Um dos problemas que aflige o concelho de Terras de Bouro, ou pelo menos parte dele, é a denominada "sazonalidade".
O Conselho das Finanças Públicas define a sazonalidade como "a presença de variações que ocorrem em intervalos regulares específicos inferiores a um ano, tais como a frequência diária, semanal, mensal ou trimestral. A sazonalidade pode ser causada por vários fatores, como o clima, os períodos de férias, fins-de-semana e feriados, e consiste em padrões periódicos, repetitivos, geralmente regulares e previsíveis nos níveis de uma série cronológica."
Aparentemente, o turismo na Serra do Gerês, ou pelo menos em parte dela, sofre desta «grave» síndrome desde sempre. O ambiente começa a «mexer» em Maio, mas em meados ou finais de Setembro, os números do turismo caiem e é ver restaurantes a fechar, hotéis e alojamentos encerrados. A vila termal regressa a uma tranquilidade por muitos indesejada... ou talvez não.
Há já vários anos que a promoção turística é baseada nas cascatas e lagoas, enquanto o resto do ano vai-se aguentando como se pode. Porém, a realidade da segunda quinzena de Setembro ou mesmo o mês de Outubro mostra que poderia ser diferente.
Sim, a sazonalidade afecta outra regiões de montanha não só em Portugal como noutros países. Veja-se o exemplo do Parque nacional dos Picos de Europa onde os meses de Inverno levam muitos restaurantes e estabelecimentos hoteleiros a fechar. Mas, por que é que isso acontece? Bom, acontece porque o acesso à montanha torna-se impraticável para muitos, pois os carreiros e estradas de montanha estão encerradas por metros de neve. Mesmo assim, o afluxo turístico é constante (apesar de baixo), o que leva o sector do turismo a fazer umas férias em Janeiro.
A montanha está lá, sem cascatas, sem lagoas e é sempre um destino turístico todo o ano.
O que se passa por cá? A fotografia em cima mostra o estacionamento da Portela do Homem no dia 10 de Novembro de 2024. Um dia cinzento e com alguma chuva. No entanto, quem encheu o estacionamento não estava ali para usar as cascatas e lagoas do Rio Homem. Estava ali para ver um produto ignorado nas festas de Maio, ignorado pela promoção turística do concelho: a Mata de Albergaria no Outono ou as montanhas do Gerês. E eram «muitas» as pessoas que caminhavam pelos bosques apreciando a beleza natural da Serra do Gerês, e apesar de «muitas» quase que nem se notavam. Estas pessoas vieram visitar o Parque Nacional, não vieram para a praia...
Quando pertenci a uma associação de promoção turística do Gerês cheguei a sugerir a ideia de se fazer um Festival de Outono na Mata de Albergaria para de certa forma atrasar a maldita sazonalidade. Fui ignorado. Cheguei a sugerir a promoção de um turismo de Inverno numas montanhas nas quais se pode caminhar, mesmo com dias de neve. Não quiseram saber. Interessam festas de bruxedo sem qualquer base na cultura do território e outras que tais.
Infelizmente, dá-se primazia a um turismo desordenado, medíocre e que não respeita o território. O "Gerês" é sempre visto como um destino que deve ser barato e que deve oferecer as condições do Mónaco ou das praias de Ibiza. O resultado está à vista com visitantes que não se respeitam e não sabem respeitar.
Assim, continuaremos felizes e contentes, mas sempre a queixarmos da sazonalidade que podemos diminuir... todavia não queremos.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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