Esta é a segunda edição de uma nova publicação mensal iniciada no blogue Carris no mês passado.
A ideia central é a participação dos leitores com uma fotografia e um texto relacionado com o Parque Nacional da Peneda-Gerês. A fotografia retratará um momento, uma paisagem ou uma sensação que foi especial para o leitor na sua jornada pelo nosso único parque nacional.
Para esta segunda edição, convidei o Luís Vendeirinho que iniciou as suas caminhadas pelo Parque Nacional em 1974. A paisagem que o Luís Vendeirinho escolheu, mostra-nos os Prados da Messe e tendo por base uma fotografia analógica de uma das suas primeiras visitas.
Nas suas palavras...
“45 anos decorridos, regresso à Messe. O carvalho, que me dera sombra nesse dia distante de 1974 e tão presente de comunhão, estava tombado no chão. Era a mim que anunciava o destino, um lapso de luz sob a eternidade onde pode caber a claridade de momentos felizes, o sabor indefinível do silêncio e das presenças inesperadas. E nos versos dados a ler dei-lhe voz, a voz que fala àqueles que escutam com a alma”.
Encontro-te adormecido numa palidez solene
Na inesperada horizontal que estava destinada
Nu, imóvel, enorme como ainda não vi,
Serias outro se eu não te conhecesse o sítio
Para reviver a tua sombra em dias quentes
Os restos de lenha nas noites de nevadas,
Agora é tristeza que cai sem que me ouças
Bem o dizes nessa nova e pobre condição
E eu fico, junto a uma pedra movida pelo chão,
À sombra das memórias de horas felizes
A pensar em ti, amigo como poucos têm,
Só os pastores para quem este quadro é natural
Dum carvalho tombado com descendência,
Agora vejo, aqui ao lado a herdar o reino
Distante doutros onde os homens cegam;
Não importa a ausência duma simples lápide
Da inscrição que conte a história da estátua
Porque a homenagem faço-a eu calado,
Vou regressar, prometo a mim mesmo
Ainda que não possa pelo meu pé cansado,
Não vou esquecer as conversas que tivemos,
Tu ao vento a murmurar, dia e noite
Eu em confissões, crente de sermos iguais
Nestas paragens distantes, um consolo
Difícil de entender pelos estrangeiros
Para quem muitos como tu são só tábuas,
Neste silêncio que vem do céu azul
Sinto que sobrevivemos; serás tu, ou serei eu?
In “Prédica aos Convertidos” (VII-1), Ed. Húmus 2024, Lv
Fotografia © Luís Vendeirinho (Todos os direitos reservados)
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