segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Trilhos seculares - O Curral da Pedra, o Curral de Bezerros e uma ruína

 


Esta foi uma caminhada para observar os pequenos detalhes de locais por onde se vai passando e deixando para mais tarde. O tempo vai passando e o «mais tarde» transforma-se em meses e anos, por vezes, levando ao esquecimento daquilo a que nos propomos fazer.

O objectivo era visitar e reavivar memórias do que já havia visto há muitos anos e assim segui serra acima começando na Portela de Leonte e encetando caminho em direcção ao Prado do Vidoal calcorreando a velha calçada que nos leva à Chã do Carvalho.





Pleno dia de Inverno, mas felizmente sem chuva, o céu tingia-se de um cinza pálido fruto da combinação de nuvens altas e das poeiras vindas do Norte de África. Logo desde o princípio, enquanto percorria as suaves vertentes do Outeiro Moço, um halo solar formava-se pelo efeito dos raios rasantes que àquela hora da manhã definiam num forte contraste os recortes da montanha. Aquele fenómeno iria acompanhar-me ao longo de todo o dia, criando cenários deveras interessantes.

Passando o Colo da Preza, segui em direcção à Chã da Fonte e depois à Fonte da Borrageirinha, descendo então para a Chã do Caçador à vista das Torrinheiras e do Alto do Borrageiro. O caminho seguiria então para a Lomba de Pau e para a maravilhosa varanda panorâmica antes da descida para o Curral do Conho. Banhada pela ténue luz matinal, a montanha mostrava-se em contrastes interessantes num jogo de pequenas sombras por entre a penedia.





A chegada ao Curral do Conho mostrou os efeitos da «recente» ventania no abrigo pastoril. Parte do telhado, já fragilizado, foi arrancado (de facto, uma parte seria projectada para dezenas de metros e cairia no caminho para o Porto de Vacas / Prados da Messe). Felizmente, o abrigo será reparado em breve, pois não tarda, as vezeiras terão de ir para a serra.

Sem parar no curral, segui então para o Porto de Vacas, atravessando o ribeiro e seguindo para o Curral da Pedra. Este curral surge antes da chegada aos Prados da Messe e é caracterizado pela presença de uma grande rocha no meio da chã. Esta mesma rocha foi em tempos utilizada como abrigo pastoril, formando uma pala que foi aproveitada e resguardada por um muro de pedra solta, agora coberto de vegetação e só discernível quando nos aproximamos do mesmo. A pala poderá ter sido abandonada quando o abrigo pastoril dos Prados da Messe terá sido melhorado, sendo então tomada pela vegetação e caído no esquecimento.





Após alguns minutos no Curral da Pedra, rumei em direcção ao Rendeiro, seguindo por velhos carreiros entre a vegetação e vendo, aqui e ali, velhas mariolas cobertas de líquenes que resistem à passagem dos dias. Estes caminhos, mais visíveis nestes dias de Inverno, vão sendo mantidos pelos animais que ainda por ali deambulam. Porém, em certas passagens, a vegetação começa a tomar o seu velho lugar de séculos.

Já no Rendeiro, surge a magnífica paisagem das Velas Brancas sobre o vale de Fechinhas e a passagem do muro quase que nos leva a sentir que estamos a entrar num Gerês mais «selvagem». O carreiro serpenteia por entre as rochas e a vegetação com o Ribeiro de Porto de Vacas a sussurras nas profundezas do vale que se curva em direcção a Fechinhas, Sombrosas e, mais adiante, Touça e Porto da Laje.




Bem assinalado por grandes (e pequenas) mariolas, o carreiro leva-nos a chegar a um vale já à vista de Porta Roibas; certamente que em tempos este pequeno vale terá tido um nome próprio, sendo agora esquecido dos homens (e muito mais dos mapas) e assim vou-lhe chamar "Corga de Bezerros", pois logo ali em baixo está o Curral de Bezerros. Situado numa encosta ligeiramente inclinada, o curral é limitado por um velho muro de pedra solta, tendo na sua maior extensão um comprimento de 57,1 metros (direcção N-S) e no sentido E-O um comprimento máximo de 30,9 metros. O seu abrigo pastoril está deslocado para fora do curral, encontrando-se a uma distância de 37,1 metros na direcção SSO. Este é um abrigo típico encontrado na Serra do Gerês, sendo construído em pedra solta e com falsa cúpula, não tendo já a sua cobertura de torrões de terra. A sua entrada está resguardada por um pequeno muro, encontrando parcialmente coberto de vegetação. Do Curral de Bezerros encontramos dois carreiros (já pouco definidos): um que segue em direcção a Porta Roibas e outro que segue em direcção a Fechinhas. Um outro carreiro levar-me-ia ao meu próximo e mais intrigante objectivo...

Seguindo pelo fundo da Corga de Bezerros, um ténue carreiro acompanha a margem direita do pequeno ribeiro, seguindo para Nascente. Com a vegetação, o carreiro pode tornar-se complicado de seguir, mas um olhar atento certamente que o vislumbra por entre a penedia. Chegando-se mais ao curso de água, ora afastando-se, o caminho vai levar-nos a passar não muito longe de uma peculiar ruína já quase totalmente tomada pela vegetação.





Notei pela primeira vez esta ruína quadrangular há já muitos anos, talvez em meados dos anos 90, numa das minhas primeiras jornada de longos dias pela Serra do Gerês. Desde então, aquela ruína ficou-me no baú das minhas primeiras memórias e desde então que me intriga pela sua localização e, principalmente, qual teria sido a sua utilização.

Ao atravessar o ribeiro, «saltou-me» à vista a disposição de três rochas que, em linha recta, pareciam formar um conjunto de poldras que permitam a passagem para a outra margem. Este pormenor interessante, juntamente com o tempo que terá sido despendido há imensos anos na construção daquele pequeno edifício, indica uma certa importância do mesmo. A ruína está a poucos metros do ribeiro e tem uma entrada. As paredes não terão (nesta altura) mais de um metros de altura e a sua cobertura poderá ter sido em madeira, não havendo, porém, qualquer vestígio que isso indique. A hipótese que levanto é a de que este pequeno abrigo, poderá ter sido utilizado por carvoeiros que por ali fabricavam carvão tirando partido da urze que por ali é abundante. Porém, tudo isto são conjecturas.

Tirando algumas fotografias da peculiar ruína, encetei então o regresso, seguindo para os Prados da Messe. Não querendo seguir pelo carreiro usual (que liga os Prados da Messe a Borrageiros), decidi tomar um outro caminho que me levaria à Chã do Cimo da Água da Pala e a passar no extremo Sul da Lomba do Cantarelo, descendo então para os Prados da Messe, onde finalmente teria o meu (já) merecido descanso.

A parte final da jornada iria levar-me de volta ao Porto de Vacas e Conho, seguindo então para a Lomba de Pau, Chã do Caçador e Chã da Fonte, antes de fazer um desvio pelo Enfragadouro para chegar ao Colo da Preza e seguir para o Vidoal, regressando então à Portela de Leonte.

Ficam algumas fotografias do dia...



































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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