quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

A Mina Mercedes As Sombras

 


Vizinha das Minas dos Carris, a Mina das Sombras (Mina Mercedes As Sombras) tem uma história quase desconhecida.

Localizada dentro da Zona de Especial Protecção dos Valores Naturais do Parque Natural de Baixa Limia-Serra do Xurés, O complexo mineiro encontra-se "... na vertente oeste do Maciço Sobreiro – Altar dos Cabrões, a uma altitude de 1.250 m, nas fontes do rio de Vilameá. 

A mina compõe-se de várias extracções superficiais e de uma boca mina que se penetra da terra, com várias galerias a nível que avançam seguindo o filão. Primeiramente, as perfurações fizeram-se de forma individual e livre, com martelo e picareta. Mas a partir do ano 40 a situação regulariza-se, com a concessão da exploração a uma família de peso na época, os Tejada. Criaram uma companhia que modernizou as Sombras pouco a pouco, chegando a levar luz eléctrica. Construíram barracões para dormirem os trabalhadores e substituíram o martelo e a broca de grandes dimensões dos picadores, por um compressor para perfurar, dotando-os também de lanternas de iluminação.

O volume de tout-venant extraído era depositado numa vagoneta que o transportava à sala de lavagem e selecção. Ali dispunha-se numa mesa que o batia de forma constante ao mesmo tempo que tinha água corrente que arrastava a areia, e o mineral, mais pesado, ficava, passando a ser armazenado em sacos.

O trabalho realizava-se em dois turnos de 8 horas de Segunda a Sexta-feira, apesar de haver muitas denúncias de sobre-exploração. Nos anos posteriores à Grande Guerra a mina deixou de ser rentável e foi abandonada.

Na actualidade, o complexo está em ruínas, com a casa das máquinas desfeita e a boca da mina fechada com um tabique de bloqueio, restos de ferros, vidros, vigas, e três grandes entulheiras. Deve-se pensar nas Sombras como uma exploração menor se comparada com a sua vizinha dos Carris.”





Da instalação elétrica resta um edifício de transformadores, construído em tijolo revestido com argamassa de cimento. Imagens de 6 de Agosto de 2006.

O acesso ao interior das galerias está vedado com um gradeamento actualmente com o cadeado vandalizado. Caso se entre na galeria, deve-se ter especial cuidado na deslocação. Da mesma, deve-se ter cuidado na preservação das colónias de morcegos que habitam o seu interior, sendo uma zona protegida.

A zona do complexo mineiro foi sujeita a trabalho de limpeza e de ordenamento do espaço, preservando as ruínas e transformando-as no ponto de interesse no Parque Natural. Sofrendo de degradação e vandalismo ao longo dos anos desde o seu encerramento em 1976, é complexo é visto agora como ponto de histórico da região.

O complexo mineiro de As Sombras

Tal como acontece com muitos velhos complexos mineiros por toda a Espanha, também as Minas das Sombras foram transformadas num ponto de visita e de formação ambiental numa área protegida.

Além do seu interesse como local mineiro, onde se pode observar o tipo de jazida e vestígios de obras e instalações, é também um ponto de interesse geológico, para poder compreender a configuração da paisagem e observar a sua geomorfologia.




A boca mina fotografada a 6 de Agosto de 2006

A jazida foi descoberta em 1936, quando os afloramentos de veios começaram a ser explorados de forma rudimentar. A exploração subterrânea foi realizada entre 1952 e 1971. Em 1976 foram novamente realizados trabalhos de relavagem dos rejeitos para recuperação da scheelite que continham, uma vez que durante a exploração da mina maioritariamente se fez a exploração de volframite.

O Instituto Geológico e Mineiro de Espanha - IGME - (1978) indica que as operações mineiras nesta área começaram com as conceções “Mercedes 2ª” e “Extensão a Mercedes”, seguidas de outras realizadas em 1941 e início de 1942. Fruto da reunião de diversas concessões, localizadas na encosta da Serra do Xurés formou-se o grupo mineiro "As Sombras".


Boca mina fotografada a 12 de Abril de 2004

Segundo a informação acessível no Cadastro Mineiro da Galiza, em 2013, constata-se que todos os direitos mineiros que cobrem a área explorada da jazida e a sua envolvente, já caducaram.

A zona mineralizada d'As Sombras localiza-se no granito pórfiro do Gerês, sendo composto por megacristais de feldspato de potássio numa matriz de grãos médios a grossos. Estruturalmente, a fraturação NNW-SSE delimita os grandes corredores graníticos.

O IGME (1985) descreve o sítio mineiro como formado por um denso pacote de veios de quartzo e feldspato que se enquadram no granito do “batólito de Lovios-Gerês”. Estes veios formam uma faixa com o granito alterado que os contém, faixa com contactos nítidos e bem definidos. Esta estrutura mineralizada apresenta orientação quase norte-sul, com profundidade entre 2 e 3 m e comprimento superficialmente reconhecido de aproximadamente 1.100 m.

A mineralização é composta principalmente por volframite e scheelite, mas também há importantes teores de molibdenite e alguma cassiterite e bismutina. Localiza-se espalhado nos veios e nos contactos, e também no granito alterado que se encontra entre os veios, diminuindo sensivelmente em profundidade.


Acesso e boca mina fotografados a 17 de Maio de 2009


Na mina d'As Sombras existem diferentes corpos mineralizados, que podem fazer parte do mesmo processo genético. Por um lado, os veios e veios quartzo-feldspatos parecem derivar da solidificação do magma residual, com exsudação de uma fase aquosa silicatada nas fissuras iniciais. Devido às fracturas do granito encaixado, após a formação dos veios quartzo-feldspáticos, inicia-se um fenómeno de greisenização que prossegue com a abertura dos veios de quartzo até a deposição dos sulfetos.

Segundo os resultados das investigações realizadas pelas empresas Peñarroya-España e Minas de Almagrera, no início da década de 1980, foram avaliados recursos de 280.000 t de mineral com teores entre 0,5 e 0,89% de W03, dos quais mais de 75.000 t seria recuperável.

Na pequena estação de tratamento, existente na mina nos últimos tempos da sua actividade, foram extraídos um concentrado rico com 70% de W03, outro concentrado com 57% de W03, e alguns mistos com 20% de W03, 2,8%. S2Mo, 7,4% Sn02 e 2,7% Bi.

História da mineração

Os primeiros trabalhos de mineração na área consistiram em trabalhos superficiais em veios mineralizados e, a partir de 1952, foi realizada a exploração subterrânea. As obras mais antigas do tipo vala localizam-se na parte Norte da área trabalhada, e na parte sul está a dolina transversal que corta os pacotes de veios.


A planta de concentração gravimétrica fotografada a 24 de Agosto de 1995


Na parte Norte da área de trabalho podem ser identificadas algumas trincheiras mais ou menos contínuas, com menos de 2 m de largura, que acompanham o pacote de veios mineralizados numa extensão próxima de 200 m e seguem uma orientação submeridiana. A vegetação arbustiva esconde na maioria essas tarefas, tornando perigosa a sua abordagem. Demarcando as valas e imediatamente junto aos vestígios das antigas e novas instalações da central de concentração, encontram-se as principais lixeiras de resíduos grossos e finos resultantes da actividade mineira.
Na cota de 1.340 m, localiza-se a dolina transversal, com secção de 2 m de largura e até 4 m de altura, que dá acesso à obra. Foi explorado em vários níveis num troço de mais de 200 m e uma altura de cerca de 35 m. A exploração foi efectuada através de galerias de direcção e câmaras elevadas, para as zonas acima do nível de entrada, e através de contrafuros, galerias de direcção e câmaras de reentrância abaixo desse nível. As câmaras tinham 2 m de altura e largura igual à potência do pacote mineralizado. Entre as câmaras e a galeria foram deixados maciços no sentido que eram interligados a cada certa distância por drenos.



A exploração foi intermitente, devido, entre outros motivos, à dureza do clima. Por volta de 1976, foram feitas tentativas de acesso ao local mediante acessos feitos em cotas inferiores, para facilitar a entrada no inverno.

O conjunto foi transportado em carroças de ferro até uma pequena planta de concentração gravimétrica, localizada bem próxima à entrada da mina. Ainda se podem ver os restos da via-férrea por onde, em vagões, os resíduos eram levados da moderna central de concentração para a lixeira.
Texto adaptado de "Mina de As Sombras" (https://patrimonio.camaraminera.org/gl/lugar/mina-de-sombras)





As casas dos trabalhadores em ruínas. Era construída com paredes de alvenaria de granito de dimensões muito irregulares, desde grandes blocos até pequenas peças, com pouco encravamento. É ampliado com salas auxiliares anexas. Fotografias de 6 de Agosto de 2006



Dois aspectos do interior da galeria fotografados a 6 de Outubro de 2011


O complexo mineiro Mercedes As Sombras fotografado a 13 de Dezembro de 2023

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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