sexta-feira, 12 de julho de 2013

A «vaca de cordas» em Terras de Bouro


De há vários anos para cá, Terras de Bouro tem-se assumido como um destino turístico preferencial para milhares de portugueses e estrangeiros que escolhem aquelas paragens para os seus dias de férias e lazer.

O concelho tem tudo e muito para oferecer: boas paisagens, bom acolhimento e boa gente. Assim, Terras de Bouro é, como concelho, uma boa opção para estes dias de férias em opção a outros locais de Portugal nos quais o turista nacional foi escorraçado e descriminado ao longo de muitos anos.

No concelho de Terras de Bouro está situada uma parte importante da nossa primeira área protegida, o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG). Bastião da conservação da Natureza e da protecção das suas espécies, o PNPG é quase como que um ex-libris de Terras de Bouro, associado à riqueza termal das águas das Caldas do Gerês. Assim, Terras de Bouro respira Natureza e promove o são contacto com tudo o que dela faz parte... ou talvez não...

Impulsionado pelos interesses económicos de uma industria em decadência no nosso país, Terras de Bouro quis de há poucos anos para cá importar certas «tradições» que não se enquadram num concelho que quer promover a Natureza como o seu principal veio de subsistência. A inclusão da denominada «vaca de cordas» nos programas das festas concelhias é feita com o objectivo explícito de «trazer mais gente à terra», com alguns a argumentar que sem este evento as festas «não são o mesmo»...

Recordemos qual é a relação entre o homem e o gado bovino que existe em Terras de Bouro. Este concelho é palco de uma tradição anual na qual o gado é transferido das aldeias para as pastagens serranas num movimento de transumância único em Portugal. As denominadas "vezeiras" ocorrem de Maio a Setembro, e durante este período os animais pastam livremente nas serranias geresianas sendo guardadas de tempos a tempos pelos pastores das diferentes aldeias que integram determinadas vezeiras. Só quem alguma vez acompanhou a vezeira na sua ida para a serra é capaz de compreender a relação entre o homem e o animal. A expressão dos sentimentos que brotam dos pastores pelos seus animais, apesar de estes terem um futuro que lhes está predestinado à nascença, é totalmente oposto ao que acontece na «vaca das cordas».

Esta não é uma «tradição» de Terras de Bouro! O evento da «vaca das cordas» existe somente por interesse financeiro por parte de quem organiza e por parte de quem cede o animal que será maltratado nas ruas daquela vila. Não existe outra razão que justifique este evento... ou será que existe?

Por outro lado, costuma-se apontar o confronto entre a cidade e o campo quando se pretende de certa forma validar a ocorrência destes eventos onde a violência contra um animal é expressa aos olhos de todos. Este é um falso argumento até porque nos nossos dias, esta divisão entre cidade e campo torna-se ténue em locais com um certo índice de desenvolvimento como é o caso de Terras de Bouro.

A «vaca de cordas» é, segundo aqueles que nela fazem questão de participar, é demonstração de valentia e coragem. Eu diria que é uma pura expressão do bestialismo que é tão característico dos eventos tauromáquicos. O homem ao querer ser o meio exibicionista para conquistar a sua parceira, vê no animal um meio de posse que lhe origina as reacções características de um estado de excitamento sexual. Estamos assim perante um perfeito exemplo do denominado 'sadismo sexual' nos qual o indivíduo deriva excitação sexual do sofrimento psicológico ou físico (incluindo humilhação) do parceiro, neste caso o animal. Todos os elementos associados à touromaquia são característicos desta expressão associada a casos graves de transtorno da personalidade anti-social (a espada e as bandarilhas como elementos que são vistos como prolongamentos dos pequenos pénis dos toureiros, a capa que encobre os actos reprovados pela sociedade e que é adereço de uma dança de acasalamento entre o homem e o animal, todas as vestes confeccionadas para exibir entre os homens e para as mulheres os apêndices sexuais excitados pelos actos de parafilia, os forcados que em grupo compartilham os seus impulsos sádicos com parceiros em plena expressão sadomasoquista, e finalmente o sangue do animal ferido e moribundo totalmente dominado como que uma representação de um orgasmo no culminar do acto zoófilo).

Será que Terras de Bouro precisa da «vaca de cordas»?...

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