sábado, 3 de dezembro de 2011

Trilhos seculares - Das brunas na Medela à vista das Fechinhas

Há já algum tempo que me apetecia fazer algo assim para cansar o corpo e ouvir-me a pensar no meio do imenso e ensurdecedor silêncio da montanha. Mesmo com a possibilidade de chuva, lá avancei para a Serra do Gerês.

Comecei a caminhar a partir da Portela de Leonte e depois de ajudar dois caminheiros que queriam ir aos Carris. Passados alguns minutos havia já abandonado o alcatrão e caminhava no vale do Rio Maceira. Sinais do porquinho aqui e ali, e como pareciam recentes mais valia estar alerta pelo mexer dos arbustos ou o roncar esclarecedor. Correr naquele caminho não seria muito eficaz com as pedras húmidas... era quase meio caminho andado para ficar com os dentes (meus) marcados no chão e o fundo das calças com (mais) um buraco. Seguindo caminho a minha dúvida era a de saber se conseguiria passar o Rio Maceira e se teria de voltar para trás. Afinal, o caudal era simpático e dali a pouco já estava no Curral de Maceira a contemplar o resto do vale... e a subida que me esperava!

Algumas fotos para registar as cores de Outono e toca a subir. Não me lembro de ter alguma vez subido esta encosta com um dia mais fresco. No topo do vale, pouco antes da Lomba de Pau, as nuvens iam turvando a paisagem e prometiam chuva. A subida foi-se fazendo com as usuais paragens para apreciar a paisagem e registar aquele momento, se bem que as máquinas não fazem isso... Chegado perto do Curral das Tábuas, toca a vestir uma nova camada que o vento sopra frio e um ou outro pingo de chuva vai caindo, porém nada para assustar. Sempre gostei das passagens estreitas na montanha, tal como a que existe depois das Tábuas para Carris de Maceira. O rebordo da rocha tapa-nos a visão e nunca sabemos o que estará para lá da volta do caminho.

Passado Carris de Maceira estava no topo da Ribeira do Porto das Vacas. Aqui tomei a decisão de prosseguir por esta corga e daqui chegar ao Conho. Fazendo a descida pelo velho trilho escondido por entre a vegetação, cruzei com o caminho para o Curral da Pedra e Prados da Messe. Nesta altura decidi seguir um outro caminho para ir ter ao Conho seguindo pela margem esquerda da ribeira. O trilho leva-nos a uma pequena zona de pastagem de onde saiam novas mariolas que se dirigiam para Oeste. Segui então na direcção do Conho, mas como a hora ainda permitia mais uns quilómetros extra, baixei para o vale de Fechinhas à vista das Velas Brancas e Porta Ruivas. Não cheguei a descer até ao Curral de Fechinhas e voltei para trás, chegando ao Conho minutos mais tarde para o repasto.

O caminho de regresso à Portela de Leonte levou-me pelo nevoeiro através da Lomba de Pau até à Chã da Fonte. Aqui, o nevoeiro levantou e proporcionou uma bela vista do Pé de Salgueiro. Continuando a descer passei a Freza e em pouco tempo estava no Vidoal, descendo depois para a Portela de Leonte.

Para terminar o texto, uma nota final sobre o estado do abrigo do Conho. Espanta-me como muita gente consegue «dizer» que uma garrafa de vidro vazia é mais pesada do que uma garrafa de vidro cheia. Em muitos dos currais e prados do Gerês encontramos lixo e não me interessa de que o leva, ou deixa, lá ficar. Serão «montanheiros», serão pastores. O que impressiona é o facto desse lixo lá ficar...













Fotografias © Rui C. Barbosa

2 comentários:

Lírio disse...

Olá Rui!

Mais um belo trilho!
Por pouco nos cruzávamos nesse dia, mas só no portela de leonte...onde já lá estava a tua viatura. Ficámos com a esperança de nos cruzarmos nas montanhas mas fomos calcorrear o lado oposto,mais os nossos dois cabritinhos, entre a Varziela e o Cabril!!Foi um dia bem passado e conseguimos chegar cá baixo antes da neblina nos apanhar, entretanto já tinhas partido :)

Um grande abraço!

Rui C. Barbosa disse...

Do outro lado do vale ainda tentei ver se dava com vocês, mas não consegui. Enquanto me preparava para sair de Leonte, ainda ouvi vozes de crianças... se soubesse que eram vocês teria esperado.

Abraço!