quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Grande Cometa de 1882 visto nos céus do Gerês


A riqueza da «descoberta» das pequenas coisas está gravada a tinta nas páginas amarelecidas dos antigos textos que estão guardados e quase esquecidos em muitas bibliotecas. São pequenos detalhes, topónimos ou pequenas histórias e relatos que nos fazem deslumbrar e sonhar.

Um destes textos são os relatos de Hermenegildo Capello e Leonardo Torres que visitaram a Serra do Gerês em Setembro de 1882 e que descrevem em poucas palavras a observação do Grande Cometa de 1882 na manhã do dia 19 de Setembro nos céus da então mais selvagem serra de Portugal...

"Foi pouco fertil em successos esta excursão, cujo objectivo era principalmente a observação na Borrageira, podendo dizer-se que o terreno é em geral ascendível a não ser no ponto denominado Pedras Ruivas, que se torna um pouco mais difficil e accidentado.

Foi n'este ponto que observámos o cometa, podendo esconder nos aos raios solares e deixar separado o astro que assim se observava com admiravel nitidez, se bem nos recordâmos, eram oito horas e quarenta e cinco minutos da manhã."

O Grande Cometa de 1882 foi um cometa que ficou muito brilhante em Setembro desse ano. O cometa ficou brilhante o suficiente para ser visível ao lado do Sol durante o dia no seu periélio.

O cometa apareceu de repente no céu da manhã do mês de Setembro 1882, tendo sido descoberto independentemente por muitas pessoas. Os relatórios sugerem que foi visto pela primeira vez já a 1 de Setembro, a partir do Cabo da Boa Esperança, bem como o Golfo da Guiné, e ao longo dos dias seguintes, muitos observadores no Hemisfério Sul relataram o novo cometa.

O primeiro astrónomo a registar observações do cometa foi W.H. Finlay, chefe assistente no Observatório Real, na Cidade do Cabo - África do Sul, a 7 de Setembro.

Curiosamente,  o astrónomo escocês David Gill, observou o cometa elevar-se alguns minutos antes do Sol no dia 18 de Setembro (no dia anterior à observação de Hermenegildo Capello e Leonardo Torres), e descreveu-o como tendo um núcleo "(...) indubitavelmente único e, certamente, em vez sob a mais de 4" de diâmetro; na verdade, como eu descrevi, que se assemelhava muito a uma estrela de primeira magnitude vista à luz do dia".

Hermenegildo Capello e Leonardo Torres não registaram fotograficamente o cometa, daí a imagem em cima ser de arquivo, mas mostrando o cometa visto da Cidade do Cabo e fotografado por David Gill.

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