Muitas vezes ao percorrermos os velhos carreiros pastoris da Serra do Gerês e ao contemplarmos as paisagens que nos oferecem nas diferentes estações do ano, vão-se notando pequenas características que chamam a nossa atenção e que na altura nos levam a pensar "da próxima vez que por aqui passar, tenho de ir ali!"
Sabemos que a distância ou que os pequenos desvios não farão muita diferença na caminhada, mas acabamos sempre por os adiar, "na próxima, não falha!" E vamos adiando, mais uma vez e depois outra, até que acabamos por passar anos nestes pensamentos.
Uma destas situações ocorreu-me nos últimos anos após a subida do vale que, vindo de Porto de Vacas, nos leva ao Curral do Conho. À nossa esquerda, eleva-se uma série de pequenas elevações encimadas por velhas mariolas e que marcam sem dúvida a paisagem, chamando a nossa atenção. Já por ali havia andando há já muitos anos quando procurei outra perspectiva de Velas Brancas e Porta Roibas afundando-se para as Sombrosas e Fichinhas, mas o tempo foi passando e as sensações de lá ter estado, apesar de recordar-me da paisagem, foram-se esvanecendo. Pois, chegara a hora de lá voltar!...
Assim, a jornada deste dia teve duas partes, com a parte inicial destinada a levar-me até aos altos das Lamas de Modo. Saindo da Portela de Leonte, sobe-se a encosta pela velha calçada portuguesa, chegando à Chã de Carvalho e daqui segue-se para o Vidoal, tomando depois o carreiro na direcção do Colo da Preza. Verdadeira varanda natural sobre o Vale de Teixeira, é daqui que tomamos um carreiro que sobe, íngreme, e nos leva à Chã da Fonte, seguindo depois para as imediações da Fonte da Borrageirinha e descendo para a Gralheira. O percurso é conhecido de todos que deambulam com frequência por aquelas paragens, seguindo para a Lomba de Pau até chegar a um alto não muito longe do marco triangulado da Lomba de Pau que nos dá uma magnífica perspectiva da grandiosidade de parte da Serra do Gerês. Neste ponto, inicia-se a descida para o Curral do Conho e depois seguimos como se nos orientássemos para descer para Porto de Vacas. Porém, antes de iniciar a descida, vamos tomar em atenção um velho carreiro mariolado que segue a Nascente e nos leva às Lamas de Modo. Este carreiro vai desaparecer na turfeira mais abaixo, mas sabemos que temos de prosseguir para o fraguedo granítico que, entretanto, se eriça diante de nós.
Adiante, o carreiro vai surgir levemente delineando por entre as rochas que parece que se alinham para nos conduzir à crista rochosa que queremos atingir. Continuando a subir, não estamos longe do Cocão das Quebradas que se precipita sobre o Ribeiro do Porto de Vacas. Aliás, a paisagem nossa conhecida e que percorremos para chegar aos Prados da Messe, toma um novo aspecto. De facto, quando o nosso olhar se alarga entre o Vale do Porto de Vacas e os Prados da Messe passando pelas Albas e caindo de joelhos da brutalidade da rudeza granítica do Cantarelo, estamos perante algo de novo e imenso! Mais uma vez, a Serra do Gerês surpreende-nos com a sua altivez e nem se precisa de querer alargar para outras serras para ser o que é; grande, imensa, majestosa, única e eterna!
Se esta paisagem é de si só uma ode à sua sumptuosidade, o que nos espera à medida que vamos suprimindo os metros que nos faltam para os pontos mais altos, é uma verdadeira composição clássica digna dos mestres da ópera. A Meda de Rocalva ergue para lá da Mourisca e da Chã de Traz da Meda como um colosso na paisagem, como um gigantesco animal pré-histórico petrificado para todo o sempre. Por outro lado, Porta Roibas eleva-se como o último pilar antes do Reino Maravilhoso que nos espera no infinito da paisagem e as Velas Brancas são as paredes que guardam um mundo fantástico de profundos vales e prados como pequenos oásis na imensidão granítica.
Após longos minutos de uma contemplação transcendental, era hora do regresso e este foi encetado seguindo na direcção do Conho, mas depois descendo para Porto de Vacas e Prados da Messe, que foi o local de descanso e repasto. A parte final do percurso seguiu pela Lomba de Burro, Lameiro das Ruivas e Costa de Sabrosa, com os quilómetros finais a serem percorridos pela estrada florestal até à Portela de Leonte por onde circulou um imbecil que não se desviava por quem ali caminhava.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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