As condições do acampamento mineiro vão-se degradando mas em 1966 ainda “se transitava de carro pelo Vale do Alto Homem. Nesta altura a mina estava já parada há vários anos e o único residente era um guarda já de idade avançada que dava pela alcunha de ‘Artilheiro’ que aparentemente nunca tinha ido ao Porto, tendo ido uma vez a Braga e meia dúzia de vezes às Caldas do Gerês, passando o resto de toda a sua vida na montanha” (por correspondência electrónica com Carlos Sousa a 11 de Dezembro de 2007).
No princípio de 1968 era desesperada a situação da Mason & Barry e em finais de Janeiro e princípios de Fevereiro estão a ser tomadas medidas para salvaguardar os interesses dos credores portugueses e ingleses. Em princípios de Fevereiro era apresentada nos tribunais ingleses uma petição para a liquidação compulsória da empresa. A decisão do tribunal de Chancery, Londres, seria na altura adiada por oito semanas para que uma comissão de inquérito pudesse avaliar o património da empresa para assim preparar um esquema compensatório para a liquidação das dívidas tanto em Portugal como em Inglaterra. A Mason & Barry’ seria declarada falida pela Câmara de Falências de Lisboa a 22 de Abril e sete dias depois dá-se comunicação deste facto ao Banco de Fomento Nacional que segundo a cláusula n.º 5 do contrato de empréstimo elaborado com o então Fundo de Fomento Nacional, gozava do privilégio imobiliário sobre a concessão mineira e instalações acessórias, além de outros bens imobiliários da sociedade. É então iniciado um processo de penhora em princípios de Dezembro com a Direcção-Geral das Contribuições e Impostos, através da sua Repartição de Finanças do Concelho de Montalegre, a solicitar a 5 de Dezembro à Direcção de Minas e Serviços Geológicos as informações relativas ao número de minas, denominações, localizações, número das concessões e valores cadastrais das minas pertencentes à Sociedade das Minas do Gerez, Lda. A resposta surge a 13 de Dezembro com o Chefe da Repartição das Finanças do Concelho de Montalegre a enumerar as referidas concessões e outros dados pretendidos. Na altura as concessões tinham um valor cadastral total de 1.124.472$00 dos quais 1.108.332$00 correspondiam à concessão do Salto do Lobo, 7.000$00 correspondiam à concessão da Corça das Negras n.º 1, 5.000$00 correspondiam à concessão do Castanheiro e 4.140$00 correspondiam à concessão da Lamalonga n.º 1.
Nesta altura a ‘Mason & Barry Lt.’ tinha propriedades em desenvolvimento no Algarve para além de interesses em minas portuguesas e mexicanas. Entre as suas subsidiárias em Portugal contavam-se a ‘Mason & Barry (construtores de embarcações) Lt.’ os Estaleiros Navais do Algarve, Lda., a ‘Mason & Barry (urbanizadores) Lt.’, a ‘Mason & Barry (construtores civis) Lt.’, a ‘Mason & Barry (agentes) Lt.’ Existindo também oito subsidiárias inglesas e uma mexicana (in ‘Diário de Lisboa’, Quarta-feira 7 de Fevereiro de 1968, pág. 12).
As Minas dos Carris, como já se constatou, não ficaram imunes aos acidentes de trabalho e muitos mineiros terão ficado com sequelas para toda a vida. Poucos terão sido os que procuraram compensações pelo duro trabalho e pelo facto de não lhes ter sido proporcionada a segurança necessária. Uma das excepções registadas foi o caso de António Fontes Maria da Costa que em consequência de um acidente ficou com incapacidade absoluta a partir de 8 de Janeiro de 1963 até à sua morte a 6 de Abril de 1965. Em 1965 a sua viúva, Maria Augusta Faria da Costa, interpôs um processo contra a Sociedade das Minas do Gerez, Lda. procurando uma indemnização pela incapacidade do marido. A Sociedade das Minas do Gerez e a companhia de seguros ‘A Mundial’ seriam condenadas a 8 de Julho de 1969 ao pagamento de uma indemnização devido pelo período de incapacidade de António Fontes e ao pagamento de uma pensão anual e vitalícia para a viúva e seus descendentes à altura do acidente. Em resultado desta condenação seria feita a penhora de “…um compressor, de grandes dimensões, de marca Air Pumps…” (segundo é descrito na certidão do auto de penhora datada de 28 de Julho de 1969) e de um outro mais pequeno que permaneceriam nas instalações mineiras entregues ao fiel depositário então nomeado na pessoa de José Alves Conde, guarda do complexo mineiro.
Nos anos 60 do século XX o complexo mineiro dos Carris é assim um silencioso conjunto de edifícios quase abandonados e guardados por uma presença que se tornará lendária até aos anos 80 / 90. É nesta altura que se inicia um processo de degradação dos edifícios e o complexo deixa de ser percorrido pelas dezenas ou centenas de pessoas que na década anterior o haviam transformado num complexo mineiro moderno e socialmente avançado. Ficam então as memórias de outros dias gravadas nas pedras.
Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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