quarta-feira, 6 de março de 2024

Vou à neve, e agora?

 


Com os anunciados dias de neve e do "maior nevão dos últimos anos", deixo-vos aqui alguns conselhos pertinentes para quem se vai aventurar. Recordem-se que o "síndrome Decathlon" é muito enganador e que na maior parte das vezes não basta estar bem equipado para as condições que podemos encontrar.

Antes de mais, convém fazermos uma lista do que devemos levar! Pois é, eu sei que gostam de uma mochila leve e que depois o cansaço fica mal nas fotografias do Instagram, mas os homens e mulheres das patrulhas de resgate não têm de se arriscar devido à vossa comodidade.

Assim, que não falte: roupas que nos protegem do frio do Inverno, da água, da neve e do vento; calçado adequado à caminhada que pretendem realizar e polainas de Inverno; se necessário, equipamento para se deslocarem na neve ou gelo (raquetes de neve, piolet e crampons); água, comida e alimentos energéticos suficientes; (se for o caso) proteção solar, tais como creme, óculos de sol, chapéu, etc.; kit de primeiros socorros; equipamento de orientação (mapa, bússola, GPS) e lanterna; equipamento de comunicação e aviso (telemóvel, apito, rádio, colete reflector); material de reparação (laços, arame, fita adesiva, etc.)

Por vezes, não temos noção do que o frio é capaz..., na verdade, por vezes nem temos noção do frio e como devem imaginar, nas montanhas de Inverno, as temperaturas podem ficar muito baixas. É obrigatório usar sempre roupas que nos protejam do frio, da água e do vento. Recordem-se que vão caminhar em ambiente de montanha numa época em que é muito comum encontrar temperaturas abaixo de zero, e se é muito bonito termos vídeos a atravessar torrentes, a hipotermia por vezes chega sem avisar.

Uma pessoa pode sobreviver semanas sem comida, dias sem água, mas apenas algumas horas sujeita, sem proteção suficiente, a uma temperatura ambiente baixa.

A forma de vestir mais recomendada para combater o frio é o sistema em camadas ou "tipo cebola". Consiste em manter-se aquecido colocando várias camadas de roupa em vez de usar uma única peça de roupa muito grossa. Este sistema permite-nos vestir ou tirar a roupa facilmente dependendo das nossas necessidades.

Por isso, deve-se usar sempre várias camadas quentes de roupa térmica (não de algodão porque absorve o suor e mantém-no junto ao corpo em forma de humidade que nos refresca), e pelo menos uma peça de roupa à prova de vento e impermeável.

Não esquecer que as pernas também devem ser protegidas com calças que não absorvam humidade. Em situações adversas, as calças impermeáveis e uma malha térmica por baixo podem ser uma boa combinação. Além disso, para nos protegermos do frio, não podem faltar meias extras, luvas (dois pares, umas finas e outras grossas) e um chapéu ou passa-montanhas.

Como se vestir em camadas? Este sistema consiste em usar 4 camadas de roupa, cada uma tendo a sua função de proteção contra o frio e agentes externos, permitindo assim combiná-los dependendo das condições do momento.

A Primeira Camada deve ser composta camisa térmica de manga comprida com a função de fornecer ou preservar o calor e manter o suor longe da pele. A Segunda Camada é composta por um forro de lã, e dependendo do frio esperado, esta camada pode ser mais ou menos espessa e tem como missão, tal como a primeira camada, manter o calor gerado pelo nosso corpo enquanto transpira o suor gerado. Segue-se a Terceira Camada que deve ser respirável e impermeável à prova de vento, pois com esta camada conseguimos isolar-nos do ambiente exterior e assim manter secas as camadas quentes e evitar que o vento não nos arrefeça. Finalmente, a Quarta Camada cuja função será conservar o calor quando não estivermos em movimento.

Certamente que já ouviram dizer que "o que protege do frio, protege do calor!". Pois, este sistema de camadas pode ser usado mesmo no Verão, simplesmente substituiremos a manga comprida por manga curta e a espessura da segunda camada.

Muitas vezes, somente olhamos para a previsão das temperaturas e não damos a devida atenção à velocidade do vento que pode criar uma diferente "sensação térmica".

Pois a combinação de vento e frio faz-nos sentir uma temperatura ambiente inferior à que sentimos sem o vento. O vento forte e o frio formam uma combinação muito perigosa. Com temperaturas abaixo de zero, o vento acelera o arrefecimento da pele e pode causar queimaduras graves em muito pouco tempo. Nas montanhas deve ser levado atentamente em consideração, pois pode ser causa de hipotermia e cansaço.

As botas bonitas nas montras

Pois é. Muitas vezes, olhamos para as botas e damos mais valor ao seu aspecto do que à sua verdadeira utilidade. As nossas botas - e se tivermos um par para cada situação, melhor - devem ser apropriadas para a caminhada que nos propomos realizar e a utilização de equipamentos técnicos específicos (raquetes de neve, crampons, esquis, etc.) deve determinar a sua escolha. 

As botas não têm de ser as mais caras nem as mais técnicas da loja... mas têm de ser botas adequadas para caminhadas de Inverno. Assim, as botas devem: ter um cano alto e devem proteger os tornozelos; a sola deve ter uma rigidez média ou alta e com área suficiente; devem manter os pés quentes, confortáveis e deve poder usá-las com uma meia mais grossa que o normal; devem ter a possibilidade de incorporar crampons; devem ter algum tipo de tratamento impermeável; se o cano das botas não for muito alto, ou se planeamos caminhar em neve profunda, as polainas impedirão a entrada de neve pela parte superior do cano da bota; e devemos acostumarmos às botas antes de iniciar a caminhada e nunca usar botas novas no dia em que se fizer uma longa caminhada!

Deve-se usar botas que não sejam só confortáveis, mas também seguras, pois teremos de caminhar muitas horas com elas. Não esquecer um par de meias extra na mochila!

A alimentação

Um dos muitos aspectos que tenho visto descuidados em muitas situações (quer de Inverno, quer de Verão), é a quantidade e tipo de comida que muitas pessoas levam para as caminhadas. Mais uma vez, por vezes, o factor peso faz com que levemos pouca quantidade de comida e isso, mais cedo ou mais tarde, tem consequências.

Quando fazemos qualquer actividade física, o nosso corpo exige água e comida, isto é, energia. A procura é ainda maior, se as condições em que a atividade se desenvolve forem mais duras, como é o caso das montanhas invernais.

A água é um elemento vital que o corpo consome para manter a sua actividade, evacuar resíduos e refrescar-se. O seu consumo insuficiente leva a um dos maiores problemas que podemos enfrentar, a desidratação, e esta é muito comum no Inverno!

Os alimentos, especialmente os alimentos de energia rápida, fornecem energia aos músculos e repõem os minerais perdidos através do suor e da urina. A ingestão insuficiente de alimento causa fadiga e fraqueza.

Por norma, devemos acostumar a beber antes de sentir sede e a comer assim que a fome aparecer. Um bom truque, é beber sempre que nos lembramos de água, é um sinal que o corpo nos dá!

No Inverno, uma garrafa térmica com bebidas quentes como o chá pode ser uma óptima ideia, pois com isso conseguimos nos hidratar e também aumentar a temperatura corporal.

E de facto há que ter atenção a um detalhe importante, muito antes da neve, podemos ter muita chuva, vento e frio. Assim, para aqueles que se aventuram na serra nos próximos dias, muito cuidado e uma boa preparação do equipamento (roupa, calçado, etc.), da alimentação (alimentos energéticos, etc.) e das capacidades físicas de cada um (o voltar para trás é, acima de tudo, um acto de consciência e inteligência).

Fonte: "Guía básica para practicar montaña invernal con seguridad"

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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