sábado, 20 de janeiro de 2018

Casa Abrigo do Académico F. Clube - apenas mais uma ruína


Não sei como descrever aquilo que senti ao ver o estado em que chegou a antiga Casa Abrigo do Académico F. Clube que existe (resiste) na Mata de Albergaria, Serra do Gerês.

No fundo já nem vou responsabilizar o Parque Nacional da Peneda-Gerês, e por consequência o Estado Português, pelo estado tristemente miserável a que este edifício chegou. É simplesmente deplorável que decisões passadas levem a este resultado. Não me espanta, é apenas o reflexo daquilo que somos como país e como sociedade... sem consciência histórica e patrimonial.

Somos todos responsáveis, de uma forma ou de outra... Somos responsáveis por algures pelo caminho termos deixado de nos interessar (ou será que alguma vez nos interessamos) por situações como esta. Somos responsáveis por não exigir mais, somos responsáveis porque nos cansamos de apontar o dedo e de gritar bem alto que não queremos pessoas que tomem decisões que levem a este resultado. Somos responsáveis por não tomarmos as rédeas e resolvermos nós estes problemas! Devemos exigir a excelência de quem nos governa e de quem toma decisões - ficamos contentes por sermos governados por medíocres e assim assumir que também o somos...

Assim, e como as imagens mostram, a Casa Abrigo do Académico F. Clube é apenas mais uma ruína no meio de uma paisagem arruinada...








Recordo aqui um texto escrito em Março de 2014, mas que não deixa de se aplicar como uma luva à situação em questão... A tomada popular das Casas Florestais - um imperativo.

Quem não estuda a História corre o sério risco de a ver repetir-se. Se analisarmos em larga escala os sinais que nos nossos dias nos espreitam através dos recantos obscuros dos media controlados, veremos que os sinais estão todos aí.

Recentemente, o Governo apresentou na Assembleia da República uma proposta de lei que visa transformar os baldios em bens privados, eliminando assim os últimos resquícios de comunitarismo que estas parcelas comunitárias de natureza colectiva representam.

Este é mais um passo na destruição do usufruto popular dos nossos meios rurais e florestais. E isto não se aplica somente às populações locais, pois o ataque surge em larga escala ao limitar o nosso acesso a muitas áreas protegidas.

Em consequência deste longo ataque, as nossas florestas transformam-se em espaços desorganizados e vítimas fáceis dos vorazes fogos estivais com a sua consequente transformação em zonas de plantação de eucalipto tão celeremente aprovada pelo actual Governo.

Uma outra consequência destas políticas foi o abandono das Casas Florestais e dos espaços abrangentes. A extinção da figura do Guarda Florestal, verdadeiro zelador da floresta, abriu a porta à desordem da floresta e posteriormente ao abandono e vandalismo de um património que hoje se vai degradando a cada dia.

Em termos patrimoniais, o abandono das Casas Florestais constitui um crime perpetrado aos olhos de todos pelo Estado! Assim, é urgente que se tomem medidas para evitar esta degradação e recuperar este património, transformando-o numa mais valia para as populações locais.

Assim, e na ausência de uma atitude por parte da tutela que resolva esta situação, é um imperativo que haja uma tomada deste património por parte das populações que se devem unir e reclamar a posse destes edifícios. Devem-se constituir comissões populares que discutam entre todos o melhor destino a dar cada edifício, evitando assim a sua perda e com ele podendo retirar o proveito através do qual possam melhorar a sua vida!

A tomada popular das Casas Florestais é um imperativo, um passo na recuperação das nossas florestas e espaços rurais!

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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