terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Serra do Gerês - A grandeza da quietude nos domínios de Fafião

 


Percorrer os velhos trilhos na Serra do Gerês é penetrar num mundo quase esquecido de histórias e paisagens únicas em Portugal. Não digo que são comparáveis a outras paisagens noutras paragens longínquas, pois estas paisagens estrangeiras não nos transmitem o orgulho na terra e imensidão da nossa alma.

O dia foi dedicado a voltar a paisagens familiares, mas nas quais a saudade já apertava. Ver os alcantilados dos Bicos Altos, a imensidão do Vale do Rio Laço, a robustez da Rocalva e o perfil majestoso da Roca Negra a coroar o Vale do Cando, é algo que - por muitas vezes que por lá se passe - nos enche a alma. Estes são os domínios de Fafião, resguardada na encosta sobranceira ao Cávado, onde o pulsar da serra se sente de uma forma intensa.


Nestas paragens "o passado chama" e o silêncio preenche a grandeza de uma quietude que nos acalma o ser. Por entre a solidão dos fraguedos, a brisa fria acalma a pele açoitada por um Sol quente de Outono. O restolhar dos passos leva-nos cada vez mais alto através dos carreiros seculares que serpenteiam por entre bosques e caóticos mares de granito.

De facto, a jornada começa no borburinho matinal do Arado e percorre o estradão florestal em direcção à Malhadoura e Curral dos Portos, prosseguindo para a Tribela e descendo à Ponte de Servas onde atravessámos o Rio do Conho. Subindo em direcção ao Curral de Pinhô a nossa visão é sempre atraída pela épica paisagem que embeleza o fundo do Vale do Rio Conho com a Roca de Pias, à direita, e a Roca Negra que parecem duas colunas que marcam a passagem para o Gerês profundo; dois gigantes que guardam a montanha.


Passando o Curral de Pinhô, enveredamos por um estradão em terra batida ladeado pela Roca de Pinhô, até atingirmos uma pequena represa. Um pouco mais à frente, entramos num caminho de pé posto junto a um grande sobreiro que nos irá fazer passar entre o Curral de Pousada e a Chã de Touro de Trigo, entrando no percurso do Trilho da Vezeira de Fafião. O caminho ladeia o alto do Tope Ruim e sobe de forma decidida para o Curral de Pradolã, deixando ver lá no fundo o mágico verde do Curral de Bicos Altos e os alcantilados dos Bicos Altos, imponentes a rasgar os céus!

Passando Pradolã, dirigimo-nos ao Estreito e à direita surge-nos a imensidão do Vale do Rio Laço num cenário que nos leva desde o topo de Arrocela (atrás de nós) passando pela Roca Negra, Rocalva, Iteiro d'Ovos, Porta Ruivas, Touça, Borrageiros e Palma. Toda uma grandeza só possível nestas montanhas se mostra, toda uma grandeza só possível nestas serras se altaneia! É este o Gerês! Puro, imenso! Único!

O caminho leva-nos ainda mais alto ladeando a Corga das Cerdeiras à esquerda e seguindo em direcção ao Curral de Vidoeirinho e depois, ladeando o Penedo das Cangas, chegamos ao icónico Curral de Rocalva guardado pela imensa meda rochosa que se eleva aos céus.

Após uma curta e merecida paragem, prossegue-se o caminho seguindo na direcção do Quinão do Meio para encetar a descida para o Curral do Cando resguardado no fundo do imenso vale «à sombra» do perfil majestoso do pilar granítico da Roca Negra. Para lá do curral, o caminho vai percorrer uma vertente do Vale do Cando, ganhando lentamente altitude para nos fazer chegar à encosta da Arrocela. Daqui, descemos para Coriscada e mais adiante, já depois de termos caminhado alguns metros num caminho florestal, volteamos para a Corga do Urso, descendo para a Ribeira de Giesteira que eventualmente irá desaguar no Rio Arado. Seguindo o carreiro, baixa-se para o Miradouro da Cascata do Arado e depois para a Ponte do Arado, terminando assim este passeio n''A grandeza da quietude'.

Algumas fotografias do dia...









































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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