sábado, 22 de janeiro de 2011

Trilhos Seculares - Cantarelo

O dia prometia 'aventura', pois era isso que se perguntava na SMS que enviei para os companheiros de caminhada. Foi 'aventura' que tivemos neste dia 21 de Janeiro (vésperas dos mártir S. Vicente), mas mais numa luta inglória contra o vento forte do que na torrente de emoções que se antevia com a perspactiva de uma soberba paisagem sobre o Vale do Rio Homem.

De facto, já a subida da Costa da Sabrosa é um bom tónico para os músculos das pernas. Com um dos declives mais acentuado que se pode vencer na Serra do Gerês, esta magnífica ascenção é um bom treino para futuras caminhadas. O dia apresentava-se frio e um pouco ventoso já a caminho entre Braga e as Caldas do Gerês. Os ramos e folhas espalhadas pelo chão, mostravam os efeitos de uma noite de muito vento tal como se constatava pelos comentários que aqui e ali se escutavam na quase desertas ruas da vila termal.

Pequeno-almoço no sítio do costumo e rumo para a Portela do Homem, onde preparo o material para a visita ao Cantarelo. Em tempos já havia conversado com o Paulo Figueiredo sobre qual cabeço de facto seria o Cantarelo... o que mais se aproxima do vale ou o que mais de aproxima dos Prados da Messe. As cartas topográficas não ajudam muito neste aspecto. Teria mais lógica ao falar-se em 'cabeço' que fosse o grande promontório granítico logo acima dos Prados Caveiros. Porém, o meu amigo Paulo apontava para um ponto mais elevado a meio caminho entre o vale e os prados. Uma conversa no Ramalhão no final do dia bastou para tirar as dúvidas e de facto o Paulo tinha razão, pois o Cantarelo é o ponto mais elevado naquela 'crista' que percorre o bordo dos Prados da Messe até ao Vale do Rio Homem.

Aquecidos pelo Sol d'Inverno, lá fomos vencendo o declive da Sabrosa. Em breve ultrapassavamos o caos granítico sobranceiro a Carris de Maceira e com os Prados Caveiros lá ao fundo, procuravamos as velhas mariolas que certamente nos levariam ao Cantarelo. Porém, desengane-se quem pensa que o caminho poderá ser fácil... não é que seja difícil, vou chamar-lhe 'complicado'. Mas 'complicado' porquê? Porque no Gerês caminha muita gente que gosta de fazer montinhos de pedras em locais onde estes não deveriam estar. Certamente fascinados com os montinhos de pedras das aventuras televisionadas dos escaladores nos Himalais, e eu compreendo que dê uma sensação de paz e de verdadeira presença num local muito especial, mas a verdade é que esses montinhos de pedras (e notam que não lhes chamo 'mariolas' de propósito) acabam por ser muito enganadoras para quem pretende seguir em determinada direcção. Já o grande Zé Moreira refere no seu Bordejar que "...as mariolas são úteis se souberes para onde queres ir!" Assim, espalhar montinhos de pedras «... a torto e direito pela serra...» pode ser tão 'criminoso' como roubar um sinal de trânsito. De facto, em vários locais encontravamos montinhos de pedras que não nos levavam a lado algum. Podiam ser velhas mariolas, é certo! Mas muitos outros vimos que nada ali faziam...

Assim, lá encontramos uma mariola aqui, um montinho de pedra ali e aos poucos nos fomos aproximando do nosso objectivo. Porém, nesta altura já os tímpanos estavam destroçados com o ribombar do vento nas curvas das orelhas. Com rajadas que certamente atingiram os 60 km/h ou 70 km/h, por vezes era complicado manter a direcção ou mesmo o equilíbrio. Com dificuldade em caminhar, atingíamos os píncaros dos bordos do Cantarelo e após um pequeno descanso no abrigo das reentrancias rochosas, lá fotografamos a ocasião para a posteridade, prometendo logo ali voltar em dia mais ameno. O vento não parecia um comboio, parecia mais um foguetão com um rugido intenso a caminho da órbita.

O regresso. Seguindo um caminho de pé-posto, fomos ladeado o Cantarelo e acabamos por almoçar nos Prados da Messe, regressando pelo Lombo do Burro até atingir de novo a Costa de Sabrosa por onde descemos sobre a paisagem de Albergaria.

Ficam algumas fotografias...





















Fotografias © Rui C. Barbosa

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