terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Trilhos seculares - Floresta de véus


Incursão invernal na Serra do Gerês com uma caminhada por entre as sombras do dia e os véus de cobriam a montanha. Na verdade, a ideia era tentar encontrar a neve que os deuses tanto prometiam, acabamos por encontrar um dia cinzento empurrado para os mundos de Tolkien.

A caminhada começou na Portela de Leonte e seguiu pelo usual acesso ao Vidoal. Pelo caminho, e à medida que o Pé de Cabril se afundava no vale, íamos penetrando num cenário que pequenas cascatas que nos acompanhou durante toda a curta jornada. Nestes dias, o Gerês fende-se para deixar sair a água que se acumula nas entranhas da Terra. A subida até ao Vidoal leva-nos a percorrer por troços lageados, testemunhos da secular presença do Homem na montanha que a formatou à sua passagem. Em tempos, e nos nossos dias, estes caminhos são a passagem para as pastagens de altitude utilizadas nas vezeiras. A subida torna-se penosa aos mais despercebidos e pouco habituados a estas andanças, mas no fim a recompensa é avassaladora. E é o sempre mesmo em dias onde as nuvens se transformam numa floresta de véus que nos impede a visão de abarcar distâncias mais amplas.



Pouco antes de chegar ao Vidoal, uma pequena chã granítica permite-nos uma olhadela sobre o vale que se alonga até à Portela do Homem. Escondido por entre a vegetação e os pináculos graníticos, vislumbra-se o pequeno Curral de Cubatos e logo a seguir no campo de visão, mas um pouco ofuscado pela neblina persistente, a Corneda assinada um ponto elevado após a subida de Maceira.

Sem o encanto da luz solar que o faz brilhar e transformar numa paisagem alpina, o Curral de Vidoal apresenta-se verdejante com a sua grande mariola e o seu abrigo moldado contra a parede de Lavadouros. A paisagem faz-nos logo lembrar os dias mais negros de Frodo e Sam a caminho do seu destino final, e todo este cenário é sublinhado por um vento cinematográfico que nos quase transporta para o interior de uma aventura que desconhecemos.

Caminhando por entre paisagens conhecidas, chegamos à Preza e aqui descemos para o Curral do Junco. Este curral encontra-se mesmo no limite do antigo perímetro do Gerês Florestal e é com curiosidade que antes de chegar ao curral ainda se observa um secular marco que limitava este perímetro. Os marcos são facilmente reconhecíveis podendo também ser observados na Pedra Bela (cruzamento), na Preza e a caminho das Albas após passar pela Lomba de Pau.
O nosso destino era agora o Curral da Raiz no qual surgiria o descanso no seu recuperado abrigo. Esta curta incursão nas serranias geresianas ainda nos iria levar a passar a Corga de Mourô em direcção ao Mourô e daqui seguimos pelos trilhos seculares até encontrar a nossa descida para a Portela de Leonte, seguindo a partir de certo ponto por uma derivação que nos colocaria na estrada florestal a pouca distância do ponto de partida.


Fotografias: © Rui C. Barbosa

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