Com a chuva esperada para o dia seguinte, aproveitei este dia para conhecer alguns pontos de me têm literalmente «passado ao lado» nos últimos anos e para assinalar a curiosidade de um topónimo pelas terras de Fafião.
Assim, o objectivo desta caminhada era o de chegar ao alto de Pradolã e ver o seu marco triangulado e passar pelo Tope Ruim próximo do Curral de Pousada. Na verdade, tudo locais que já tinha visto à distância, mas que a relativa preguiça do «aquilo não sai de lá, vou lá da próxima vez» havia empurrado pelo calendário fora durante meses e meses que se foram tornando anos.
As paisagens eram conhecidas, as perspectivas seriam novas e com este objectivo, deixei o estacionamento do Arado numa manhã tranquila, mas quente - demasiado quente - dirigindo-me pelo percurso habitual até Pinhô, isto é, ladeando os Cabelos de João Seda e passando pelo Curral de Malhadoura e pelo Curral dos Portos antes de chegar à Tribela. Aqui, volteei à esquerda em direcção à Ponte de Servas e, seguindo o traçado da Grande Rota da Peneda-Gerês, chegava a Pinhô.
A minha ideia seria seguir a Sul da Roca de Pinhô em direcção a Pousada, mas - recordando um velho carreiro - decidi enveredar a Oeste da Roca de Pinhô, seguindo pelas vertentes do Vale do Rio Conho, passando mais adiante sobre a encosta de Carvalhosa seguindo um carreiro que me levaria até às proximidades do Curral de Pinhô. O meu objectivo era o alto localizado ao lado do curral, seguindo então encosta acima e «descobrindo» um velho marco triangulado. Daqui a paisagem é magnífica, tal como os domínios de Fafião sempre nos habituaram. A imensidão das profundas corgas, a altivez dos píncaros graníticos e os alcantilados que foram muralhas de pedra quase intransponíveis, surgem-nos como um mosaico de emoções difíceis de compreender. Por muitas vezes que se vejam estes altos e estes vales, sempre nos vão surpreender quer seja com os seus jogos de luz, quer seja pela sua imensidão que nos emociona e comove. Mais uma vez, teremos de inventar novas palavras na nossa língua para descrever aquilo que vemos e sentimos.
São estas paisagens que nos mostram que não precisamos de usar a imbecil comparação ou epítetos de locais estrangeiros para valorizar o que é nosso. Ou então, façam-no ao contrário!
O alto de Pradolã mostra-nos a grandeza da Arrocela, da Roca Negra, da Rocalva e do Iteiro d'Ovos! Mostra-nos a profundidade de Entre Águas vista desde as alturas e o colosso de Borrageiros que espreita à distância; mostra-nos a grandeza do Vale do Cávado e a beleza das pequenas aldeias que povoam estas serras. Tudo é imenso, tudo é grande!
Deixando para trás o alto de Pradolã, encetei então na busca do Tope Ruim. Topónimo peculiar localizado num local não muito elevado se tivermos em conta os altos que o rodeiam. No entanto, estando localizado sobre o Curral de Pousada, seria sempre um bom local para «topar» os animais que ali abrigavam, apesar de ser ruim de lá chegar (obrigado Pedro Casinhas!).
O regresso foi feito em parte do Trilho da Vezeira de Fafião, enveredando depois na direcção de Pinhô e seguindo até Tribela. Aqui fiz uma pequena busca por um dos próximos objectivos, a Cruz de Tribela, que fica para uma próxima oportunidade...
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
5 comentários:
Interessante. Excelente descrição por alguém que deve conhecer bem o Gerês.
Olá caro Rui.. gostava de lhe perguntar quantos km e que você percorre num dia.. digamos moderado? E já agora se este trilho e coincidente com o poço azul ou pelo menos perto
Olá!
Depende do percurso que deseje fazer, mas por vezes ando à volta dos 15/20 km por dia.
Sim, corresponde entre o Arado e Pinhô.
Obrigado pela resposta. Vou tentar fazer só com a descrição. Mas sabendo que os trilhos que você faz são quase sempre de " pé posto" é muito puxado.. para ir andando e apalpando passe a expressão. Mesmo conhecendo.. enfim muitos parabéns e obrigado por responder
Que descrição maravilhosa!
"A imensidão das profundas corgas, a altivez dos píncaros graníticos e os alcantilados que foram muralhas de pedra quase intransponíveis, surgem-nos como um mosaico de emoções difíceis de compreender. Por muitas vezes que se vejam estes altos e estes vales, sempre nos vão surpreender quer seja com os seus jogos de luz, quer seja pela sua imensidão que nos emociona e comove. Mais uma vez, teremos de inventar novas palavras na nossa língua para descrever aquilo que vemos e sentimos."
Parece um poema que, para quem já teve a oportunidade de percorrer algumas das serranias geresianas, atravessa todo o corpo e nos arrepia, como uma sinfonia de sons, aromas e visões de um paraíso que tem tanto de belo como de inóspito, forte e rude, à distância, harmonioso e delicado, quando nele nos deleitamos…
O Gerês vê-se, o Gerês sente-se, o Gerês vive-se! De uma forma tão profunda e marcante que aqueles que percorreram as suas entranhas jamais conseguirão esquecer.
Muito obrigado por me levares de volta tantas vezes e de forma tão sentida!
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