sábado, 17 de janeiro de 2009

O que resta?

Carris, 28 de Fevereiro de 2006

Durante as longas três horas e meia de uma viagem de Alfa pendular, temos a oportunidade de pensar em muita coisa. Uma das questões que me assaltou o pensamento foi a seguinte: "Será o passado tudo o que resta às Minas dos Carris?"

Quando pensei nisto imaginei que ficasse um bom título para uma entrada neste blogue! Porém, a questão não tem nada de meramente superficial. Numa altura em que tanto se discute o Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês (POPNPG), isto é não sei se posso dizer que se discute pois parece-me que os únicos que ainda pensam nele são as populações do próprio parque porque as decisões essas já estão tomadas pelos que tudo decidem, gostava de meter a minha acha na fogueira e gritar bem alto "E então? Em que ficamos em relação aos Carris?"

As últimas voltas que o POPNPG tem dado não me surpreendem. Já há muito que não compreendia quando alguém me disse que o Director do parque nacional achava que era melhor as populações abandonarem os seus campos do que continuar a cultivá-los. Posições dogmáticas como esta não levam a nada num país como o nosso, nem aqui nem em lado nenhum. Tentar fazer do parque nacional uma coutada para turistas ricos e expulsar o elemento 'Homem' do alto da montanha é uma visão tão infeliz que nem merece ser comentada. Muitas vezes pergunto-me porque é que o estado gasta dinheiro na educação superior de alguns elementos e deixa-se desperdiçar outros. Não gosto de utilizar esta comparação, mas ter um PNPG autista perante as populações só pode levar a consequências muito graves que depois quando estivermos escondidos perante a capa de um outro instituto, de outro tacho governamental ou de uma qualquer ordem corporativista, não serão certamente assumidas e a culpa dos grandes acabará por morrer solteira.

Como em muitos aspectos da nossa sociedade lusitana, vamo-nos limitar a estar quietos. Vamo-nos limitar a actuar e a brandir aos céus quando talvez um dia a Mata da Albergaria não passe de um monte de cinzas fumegantes. Nesta altura não faltarão certamente as vozes que se irão levantar e dedos hirtos que irão apontar, mas certamente que terão a consciência suja pela vergonha de não assumir que um dia se poderia ter salvo aquele canto que em tempos de chamou Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Talvez as Minas dos Carris sejam uma memória do que o nosso único parque nacional um dia terá sido. Não penso que Lagrifa Mendes tivesse em vista este futuro para o PNPG. Somos peritos em delapidar o nosso património, parece que um dia alguém nos inoculou com a virose do anti-lusitanismo e nos obriga a ansiar o vem lá de fora. Infelizmente, não fomos capazes de escolher quem de melhor para nos governar... é o nosso triste fado! E aos poucos a Lusitânia vai morrendo bem como as suas memórias diluídas nos trilhos do tempo e ficaremos nós a pensar para onde vão as gotas que rapidamente percorrem a janela do comboio!?...

Para finalizar estas divagações... Se muitas vezes sou da opinião de que as ruínas de Carris deveriam ser recuperadas, receio qual o futuro ou destino lhes dariam após essa recuperação? Seria algo para todos os que amam a montanha e fazem dela parte das suas vidas ou estariam reservadas para aqueles capazes de pagar a estadia na montanha? Estando acessível a todos, será que seriam preservadas da forma como as instalações actuais o foram ao longo dos tempos pela gentalha que as destruiu?

Sinceramente, será o passado tudo o que resta às Minas dos Carris?...

Fotografia: © Rui C. Barbosa

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