O singelo passeio começou com uma verdadeira «sonata catata» pela passarada em Leonte. Por entre a leve brisa matinal e o silêncio de não passarem carros àquela hora, ali fiquei prostrado uns longos minutos a escutar tamanha partitura. Continuando a caminhada, desci pela estrada nacional aproveitando um velho atalho aqui e ali. Passada a Cascata de Leonte que se mostra com um volume que faz lembrar o final da Primavera, uma pequena paragem para fotografar velhos slogans do Estado Novo "Fazer lume na mata é atentar contra a economia nacional"... outros tempos, mas a frase é mais actual do que nunca. Logo após a Fonte da Cantina, enveredei por um velho caminho que cheio de vontade vai vencendo o declive. Entramos então numa floresta encantada que nos proporciona, no nosso horizonte limitado, a vontade de procurarmos por um duende perdido ou por uma fada marota. Porém, o mais provável será encontrarmos um javali zangado ou uma fugaz corça.
Os tons de verde vão-se sucedendo riscados pelos raios de Sol que vence a folhagem densa dos cedros. O caminho vai serpenteando pela floresta dando apertadas curvas que nos ajudam na subida. Ladeando grandes rochas, temos todos os sentidos despertos na busca de companhia que pode surgir a qualquer momento do arvoredo. Em silêncio, os nossos passos parecem quase de gigantes no chão suavemente coberto de folhagem caída. Os quadros bucólicos vão-se sucedendo: ora são grandes blocos graníticos cobertos de camadas sucessivas de musgo, ora é um cenário quase nórdico de cedros e pinheiros como agulhas apontando aos céus.
De repente o caminho fica bloqueado com ramos partidos ali colocados pelo homem para impedir a passagem do gado. É como uma fronteira que marca ali a passagem do bosque para uma paisagem serrana de vegetação rasteira... e muito calor. Agora acima da floresta os horizontes abrangem o espigão do Pé de Cabril ali tão perto rasgando os céus. O Vale do Rio Gerês vai-se abrindo nas nossas costas à medida que se aproxima a primeira paragem, o Curral da Raiz. Este curral é característico pelos dois carvalhos que marcam a paisagem e pelo seu abrigo recentemente recuperado. Este lugar bucólico permite uma fantástica vista sobre o vale do Gerês e o olhar percorre o lado poente do vale até à Serra Amarela com as antenas do Muro na Louriça a marcarem a paisagem.
Enquanto que fotografava o abrigo na Raiz, notei um interessante caminho que continuava para Sul. Naquela altura preparava-se para sair em direcção ao Camalhão, mas o prospecto de conhecer (mais) um novo caminho levou-me a mudar de ideias. rapidamente encontrei o início do caminho e após passar um dos afluentes da Ribeira da Cantina, «entrei» num mundo desconhecido com paisagens familiares. Este trilho deve ter sido um dos resultados das intervenções feitas pelo PNPG ao nível da silvicultura preventiva realizadas em 2010. Com a ideia de que o caminho me poderia levar para os lados do Curral da Lomba do Vidoeiro, era emocionante a ideia de ter novas perspectivas sobre o Vale do Rio Gerês. O caminho progride mais ou menos há mesma altitude (há mesma cota, diria o outro!) e deverá percorrer cerca de um quilómetro até terminar junto de uma simples construção que eu penso ser uma pequena silha resguardada junto de uma parece granítica. Esta «silha» estará na vertente Norte do que deve ser a Corga da Figueira que termina no Rio Gerês lá em baixo no vale. Infelizmente o trilho não me levou onde eu pensava que iria e tive de regressar ao ponto de partida na Raiz e aqui tomar um outro caminho que me levaria acima do Camalhão e depois ao Prado do Vidoal (Mourô). Daqui, o regresso à Portela de Leonte fez-se pelo trilho do costume.
Algumas imagens do dia...
Fotografias: © Rui C. Barbosa
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