Um texto de Pedro Balaia
No aproximar do Verão, os “artigos jornalísticos” sobre actividades ao ar livre florescem na comunicação social prometendo programas perfeitos a realizar nas férias ou naquele fim de semana prolongado. O suplemento que acompanha o teu jornal preferido, trará com certeza uma lista das “5 melhores cascatas” ou dos “10 melhores trilhos” a visitar este Verão.
Nos últimos anos, um novo herói surge nos meses de Estio, o Gerês! Serra mítica no Norte de Portugal e parte integrante do único Parque Nacional em Portugal, o Gerês é, agora, um local incontornável para a realização de actividades ao ar livre.
O Gerês é uma das quatro serras que forma o PNPG, sendo as restantes a Serra Amarela, a Serra do Soajo e a Serra da Peneda.
Como o reino do Prestes João no Sec. XV, o mito do Gerês das lagoas e cascatas é procurado incessantemente, buscam-se piscinas naturais (secas durante o Verão), buscam-se cascatas onde a agua brilhante e cristalina cria arco-íris infinitos (secas durante o Verão) e acredita-se que se vão encontrar um infindável número de animais e que estes nos vem comer à mão tal qual o Badoca Safari Park.
Os mitos nascem, mas não devem ser alimentados irresponsavelmente e cabe ao PNPG (a saber: Parque Nacional da Peneda-Gerês gerido pelo ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e Florestas) suprimir o vazio institucional e informativo oficial.
Nesse vazio institucional, nascem agora as paginas de Facebook.
Estas paginas, criadas sabe-se lá com que objectivo, se por vaidade ou se por irresponsabilidade, tem apenas um resultado, a asneira. Criam a ideia que tudo é acessível a toda a gente, vulgarizam as dificuldades de alguns trajectos e borrifam-se para as regras e leis do PNPG, originando assim que todos os anos tenhamos pessoas a iniciar trilhos de chinelos de praia ou sandálias de tacão alto (verídico) para ir “ali a cima à lagoa”, todos os anos são multadas pessoas em centenas de euros por estarem ou percorrerem zonas de protecção total e só iam “ali a cima à lagoa”, todos os anos aumenta o número de casos de resgates por negligência (por exemplo aqui) porque as pessoas iam só “ali a cima à lagoa” e passaram a noite ao relento e são depois internadas nos hospitais com hipotermia (sim, no verão também).
Saliento apenas que no PNPG existem 5 zonas de visitação possível, zonas de protecção total e zonas de protecção parcial I e II, todas sujeitas a autorização por parte do ICNF, seja pela sua valiosa biodiversidade ou seja pela perigosidade que o local possa apresentar, além das zonas protecção complementar de tipo I e II, estas já em ambiente rural. Tudo compilado no Plano de Ordenamento e na carta de Desporto de Natureza.
Não existe nenhuma pagina oficial sobre o PNPG / ICNF no Facebook.
A única informação oficial sobre o PNPG e qualquer outra aérea protegida, assim como as condições de visitação, trilhos marcados, ficheiros para GPS e respectivas restrições ou proibições, podem encontra-la aqui: http://www2.icnf.pt/portal/turnatur/visit-ap ou fisicamente na sede do PNPG na Avenida António Macedo, 4700-538 Braga (253203480).
Algumas dessas paginas também nos convidam a participar em caminhadas organizadas, guiadas por alguém e que por uma quantia pequena de € 7.50 ou € 10.00 nos proporcionam um dia bem passado (as vezes até dá direito a uma sandes!). O turismo de Natureza no PNPG ou em qualquer outra aérea protegida tem regras e regulamenta as empresas que podem e tem condições para operar nas AP’s. Essas empresas são licenciadas e tem de ser obrigatoriamente autorizadas pelo Turismo de Portugal com um nr de registo com o formato RNAAT: xxx/2018.
Estas empresas pagam uma licença anual ao ICNF e são sujeitas a impostos como eu e tu, o tipo dos € 7.50, além de te enganar porque não é um guia acreditado como se anuncia e não tem seguro como anuncia também, não paga nada a ninguém, é um génio!
Aliar estas paginas ao jornalismo de algibeira que consumimos actualmente dá origem a artigos como este: https://4men.pt/treino/geres-esconde-passadico-entre-cascatas/ Sistelo fica na Serra da Peneda…
Não fomentes este mercado negro de irresponsáveis!
Existem varias formas de visitar o PNPG, a mais fácil e correcta é sem sombra de duvidas, a contratação de um guia numa empresa certificada. É como quando querem andar de barco, de certeza não vão arrancar com o bote da marina sem saber conduzir, vão contratar também quem o saiba conduzir. Outra forma é pelos meios próprios, mas aí com experiência necessária de montanhismo, equipamento apropriado e sempre cumprindo as regras e elas existem, para todos.
Fotografia © Rui C. Barbosa (todos os direitos reservados)
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