quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Carta Aberta ao PNPG sobre o estado da Casa do Clube Académico do Porto

Faço estas coisas talvez um pouco por ingenuidade, por acreditar que os problemas podiam ser facilmente resolvidos se na realidade houvesse interesse e boa vontade por parte do Estado e dos burocratas que tomam as decisões neste país. Infelizmente, não é assim...

Como não so dono de grandes sucatas, não tenho interesses em vender terrenos para aeroportos ou comboios, e muito menos acções num banco vígaro qualquer ou em ilhas remotas, sou muito pequenino para conseguir o que certamente seria bom para a maior parte daqueles que poderiam usufruir das instalações que o Estado (quando era Novo) construiu por essas matas e montanhas fora.

Na minha última passagem pela Mata de Albergaria fiquei arrepiado com o estado da Casa do Clube Académico do Porto. Não é que fosse novidade, mas ver o seu interior foi o motivo para mais tarde escrever isto... Como ainda acredito em algumas causas e como aquilo me estava a arder cá por dentro, tive de enviar uma carta aberta ao Parque Nacional da Peneda-Gerês sobre o assunto mesmo sabendo que parte da decisão não dependeria somente dele.

Talvez seja um defensor de causas perdidas, não sei! Mas sei que ficar calado não resolverá o assunto... e infelizmente, é este o mal de que este país vive agora... ficar calado e acomodado!

Assim, e por ser aberta, fica aqui a transcrição da carta que enviei ao PNPG...

"Ex.mos Senhores,

Em Dezembro de 2010 tive a oportunidade de caminhar pela Mata de Albergaria e seguindo a Geira Romana, passei junto do antigo abrigo de montanha do Clube Académico do Porto. Verdadeiro ex-líbris dos abrigos de montanha de Portugal, este edifício serviu de abrigo e para a formação de dezenas de pessoas ao longo dos anos.

Abandonado após a permuta com a Casa Abrigo da Junceda, o edifício foi deixado à mercê dos elementos e dos actos de vandalismo. O seu alpendre foi destruído, o seu telhado destruído foi pela queda de pesados galhos dos carvalhos seculares nas redondezas. A casa fica numa zona de passagem para quem segue a Geira Romana e para muitos que no Verão se deleitam nas frescas águas do Homem. Aquela ruína merecia um melhor destino e cuidado por parte do Estado.

Actualmente, e apesar de a sua porta estar fechada, o acesso ao seu interior faz-se pelas traseiras através das janelas cujas portadas estão abertas permitindo a entrada da humidade e das águas das chuvas, já para não falar daqueles que simplesmente entram para vandalizar e estragar o património que sendo do Estado é de todos nós, e que de forma criminosa é lançado ao abandono na esperança que o passar dos anos faça o resto do serviço.

Se o Estado nada pode fazer, deixem-nos fazer algo por este património e transformar aquele edifício como local de interpretação do Parque Nacional. Certamente que haverá muitos que gostarão de ajudar com o seu trabalho e seu tempo na preservação da nossa memória.

Assim, apelo para que sejam tomados os cuidados necessários para a preservação daquele edifício e que se comece pelo encerramento cuidado das suas janelas e pela limpeza do espaço circundante de todos os detritos e escombros resultantes da sua degradação natural e intencional. Se for necessário voluntários para essa tarefa terei todo o gosto em constituir um grupo de trabalho para o fazer.

Com os melhores cumprimentos,

Rui C. Barbosa"

Fotografia © Rui C. Barbosa

9 comentários:

jca disse...

Concordo plenamente contigo Rui.
Há que preservar e recuperar o que ainda resta da casa.
Tens aqui um voluntário.

José Carlos Callixto disse...

Em 1975 - já lá vão 35 anos!!! - acampei nesse local esplendoroso, junto à casa. O "parque de campismo" e a casa foram posteriormente abandonados, substituídos pelos do Vidoeiro ... e estas instalações ficaram ao abandono. É o espelho do país que temos, infelizmente. Concordo inteiramente com a carta aberta.
Um abraço.

joca disse...

Concordo contigo, não se compreende porque o PNPG deixa este património chegar a este estado

Formalmente não sei qual é o seu enquadramento e o PNPG ainda vai descobrir que se trata de uma construção ilegal e derrubar a casa.

Pior são ainda todas as outras casas dos antigos serviços florestais. Quanto clubes não aceitariam recuperar essas casas através de um contrato de x anos? Mesmo que isso tivesse outras obrigações. E não digam que é por razões ambientais, muitas dessas casas estão junto a estradas, outras estão junto a povoações, etc

DuK disse...

Eu diria que o proprio PNPG deveria efectuar o investimento e dai tirar os respectivos proveitos economicos em vez de tentar obtê-los por vias menos ortodoxas, tais como taxas e afins...

Bota Rota disse...

Um post muito oportuno!
Concordo com o DuK.
O Bota Rota apoia as eventuais intervenções necessárias para tornar aquele espaço digno do património do PNPG.
Abraço,
Jorge Sousa

Rui C. Barbosa disse...

Sem dúvida que a ideia do investimento é interessante e de facto deveria ser assim... No entanto, quando se sabe que o PNPG nem dinheiro tem para mandar cantar um cego, é um pouco complicado que as coisas ocorram dessa maneira!

DELFIM QUINTELA disse...

Em vez de ficarem nos gabinetes se viessem para o terreno muitas coisas iriam mudar !!!

Zé Cunha disse...

Subscrevo e estou ao dispor.

Lírio disse...

Há! Passei por lá no final de Dezembro!espreitei pela janela de trás e fiquei perplexa com o que vi! Está completamente deixada a quem a "quizer", não é de todos nem é de ninguém!
Ó Rui foi uma excelente ideia a tua de escrever a carta, aliás aproveito para dizer que até o próprio trilho estava em condições miseráveis, a mata precisa de ser limpa! Onde estão as equipas? O que fazem com as taxas que cobram no trajecto da Mata da Albergaria durante a época alta?! Está tudo tão mal aproveitado e abandonado! Ainda bem que gente como nós anda por lá para de vez em quando apanhar o lixo dos outros! Quantas vezes já fiz isso! quantas! estou cansada de gentinha de gabinete! Mais valia pagarem às pessoas da terra para dar solução ao PNPG que por vezes tenho a sensação que está esquecido...