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Uma tentativa de enveredar a festo e depressa decidi voltar para trás.




A curiosidade sanada, era altura de me dedicar ao terceiro objectivo do dia (o primeiro fora visitar o Penedo da Freira, neste dia de 'Uma Lenda e Dois Trilhos'). Este objectivo era o de visitar o Prado Amarelo e saber se era possível a passagem para o Curral Velho.

Regressado à Portela de Leonte segui então pelo estradão que vou chamar de 'Estradão Arthur Loureiro', pois inicia-se junto ao monumento em memória deste ilustre amante do Gerês. Ainda antes de chegar ao início do trilho para o Pé de Cabril (ou 'Trilho Ferrata'), encontrei um novo caminho e sabendo que este me levaria ao meu objectivo, por ele segui. Vencendo as curvas de nível, depressa chegava junto da grande mariola que já há umas semanas me havia chamado a atenção. Mariolas deste tamanho na serra só têm um significado: uma junção de caminhos. E ali estava, seguindo pelo lado Oeste do (Alto do) Cancelo, o secular trilho seguiria em direcção ao Prado Amarelo. Pelo caminho a sublime visão do imponente Pé de Cabril e o magnânime cenário da Serra Amarela e da albufeira espelhada da Vilarinho da Furna.

Ao tentar desvendar um segredo, logo outros se levantam. E foi assim que ali decidi lá voltar brevemente para desvendar o destino de «novas» mariolas que se perdiam encosta abaixo. Chegado ao Prado Amarelo a curiosidade de ver para lá do bordo granítico que me definia o pequeno horizonte. Assombrado pelo silêncio que ali reinava, naquele Prado Amarelo, tirei a mochila das costas e pousei o bastão. A paisagem do vale que se deparava sobre mim e a magestade da montanha não encontra em palavras valor tão grande para as descrever e nem em imagens cores dignas de a representar. Ali, estava uma paisagem de sentimentos indescritíveis.

Alguns minutos naquele profundo silêncio e perante a grandeza do que estava perante mim, com o calor do Sol em final de Outono a aquecer a pele do rosto, foi algo que valeu por todo o dia.

Por momentos escutei a passagem rápida das rapinas que cruzavam, ensurdecedoras, o céu. Era tempo de prosseguir a jornada e continuando a caminhar para Norte, passei muito perto do velho trilho onde havia estado há umas semanas atrás ainda no primeiro dia de neve. Subindo e descendo pequenos vales, passando por colos estreitos e percorrendo florestas de velhos carvalhos, chegava enfim ao Curral de Velho, encontrando assim a passagem que desejava. Daqui, desci em direcção à Ponte de Maceira por uma paisagem muito diferente da que havia encontrado da última vez com os meus companheiros de jornada, enterrados na neve e maravilhados com cenários da Terra Média.























Fotografias: © Rui C. Barbosa

Sem comentários: